quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Hoje, Quase Ontem, Faço 25 Anos.



















Prefácio do álbum comemorativo UFPA - Médicos Dez/84

Enquanto assistia o vídeo Stevie Wonder - Live at Past, show gravado em Londres, eis que recebo dois telefonemas que completaram a beleza da noite. Primeiro foi Gladaniel Palmeira de Carvalho, meu estimado colega de Paes de Carvalho, membro do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, convidando-me para virar uma página com ele, no próximo domingo, e lembrar daqueles tempos. Promete-me uma bacalhoada, prato mais do que justificado, pois agora ele é cidadão português, depois que é brasileiro e paraense de Belém do Pará.
Mas a noite prometia. Chamam ao telefone de novo: Pause no Stevie Wonder - Well, I'm a man of many wishes/ I hope my premonition misses,/ but what I really feel, my eyes won't let me hide. Atendo e aquelas vozes inconfundíveis, de Silvana Campos e de Amaury Braga Dantas, me intimam a comparecer à missa na Basílica de Nazaré e ao jantar na Barraca da Santa, no próximo dia 8 de dezembro, dia em que neste Brasil de pluralidades se homenageiam no Pará as majestades de N. Sra. da Conceição e de Iemanjá, a rainha de todos os mares e rios no candomblé. Lembram-me que, nesta data, eu, eles e mais 104 médicos, ex-alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará, estaremos completando 25 anos de formados. Daqui de Brasília, além de quem lhes escreve a notícia, apostam no comparecimento de Edmundo Gallo, Isa Paula Hamouche Abreu e Gerson de Oliveira Penna, considerando que Suzanne Jacob Serruya agora é internacional e teria mais dificuldades de se deslocar do Uruguai.
Agendas começam a ter as páginas consultadas. Porque, ora raios, assim tão em cima da hora? Que importa, garoto, são vinte e cinco anos! - convencem-me. Quando completamos quinze anos, fui honrado com o direito de uma saudação à turma no auditório da Faculdade e senti-me profundamente comovido com a distinção da galera, que, por generosidade, reconhecia em mim a confirmação de um projeto político de nossa geração, na chegada do Partido dos Trabalhadores a Prefeitura Municipal de Belém, com a primeira gestão do prefeito Edmilson Rodrigues. Olhando para trás, penso que eu, Suzane, Gallo e Amaury não decepcionamos quanto a contribuição que demos para a saúde de Belém, sem possibilidade de contestação frente com a cruel realidade com que a cidade hoje se depara ao olhar a imoralidade estabelecida na saúde pública.
E o tempo é um senhor tão bonito na ocasião em que um coletivo destinado a individualidade pelas leis da ditadura, decidiu ser coletivo e mandar ver no futuro que sonhávamos! Por isso as imagens mais fortes são aquelas de nossa juventude, quando nos debruçávamos sobre cadernos e livros nas madrugadas, na faina de aprender os segredos do corpo e do sofrimento do corpo, para que a sociedade nos autorizasse a cuidar de seus integrantes sem distinção de cor, credo, raça ou ideologia, pedindo-nos apenas que nessa prática calássemos em segredo sobre o que víssemos e ouvíssemos na intimidade dos lares, e nunca atentássemos contra a Humanidade, se fôssemos depois pesquisadores. Ide, podeis praticar e ensinar a medicina - ainda ecoam nos meus ouvidos as palavras que ouvi entre as paredes do Teatro da Paz, naquele distante dezembro de 1984, tendo ao lado a companhia de minha saudosa mãe e, a curta distancia, os olhares de quem são minha esposa e sogra até hoje.
Mas era o tempo em que também explodiam bombas, mandando pelos ares secretárias da OAB e bancas de revistas que vendessem jornais de esquerda, ou, nem isso, só por se oporem a um regime que naquela altura a sociedade dizia BASTA! Foi um tempo sofrido e belo, coroado no ano das Diretas Já, movimento cívico só comparável aos movimentos nacionais pela Abolição da Escravatura, pelo Brasil declarar guerra ao nazi-fascismo da Alemanha-Itália e Japão e pelo repúdio à corrupção no impeachment do presidente Collor. Um tempo altissonante como deve ser o tempo dos jovens no umbral de um novo alvorecer; que ao se fazer novidadeiro no porvir, permitiu-nos experimentar o melhor dos frutos desta nossa memória de quase ontem.
Evoé, turma formada em dezembro de 1984, na UFPA! Meu muito obrigado por seguir com vocês.

7 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Ótimas e saudosas lembranças, Itajaí.
Nos que não meramente "passamos" por uma universidade, nós que construímos algo mais que um sonho pessoal, nós que em nossa ingenuidade pequeno-burguesa, um dia sonhamos em escrever e falar sobre nossas idéias, sem medo de ver no dia seguinte uma "veraneio vascaína" estacionada na porta da casa de nossos pais, nos que enfim, lutamos até mesmo no seio de nossa própria família, no sentido de fazer valer o ideário de uma época.
Nós merecemos nos encontrar, reagrupar, comemorar e continuar lutando contra aqueles de sempre. Aqueles que querem nos fazer esquecer os anos de chumbo que patrocinaram, travestidos de bons rapazes, ou de reles poços de cinismo.
Vamos sim reagrupar.

Abs

Itajaí disse...

Amém, nosso calouro, meu estimadíssimo amigo Carlos Barretto, confrade neste novidadeiro Flanar.

Yúdice Andrade disse...

Viver, estudar, ser jovem - tudo naquela época era mais intenso e perigoso. Algo que simplesmente não é sequer compreendido pelos jovens de hoje. E que eu mesmo não compreendo em toda a sua extensão, já que para mim aqueles tempos são apenas uma referência da qual soube por aulas ou por livros.
Vocês estão de parabéns. Pelo aniversário de formatura, pelas carreiras que construíram, pelo modo como encaram a vida e por tudo o que fazem hoje.
O meu abraço, extensivo aos seus amigos.

Francisco Rocha Junior disse...

Parabéns, Itajaí. Quem não sabe não tem vem aí o IV Flanar Encontro?

Carlos Barretto  disse...

Pronto!
Vai começar tudo de novo.
Ai ai ai

Anônimo disse...

Meus parabéns, pelo texto e pela caminhada!

Itajaí disse...

Muito obrigado pela carinhosa manifestação. Informo, contudo, que em virtude de compromissos inadiáveis não poderei comparecer desta vez, na festa.