Quando fui aluno de graduação na disciplina de Saneamento, o professor costumava referir o baixo investimento brasileiro na área a uma prática estúpida em política, que considerava uma tolice investir dinheiro em obra que ficasse oculta sob o asfalto, à distância dos olhos e da lembrança do povo na hora de votar. Pouco importava que água limpa e o destino seguro dos dejetos humanos significassem menos diarréia, que naquela altura respondia por um bom número na estatística de morte por causas evitáveis, em crianças.
O fato é que desde então o Brasil evoluiu nesse campo, ainda que se encontre em situação bem aquém do recomendado por padrões internacionais de saúde pública. O nosso atraso em cobertura de saneamento tanto é explicado por não termos desenvolvido uma política pública forte para esse fim, quanto por conta da corrupção dos governos locais que ao superarem o passado de não investir em obras ocultas sobre a terra, usaram desse mesmo benefício para encobrir suas falcatruas contábeis nos serviços para fornecimento de água potável e esgoto sanitário.
Esta semana um discurso do presidente Lula trouxe a questão do saneamento ao primeiro plano do debate nacional, utilizando para isso de uma linguagem que alguns consideram inadequadas ao cargo de presidente. Apesar das sensibilidades feridas na platéia, umas sinceras, outras nem isso, temos visto que o uso de linguagem forte por autoridades do executivo não é exatamente uma novidade. Ainda estão bem audíveis na memória nacional as ressonantes palavras do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamando os aposentados de vagabundos. E no elucidário de grosserias dos políticos nacionais, não esqueçamos do estupra, mas não mata, máxima infeliz do ex-governador paulista Paulo Salim Maluf e as incontáveis incontinências verbais do finado senador Antonio Carlos Magalhães.
No plano internacional, por sua vez, não faltam exemplos na oratória de Jacques Chirac, George W. Bush Junior, Dick Chenney e, recentemente, na boca do bom rapaz Barack Obama, que sentiu-se obrigado a pedir desculpas por usar a palavra screw up em comentário sobre um indicado a compor seu gabinete, que fora flagrado em traquinagens com o Imposto de Renda. A palavra usada pelo presidente Obama tem um sentido dúbio que, a depender do contexto, pode ser um sinônimo leve para outra palavra mais grosseira: fuck. E foi isso exatamente o que ele quis dizer, ao se indignar com a situação em que se encontrava, devido a ficha suja do ex-futuro assessor da Casa Branca.
Minha opinião é a de que autoridades devem manter uma linguagem enxuta de palavras vulgares, ainda que em algumas situações elas sejam inevitáveis frente à ordem dos fatos. Tanto no caso de Lula e de Obama me parece ser esta a questão, por estarem referidas a situações mais indignas que a dignidade das palavras por eles escolhidas para expressar seus pensamentos sobre elas. Significa reconhecer que o que escandaliza é a falta de saneamento, e não as palavras duras com que nosso presidente se reportou ao assunto. Portanto, só nos resta dizer merda aos dois em 2010, ao modo da intenção com que os atores se dizem boa sorte antes de entrarem no palco.
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