Não sou da área de segurança pública e, bem a propósito, na semana passada especialistas debateram os problemas e as soluções para o tema, em uma conferência estadual destinada a este fim.
No entanto, uma dúvida me assola, na qualidade de cidadão e usuário do serviço público: milícias armadas não deixaram de ser um fenômeno regionalizado? Ouve-se falar de milícias em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, fora nosso dia-a-dia paraense. Estes grupos armados, matadores de bandidos, provavelmente proliferam também em outros centros, tão ou um pouco menos fora da mídia nacional quanto Nova Délhi (© Juvêncio de Arruda). Não seria a hora de estudar um eventual liame, formal ou não, deliberado ou involuntário, entre eles, e formular uma política nacional de combate a este tipo de crime? Ou isto é mera coincidência?
Neste ramo, o vulgo faz crer que não exista acaso. E não deve mesmo existir.
5 comentários:
Prezado Francisco,
Aqui não tem milícias por uma razão simples: não é preciso.
Aqui houve uma subinstitucionalização dos serviços privados de segurança prestados por policiais e bombeiros militares, muitas vezes arregimentados por superiores - inclusive oficiais - e, por muito tempo, com o ostensivo incentivo deles, sob o argumento de que esses "bicos" eram uma forma de suplementar o soldo. O discurso subliminar era o seguinte: fazendo segurança privada os policiais reduzem a pressão por melhores soldos.
Não são poucos os casos em que esses policiais vão à Justiça do Trabalho reclamar o reconhecimento do contrato de emprego com farmácias, supermercados, açougues e transportadoras (e pelo menos um caso muito conhecido de dono de jornal).
Agora, como era de se esperar e prever, eles passaram a fazer outros "serviços".
Com base no que conheço pelos processos que julgo na Justiça do Trabalho e pelo que leio nos jornais e blogs, fiz um comentário extenso sobre isso no Quinta Emenda.
Aqui não precisa de milícia porque, como disse Juvêncio, a PM é, não raro, a própria milícia.
Caro Alencar,
Li teu excelente comentário no Quinta Emenda. Não sei se há um conceito acadêmico para o termo "milícia", mas a situação existente em Belém me parece muito parecida com aquela que ocorre nos morros cariocas, descrita pela mídia nacional. Por isso o uso do conceito.
Lembro que há um tempo atrás - salvo engano, no 1o semestre do ano passado - uma mílicia, assim mesmo denominada, com base em Icoaraci foi desbaratada pelas Polícias Estaduais. Até um magistrado foi acusado de participar do grupo paramilitar. É certamente a corruptela, ou a evolução (se assim se pode chamar) destes tempos "românticos" em que PMs só faziam vigilância privada.
No noticiário, por outra, o que me espanta é esta coincidência temporal na atuação de bandos armados, em diferentes estados da Federação, sob verdadeira inspiração mafiosa. Espanta e aterroriza.
Abração.
Bom dia, caros Francisco e Alencar,
entendo que as milícias (de-folga-da farda e sem farda) são subprodutos da barbárie que cevamos como nação atrasada. E compreendo barbárie, neste comentário, como a fotografia da franja cada vez mais difusa dos excluídos. Difusa porque se são alçados da linha da pobreza por uma elevação da renda (via Bolsa Família ou aumento do salário mínimo, que, na realidade é muito mais significativo do que a BF), penduram-se na "franja" , no que se refere aos direitos, além, do frango de domingo uma vez por mês na mesa. A eles não se garante educação, acesso à saúde, moradia digna, transporte público humanizado ou trabalho que fortaleça e dignifique a cidadania. Ficam ali, quietos, exercendo sua sub-cidadania, com direito ao brega do fim-de-semana e uma morte ou outra por desavença da cachaça. Esse é o cotidiano otimista.
A farda a soldo dos que podem pagar não é fenômeno nosso, pois são bem antigos os péssimos exemplos que São Paulo - com menos estardalhaço mas de forma muito mais sólida do que o Rio - dá há décadas à nação e ainda que discorde das "milícias" que estão "cumprindo" o vácuo da segurança pública, servindo aos seus senhores, protegendo que pode pagar, preocupa-me mais a guerra visível comandada pelo tráfico E aqui, caro Francisco, para mim, está o fenômeno nacional, que pode e tem que ser combatido pelas forças federais.
Desalenta-me mais a guerrilha dos iguais, aquela que acontece diuturnamente no Guamá, no Telégrafo, na Sacramenta e também nas "franjas" do Marco ou do Umarizal, onde nossos jovens estão matando e morrendo, eliminado-se, como a contribuir para que a estatística do desemprego e do analfabetismo juvenil sejam menos ferozes! E todos, de alguma forma, estão ligados ao trafico, seja por vizinhança, prestação de pequenos serviços ou uso de droga.
Aqui em Belém, começo a achar que estamos também tentando ignorar o outro lado do espelho, que é o espantoso crescimento imobiliário. Quem está comprando apartamentos luxuosos em edifícios que aparecem por aí com mais rapidez do que conjuntos habitacionais? Faço às vezes uma conta rápida das nossas famílias quase boas e penso que não dão conta de tanto investimento. Quem e o quê está dando a Belém essa faceta "Miami" paralela à Belíndia, dentro de Belém?
De onde saem estes empresários, poupadores, investidores ou seja lá que nome se dê a eles que não nascem, crescem e se fortalecem de forma visível, mas já surgem grandes e capazes de comprar, comprar e comprar?
Desculpem o exaustivo desabafo matinal, mas, rodando pela cidade, nos ônibus de quinta (Ops! ,Juca querido) serventia que o poder público coloca a minha disposição para ir e voltar do trabalho, tenho tempo pra pensar e pensar e olhar tudo isto contecendo debaixo das barbas que não tenho e com os olhos de quem já viveu demais para acreditar que estamos apenas – e competentemente – progredindo.
Abração pros dois.
Bia,
Tu, como sempre, precisa. Vou preparar uma postagem a partir de parte do teu comentário, sobre o mercado imobiliário de Belém.
Abração.
Sem a menor dúvida, FRJ. Faltava alguém tocar neste assunto mesmo. E verdadeiramente incrível ver o crescimento do setor imobiliário. Inclusive, com superinflação de preços para pouquiíssimos metros quadrados.
Devem estar contribuindo para campanhas.
Devem sim.
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