"O destino aprontou uma trapaça com o general. Colega de João Figueiredo no Rio Grande do Sul, ele bateu o carro em que viajava justamente no dia em que seu grande amigo tomava posse na Presidência. O general gaúcho então entrou em coma e permaneceu desacordado durante mais de seis anos (...). Enfraquecido, ligado a aparelhos por tubos e sondas, o general lentamente descobre que o país mudou e seu amigo não é mais presidente. 'Me tira o tubo', diz ele, perplexo. 'Então eu não vou aproveitar nada?' O médico lhe diz que o presidente se chama José Sarney. 'Quem é esse general que eu não conheço? Ele não é da minha turma.' Ao receber a notícia de que Sarney é civil, o general repete o bordão: 'Me tira o tubo, me tira o tubo'."
Esse é o primeiro parágrafo de uma antiquíssima reportagem que encontrei, escaneada, na Internet. Antiga mesmo, pois se refere ao dia em que Jô Soares estreou seu novo personagem – o "amigo do João" – como "segunda-feira passada".
Eu me recordo vagamente do quadro, pois era muito criança. Mesmo sem entender o contexto, achava divertidíssimo quando o doente tentava arrancar os tubos. E já conseguia compreender que, ao final, quando ele dizia "então me deixa o tubo", isso significava que o país continuava a bandalheira de sempre.
A primeira coisa em que pensei, ontem, ao ver um pedacinho do noticiário, foi no "amigo do João". Aliás, eu imaginei a mim mesmo saindo de um coma de anos e sabendo que Lula, presidente da República, é "o cara", o "político mais influente do mundo", nas palavras do presidente dos Estados Unidos, por sinal um negro. E que além disso se cogita a possibilidade de o Brasil emprestar dinheiro para o FMI. Então eu grito:
– Me tira o tubo! Me tira o tubo!
É quando o médico, experiente, me apresenta os jornais com as últimas notícias do Congresso Nacional e de Belém, destacando a questão da saúde. Aí eu, aliviado, relaxo e, abrindo um sorriso cínico, digo:
– Então me deixa o tubo...
7 comentários:
brilhante post. Porém, é melhor deixar o tubo mesmo você não acha?
Fabio Barros.
Muito bom mestre. Precisamos de ti fora do tubo mesmo. Um grande abraço!
auhauhauhauhahh!!!
Ótima sacada, Yúdice!
Abraço
Yúdice, quantos milhões de tubos são necessários? E a quantos milhares de reais cada um?
Isso somos nós.
Adorei!
Ainda bem, Yúdice, acordaste nesses tempos mais luminosos. Pior seria se o tivesses feito no meio do governo Collor. Ou numa tapera da caatinga, no governo FHC. Bem, aí, certamente, não terias escrito o post, porque não terias outra opção que não fosse gritar: tirem o tubo!!! Rsrsrsrsrsrs.
Não consigo parar até agora de rir até agora com os comentários.
Dúcaraio!
Só vocês mesmo para embalar com alegria esse meu sábado modorrento de chuva.
Meus amigos, muitíssimo obrigado pela excelente recepção ao post. Mas, acima de tudo, obrigado por me fazer constatar que minha vida está valorizada fora de casa!
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