sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Constrangimento de Ler Josias de Souza

Josias de Souza*, jornalista da Folha de São Paulo, põe seu teclado a serviço do jus sperneandi de quem se sente incomodado pela indicação do advogado José Antonio Toffoli à vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Com aquele estilo de salamaleque morde-e-assopra, que alguns profissionais de imprensa utilizam para vergastar pessoas, instituições ou idéias contrárias as suas, ou de quem os assalaria, Josias de Souza demonstra não só um sectarismo às escâncaras, quanto, por igual, confessa ignorância sobre conceitos que utiliza para ilustrar seus argumentos.
Afirma por exemplo que o indicado de Lula ao STF pode ser questionado quanto ao quesito notório saber por não possuir mestrado ou doutorado. Para desengano do leitor, o jornalista parece ignorar de propósito que o conceito de notório saber é mais sutil** e não exige per si a obrigatoriedade da apresentação de títulos acadêmicos para demonstrá-lo.
Outra obtusidade trazida pelo jornalista paulista é a sugestão de que a candidatura Toffoli teria como óbice o fato deste ter advogado para o Partido dos Trabalhadores, antes de tornar-se membro da Advogacia Geral da União (AGU). Esse argumento é um notório abuso à verdade, por inocular a idéia de que um advogado para chegar ao STF deve abrir mão de advogar para partidos políticos, para evitar riscos a uma possível candidatura num futuro improvável, na hipótese remota desse mesmo partido um dia eleger um presidente da República e este o indicar para uma vaga na suprema corte do país.
É dose, seu Josias, fazer uma ponte dessas para valer argumentos mal-alinhavados! Para demolição de semelhante argumentação nem carece entrar no mérito da filogenia que permite alguns ministros declararem razões de foro íntimo, quando recusam relatar processos contra quem os apadrinhou para a assunção ao colegiado de ministros do STF.
Mas, com inegável piora do odor impróprio, que exala das tintas de Josias de Souza, é a sugestão de que o candidato de Lula ao STF teria seu notório saber questionado por ter sido reprovado duas vezes em concurso para juiz. Aqui, o jornalista no afã de atingir ao seu alvo esclarecido, pela precisão do afirmado, expõe-se a questionamentos mais sérios. Afinal, uma coisa é ser reprovado, outra bem diferente é ser aprovado mas não classificado para ocupar a vaga, fato ordinário na biografia de qualquer bacharel em Direito ou advogado que se disponha a prestar esse tipo de concurso, reconhecidamente entre os mais difíceis de todos os realizados para as carreiras do serviço público.

* responsável pelo blogue Nos Bastidores do Poder , onde a matéria aqui criticada foi publicada.
** tecnicamente, do ponto de vista da doutrina jurídica, é um direito indeterminado

2 comentários:

Anônimo disse...

Itajaí, não tem jeito. Aliás, é um direito seu, mas sua crítica demonstra sua total partidarização a tudo que diz respeito ao Lula. Em tudo ele está certo. Nunca vi um critica sequer vindo de sua lavra contra o mesmo. Como já disse direito inalienável seu, mas você usa os argumentos que lhe são interessantes e ideologicamente palatáveis.

É patente que a escolha do presidente da República é para ele e seus pares mais interessante. Esconder isso é o mesmo que dizer que em Cuba temos uma democracia.

Saudações,

João

Itajaí disse...

João, não verás uma só linha escrita por mim que crítique o governo Lula devido a uma questão única: eu participo do governo e, enquanto tal não faço críticas públicas a governos em que eu participo; seja ele do PT, do Lula ou de qualquer outro partido ou presidente.
Mas saiba que as tenho e as faço no espaço apropriado.Recentemente, contra uma manifestação da direção nacional do PT, fui signatário de um manifesto que obrigou seus dirigentes a rever suas posições equivocadas sobre a questão árabe-israelense. Está por aí na internete, se você tiver interesse em conhecê-la.
Mas, no que respeita a esse episódio Toffoli, a indignação aqui registrada não pretende tirar o mérito de quem critica à indicação presidencial a vaga no STF.
Elas sempre existirão e devem existir. O que aqui fiz foi registrar que o jornalista abusou da paciência, da minha paciência, exatamente porque a argumentação que utilizou é preguiçosa, é chinfrim demais para ser tolerada até na boca de Josias de Souza.