Minha filha completou onze meses ontem. Quando ela começar a se interessar por essas coisas, José Sarney já terá morrido, espero. Duciomar Costa será uma página virada e a polarização PT-PSDB/DEM terá implodido sobre o peso das próprias culpas. A economia mundial pode ter melhorado. O Brasil pode ter evoluído em termos de legislação e conquistas sociais concretas. Termos como "guerra fria" e as consequências da ditadura militar também estarão mais esvanecidos. Um mundo sem celulares, microcomputadores domésticos e comunicação rápida e algo barata será notícia histórica. E com um pouco de sorte, as obras do Ação Metrópole, do governo do Estado, já estarão concluídas.
Mesmo assim, será um mundo em que Barbalhos, Calheiros e outros protozoários do gênero continuarão à frente dos negócios da República. Duvido que o povo brasileiro finalmente compreenda o valor do voto no espaço de uma década e meia, mais ou menos. Duvido que o discurso de governabilidade a todo custo já tenha sido superado pelo presidente da República da época. Duvido que os empresários paraenses e suas cabeças mumificadas já tenham subido algum degrau além do papo furado do desenvolvimentismo de décadas atrás. Duvido que os nossos jornais já tenham aderido à preocupação de fazer jornalismo, acima de tudo, com ou sem diploma.
Duvido de tantas coisas que me preocupo demasiadamente com o mundo que se abrirá para ela, quando seus olhos sociais finalmente se fixarem na realidade. Espero, ao menos, ser capaz de lhe ensinar um pouco das velhas lições sobre honestidade que escutei dos meus antepassados e de pessoas valorosas que tive o privilégio de conhecer. Lições que, ao tempo em que me foram dadas, já eram velhas, porém repassadas com a firme convicção de que estavam corretas. E de que, como diz Caetano Veloso, o certo é saber que o certo é certo.
Espero que haja tempo de eu lhe falar dessas coisas, antes que ela não acredite mais em mim ou cogite, com sinceridade, de me internar em algum nosocômio para alienados mentais.
Mas, por enquanto, ainda tenho alguns anos de encantamento, inocência e fantasia. Que, se Deus quiser, saberemos aproveitar!
6 comentários:
Boa tarde, Yúdice:
Lindo texto.
Júlia cresce como um pé-de-milho, diria minha avó! Onze meses já!
Encante-se por e com ela, todos o dias dessa fatídica década e meia que você premoniza.
Minha neta completa oito anos esta semana, no mesmo dia em eu faço 60. E, quando o pai dela tinha 3 anos, em 1982, elegíamos, felizes da vida, o então deputado federal Jader Babaho, Governador do Pará!
Nenhum arrependimento. Só a constatação assustadora de que passados 28 anos, se contarmos esse prazo em 2010, Jader Barbalho ainda será a noiva da política do Pará!
Por isso, recomendo: curta a Júlia e alongue a década e meia para mudanças mais substanciais aqui na nossa terra...rsrsrs..
Abração.
Amigo,
Emocionante, teu texto. Belo na esperança de um mundo algo melhor, na desesperança da constatação triste de que muito desse nosso mundo ruim continuará na mesma e na firme convicção da beleza do teu rebento. Bacana mesmo.
Em uma coisa acho que podemos também acreditar: neste tempo previsto ainda existirão pessoas valorosas, que por aqui estarão para passar lições de ética, amor ao próximo e solidariedade. A humanidade tem conseguido, há milênios, se renovar; não será em 15 anos que tudo acabará.
Abraço fraterno.
Aproveito o ensejo, Bia, para dizer que estava com muita saudade de ti, posto que há tempos não nos esbarrávamos por estas sendas virtuais. E ainda mereci um comentário tão gentil.
Se Júlia cresce como um pé de milho, só espero que ela não comece a pipocar cedo demais!
Interessante essa tua postura serena quanto a ter votado, acreditando, num homem que hoje é referência do mal. Acreditar é importante. De certa forma, algo vital. Passei por isso a meu modo, votando em Almir Gabriel e em Fernando Henrique Cardoso. Mas ao contrário de ti, meu arrependimento é grande. Tanto que não repeti o mau passo.
Abraços fortes.
Francisco, vivo esta contradição entre ter esperança e ser desesperançado. Acho que tem a ver com a necessidade dos seres humanos de contar com dias mulheres. Se assim não fosse, a vida se tornaria muito difícil.
É um alento saber que essas boas pessoas sempre estarãopor aí. Ouso crer que elas continuarão sendo valorizadas.
Abraços igualmente fraternos.
Yúdice,
Olha o ato falho!
"...necessidade dos seres humanos de contar com dias MULHERES..."
Concordo com você.
Belíssimos dias!
Abraço, Wagner
Ahahahahahahahahahah!!
Esse é o erro mais bacana que já cometi. Claro que não vou corrigir!
Obrigado por me chamar a atenção!
Caro Yúdice,
andei afastada da web, não de vocês. Mas estou retornando aos poucos...
Quanto aos enganos cometidos, no campo do "votar em quem", tenho um a menos que você: FHC nunca viu meu voto..hehehe...
Abração(ainda rindo...rsrsrs...)
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