terça-feira, 18 de agosto de 2009

O meu voto não

Se é que algum dia pensei em votar em Marina Silva
para presidente da República, esta hipótese se esvaiu hoje cedo, quando li a coluna do jornalista Guilherme Augusto.
Em que pese ter respeito e até admiração pela senadora, além de acreditar que precisamos endurecer de verdade a política ambiental neste país de oportunistas atrasados, eu já estava incomodado com o fato de o Partido Verde ser presidido por um Sarney. Mas agora tomei conhecimento de que Marina é contrária a todas as modalidades de abortamento (sou favorável à interrupção seletiva da gestação, em casos de comprovada inviabilidade extrauterina do concepto) e às pesquisas com células-tronco embrionárias (sem comentários).
Mas até aí, tudo bem. A gota d'água para mim, honestamente, foi saber que a senadora defende o criacionismo! Já imaginou se ela se elege e resolve, como George W. Bush, reformar o sistema educacional do país para tornar obrigatório o ensino do criacionismo - nem que seja, como fez o leso americano, sob o argumento de que as pessoas devem conhecer essa linha, além do evolucionismo, para escolher a de sua preferência?
Fala sério! Seria um retrocesso tão grande, num país de sistema educacional historicamente combalido, que não vale a pena correr esse risco. Se eu estiver errado, por favor, me digam.
Acréscimo em 19.8.2009:
E que tal esta? Gilberto Gil aceitou ser o vice de Marina. Com esse fato novo, alguém mudou de ideia e decidiu cravar o voto na dupla?

14 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Excelente, amigo.
Inauguras assim, o verdadeiro debate que devemos fazer sobre os candidatos a Presidência da República. De preferência, o mais distante possível das camisas partidárias, muito embora elas existam aqui e alhures.
O partido que simpatizo e seus candidatos, jamais conseguiram atender plenamente minhas expectativas como cidadão. E certamente não atenderão as expectativas sinceras de boa parte dos brasileiros.
Manter um olhar lúcido sobre as propostas existentes e o que dizem os candidatos, é uma postura cidadã, e a meu ver, muito bem vinda.

Abs

Anônimo disse...

Bom post Yúdice , bom até porque meu filho estuda numa escola laica e como material de férias a professora de história pediu uma profunda pesquisa sobre os hebreus , o que quer dizer exatamente ler a bíblia , fiquei um tanto amuado pois culturalmente os hebreus nos deixaram um legado importante no aspecto religioso que é o monoteísmo o que pra mim não quer dizer muita coisa , perguntei pra professora e ela ainda não me respondeu : porque não aprofundar pesquisa nos povos que nos deixaram legados culturais realmente importantes (na minha opinião , claro) como os egícios que afora os monumentos ainda nos deixaram a cerveja rsrsrs, os grecos , os chineses e por aí vai.?
Um abraço e desculpe a digressão.
Tadeu

Yúdice Andrade disse...

Obrigado, Barretto. Com esta postagem, procurei lembrar que, para muito além das questões partidárias e de carreirismo pessoal, o candidato é também uma pessoa com seus modos de pensar, seus preconceitos, seus vícios, suas preferências. Naturalmente, ele os levará para o seu mandato.
Num mundo de eleitores conscientes, estas particularidades também interferem no voto.

Digressão nenhuma, Tadeu. A postagem permite qualquer abordagem. Aliás, eu faria parecido contigo: também questionaria a professora sobre seus objetivos com o trabalhos. Inclusive os implícitos Nunca peço a meus alunos um trabalho sem esclarecer o que pretendo com ele, seja em conteúdo, seja em abordagem avaliativa. Então ela também teria que me esclarecer. E o gosto pela diversidade também me faria encostá-la na parede. Abraço.

Lafayette disse...

É mesmo, Yúdice, a Marina acredita no criacionismo? Tá de sacanagem!

Antes de mais nada, diz o Richard Dawkins que os que não acreditam em nenhuma religião são da paz, os da guerra, estão é com deus! É só ver a história ou dar uma volta em Dublin! rsrsrsrsrs

Mas, sem entrar no mérito religioso, porém já dizendo que eu, democraticamente, não respeito nenhuma religião, mas respeito o ser religioso, pois é livre o pensar e o agir, acho que, aquele que acredita no criacionismo é imbecil!

Peguei pesado? Ora, que nada, toda vez que digo que não acredito em deus, fazem logo aquela piadinha-resposta idiota, "ah, és atoa".

Dependendo do piadista-chinfrim, ou calo e sarto fora, ou digo que atoa (ps.: atoa é junto ou separado?) É A MÃE!

O criacionista é um ser de ego elevadíssimo, "ora, como posso ser fruto de um mero acaso e adaptação, se sou perfeito, a imagem e semelhança do bondoso?". Infâmia!

Stephen Jay Gould diz que evolução é tão simples e comum, do ponto de vista lógico, e que demonstra que o homem não está, em muitos detalhes no ápice dos outros seres, que, é verdade, acreditar nela é entrar em depressão, "oh, não sou toda esta Coca-Cola", diria eu.

Marina já não tinha o meu voto, agora tem o meu desprezo!

Itajaí disse...

Yúdice,
Eu tenho três grandes grilos com Marina Silva:
1) ela de fato é criacionista;
2) tem uma posição sobre o meio-ambiente bem intencionada, mas algo religiosa; que não consegue ao meu ver mediar politicamente uma transição de matrizes energéticas, muito na base do não, porque não.
3)a escolha do partido onde pretende se filiar dá a nota de seu isolamento político. Não dá para imaginar certas figuras políticas que conhecemos dando as cartas aqui e acolá.
Reputo entretanto sua candidatura como saudável a democracia, por levar o debate à arena e principalmente por trazer ao primeiro plano a questão ambiental, levada sempre em segundo plano e não poucas vezes discutida como fosse dogma religioso.

Tadeu,
Eu considero a palavra cultura uma palavra perigosa, se não a entendermos como descritiva da pluralidade do fazer humano. Nesse horizonte incluem-se, por exemplo, tanto pirâmides quanto bens culturais incorpóreos ou imateriais.
O povo judeu, como o povo árabe, e os indígenas americanos, e os aborígenes australianos ou o egípcio (que hoje nada têm a ver com aqueles de igual nome que construíram a obra que você destacou), todos possuem uma cultura admirável que reune tanto bens materiais quanto imateriais.

Prof. Alan disse...

Yúdice, some ao que você escreveu dois fatos:

1) Aqui em Brasília é público e notório que Marina tinha o hábito de interromper reuniões de trabalho para orações e pregações. E todos os servidores presentes, evangélicos ou não, eram obrigados a participar - já que tinham que prosseguir na reunião depois dos cultos...

2) O grande nome do PV, o "ético" Gabeira, não esconde de ninguém que está ativamente em negociação com o DEM/PSDB para lançar sua candidatura a governador do RJ com o apoio desses partidos.

Fico muito escabriado com um ex-guerrilheiro que se alia ao DEM...

andré costa nunes disse...

Caro Yúdice,

Muito oportuna tua observação sobre as posições retrógradas da candidata Marina.

Sou admirador da ex-ministra por todos os motivos do mundo.

Meu deus! Não posso escrever muito, senão essa praga de Vivozap cai, mas seria bom esclarecer aos
aos leitores, o que significa, tanto criacionismo, como sua nova versão mais laite: designe inteligente.

Ambos representam o enorme retrocesso no entendimento da ciência, com reflexos nocivos em todas as áreas do conhecimento. É a negação das conquistas científicas da humanidade em favor de crenças religiosas que não admitem contraditório pois são a "verdade revelada".

Respeito tudo isso, desde que se não institucional (vide Risinha Garotinho).

Amanhã ela, Marina, estará em Belém.

Que tal irmos lá perguntar-lhe a respeito?

André

Yúdice Andrade disse...

Eu sou religioso, Lafayette. Espírita, para ser mais exato. O que me leva a, tranquilamente, religiosamente, defender a ciência como a fonte das explicações sobre o mundo.
Imagino o quanto te perseguem por tua opção pelo ateísmo. Aliás, ateísmo ou agnosticismo?
PS - "A toa" é separado.

Itajaí, confesso que nunca tinha pensado nas posições ambientais de Marina como sendo de fundo religioso. Se assim é, a coisa piora.
Afora a minha rejeição a sua candidatura, concordo que a candidatura em si é extremamente salutar, num país que precisa urgentemente sair da estúpida polarização PT-PSDB e passar a discutir outras questões, sob outras abordagens.

Prof. Alan, com essa sua informação, concluo que o cotidiano de trabalho de uma eventual Marina presidente também seria prejudicado, por questões que nada têm a ver com os interesses republicanos. Um(a) presidente que impõe assim a sua preferência religiosa aos subordinados diretos é de preocupar - e muito.

André (quanta honra!), obrigado pela informação complementar, que nos ajudará a entender melhor essas perigosas sugestões. Um abraço.

Lafayette disse...

Yúdice, obrigado pela "A toa". Na hora de escrever, deu um branco, até mesmo pois "toa" não existe na língua portuguesa, e ainda mais, o "a" leva acento grave, portanto, este tal de "toa" é um ET (pô, agora ...deu-se! O que é este tal de "toa" ???) rsrsrs

Voltando. Se é para definir, o melhor é dizer "ateísmo", ateu. O agnóstico é um cara que está no muro. Não sabe se peca ou se cai na salvação. A "culpa" ainda lhe ronda o pescoço, como uma foice celestial.

Ateu é aquele que não acredita em deuses.

Agnóstico, empurra a questão pra debaixo do tapete, e diz que o homem não tem capacidade intelectual, e nunca irá ter, para chegar a alguma conclusão.

Mas, não me perseguem muito não, até por que, o ateu não costuma sair por aí gritanto: Ah, eu sou ateu, seja também... Ah, eu sou ateu, seja também...!!! rsrsrsrs

Geralmente (e isto é coisa muito, mas muito antiga), o cidadão que é ateu é visto como "aquele que tem parte com o cão", rsrsrs. Ou, "ah, é comunista", rsrsrs, ou etc e etc...

Richard, que já citei, relata que, o pai da comediante americana Julia Sweeney, ao ver no jornal, numa entrevista, a filha dizendo que era atéia, gritou: -ela pode até não acreditar em Deus, mas ser atéia, é demais! rsrsrsrsrs

Juro que sou do bem! Vez por outra, boto fogo no circo, mas até que não sou dos piores, não! rsrsrsrs

Geralmente, o ateu esconde até mesmo de seus familiares seu pensamento. Mas isto nunca ocorreu em casa. Lá se podia tudo, "menos bater o pé, ao levar uma bronca... era surra na certa!" rsrsrs

Já pensaram se alguém, bom, honesto, pecador mas honesto, rsrsrs, resolve, junto com outros bons e honestos, fundarem um partido de ateus?

Não tem o PSC - Partido Social Cristão, e tantos outros? Pois bem, fundar e concorrer eleições com o PCA - Partido Científico Ateu!

É capaz - e não duvido - que algum Promotor Eleitoral, ou o TRE - TSE da vida, rejeite sua inscrição.

Quanto ao espiritismo, Yúdice, já li os 5 livros básicos: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e a vina) e A Gênese.

Também já li sobre o próprio Hippolyte Léon Denizard Rivail. Conhecendo a época, entende-se os livros.

Já li, também, alguns artigos sobre a física quântica e o espiritismo... estes, se não explicam, pelo menos, ajudam a divulgar alguns conceitos e resultados desta física impressionante.

Mas, é isto. Sou do entendimento que religião se comenta sim. Com argumentos e educação.

*Ah, aceito convites pra batizados, missas, cultos, por favor!

Lucas de Arruda Câmara disse...

Lafa, permita-me descordar.
Acho que só conheces pseudo-agnósticos pra afirmares que eles empurram a questão pra debaixo do tapete. Vario entre agnosticismo e ateísmo por não acreditar em deuses, ou no sobrenatural, mas parando pra pensar, eu não tenho como, cientificamente, provar que deuses não existem, mesmo não acreditando neles. Às vezes até queria, mas não tenho como. Isso era o que o meu pai, que era agnóstico, me dizia, com a habitual ironia, quando eu me afirmava meu ateísmo.
Outra: PCA como oposição ao PSC? Quer dizer que não podia ter um PCC(calma, é partido científico cristão rsrsrs). Eistein, se não me engano, acreditava no deus cristão, não?
Grandes cabeças da geociências da UFPA são católicas. Outras não. Normal. Enfim, acho que ser religioso não tira o mérito de ninguém, nem teria sentido.
ps: concordo com o yúdice na questão da Marina.
abs

Yúdice Andrade disse...

Lafayette e Lucas:
Realmente, entre as duas posições, sou mais a do Lucas. Comecei a respeitar o agnosticismo quando uma pessoa - que já contava com o meu respeito e admiração - se declarou nessa condição e me esclareceu, em linhas muito gerais, que o agnóstico não está convencido da existência ou da inexistência de Deus, de vida post mortem ou fenômenos espirituais. Mas pode ser convencido, embora não viva buscando esse convencimento. Tal postura de aparente boa vontade às opiniões alheias me pareceu muito digna.
Já quanto aos ateus, nunca escutei uma explicação do mesmo nível, embora tenha escutado umas tantas razões bem tolas. Por exercício de tolerância, não os critico.
Enfim, mil vezes um agnóstico que um fanático religioso!

Lafayette disse...

Lucas, se você não discordar de mim, não falo mais contigo! rsrsrs

"Verdades" são expressões. Elas são demonstráveis. As que não o são, não são verdades.

A ciência explica, "cientificamente", que deuses não existem. A antroplogia, a história, a psicologia, a sociologia, a biologia, a lógica, enfim...

Conversamos, muito, eu e teu pai, sobre isto. Bons papos. Inclusive, olha este tema que comecei, certo dia: "Juva tu pensas que és agnóstico, mas não és... ÉS ATEU!" Ele falou logo: "Queres saber mais de mim do que eu?" Piramos no papo rsrsrsrs. Depois te falo.

Não existe religioso cientista (calma, estou falando no cerne da questão), existe religioso que se utiliza de interpretações equivocadas dos resultados de pesquisas científicas para tentar explicar a religião, não pelo viés científico, com a psicologia ou a antropologia, mas pelo viés da fé.

E, quando alguém fala "que é uma questão de fé", o papo fica ruim, ruim.

Ser católico apostólico romano, ou outra vertente, não é condição para "não ser grande cabeça pensante", apenas, pra mim, quando se afunila a discussão, e se chega à criação, ao início, volta-se a papo "que é uma questão de fé", e...

Aliás, Lucas, é bom que se diga que até a física do mundo macro (grande velocidades, grandes forças etc), e do micro (átomo, subparticular atômicas, força fraca, força forte, singularidade (Big Bang) é, a rigor, uma questão de acreditar, uma questão de fé, porém, tal elaboração até "se acreditar nesta fé", há, sim, uma enorme séria teses, estudos e cálculos que "não são questões de fé".

Einstei não acreditava em deuses. Isto propalado por puro egocentrismo dos seus pares vivos.

Ah, e a pessoa ser religiosa não tira o seu mérito, jamais! ...nem não ser!

Se um dia for cientificamente provado que Deus existe, na mesma hora passo a acreditar nele e em seus dogmas, milagres, e tudo o mais.

Agora, duvido que ao contrário aconteca com um católico ou protestante, caso, cientificamente, se prove que Deus não existe.

Aliás, mais uma vez, a rigor, de novo, o ônus é de provar que Deus existe, e não ao contrário, assim, pela lógica, todos deveriam não acreditar, até prova em contrário.

Yúdice, nas escrituras está escrito que não se pode por em dúvida a existência de Deus, por isso o agnóstico peca, mas reza, pois "vai que me surprendo depois da morte, e o Homem tá lá".

Quanto à preferência entre fanático religioso e agnóstico, vou discordar do amigo: do fanático religioso sei o que vem de lá, sei o pensamento formado, conheço a doutrina estudada, enfim, sei a opnião concreta.

No meu entendimento, o agnóstico ainda carrega a "culpa" nas costas, como um fardo milenar, familiar, social e religioso... mas ele não tem culpa, desde criança, bebezinho mesmo, a grande maioria é "recebida em Cristo, ou em outra religiosidade".

Já pensaram se alguém (ou eu mesmo), abro um "templo", um lugar de "libertação", e convido ateus, cientistas, Nobel, para explicar ciência, evolução das espécies, física quântica, física macro, e "libertar" os religiosos?

Será que a Constituição do Brasil me permitiria?

Anônimo disse...

Itajaí , ainda acho dentro do conceito que vc coloca como cultura o legado dos outros povos que citei mais importante ou representativo do que o dos hebreus.Se meu filho estivesse estudando idade contemporânea e fosse pedido um estudo sobre os egipcios ou grecos iria questionar a professora perguntando porque não estudarmos os judeus , detentores dos mais representativos avanços cientificos e culturais (vá-lá) da época em questão.
Abraços
Tadeu

Prof. Alan disse...

Yúdice, o Gilberto Gil pode ser um ótimo vice. Inteligente, moderno, antenado, culto, atento a questões sociais.

Tudo isso que escrevi - ou não...

É a mania dele de ser complexo e hermético (a ponto da única pessoa capaz de falar a mesma língua ser o Caetano Veloso...) que me mete medo.

Se ele entender o que precisa ser feito, será que conseguirá fazer?

Ou será que só conseguirá produzir um ótimo plano de governo... venusiano?