terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Oscars 3

E os filmes em si? Quem merece estar dentro e quem não devia estar? Quem foi esnobado desta vez?

O melhor filme em competição e meu filme favorito de 2009 é "The Hurt Locker". Escrito por um jornalista, Mark Boal, que passou um ano convivendo com uma equipe de desarmadores de bombas no Iraque, o filme é uma aula de cinema. Boal criou personagens incrivelmente complexos e realistas, exatamente porque foram baseados em pessoas reais. No centro da ação, Jeremy Renner, no papel de um sargento que sabe que é provavelmente o melhor do mundo na sua função.

A direcão de Kathryn Bigelow já entrou no canon dos mitos de Hollywood, e todo mundo vai ficar muito surpreso se ela não for a primeira mulher premiada com o Oscar de direção. A maneira como ela monta as cenas de ação é absolutamente impecável e "gripping". O filme te segura pelo pescoço na primeira cena, com Guy Pearce, e não te larga mais. Eu nunca me senti tão tenso e envolvido na ação.

O fato de Bigelow ter escolhidos atores desconhecidos (exceto por algumas pontas) adicionou muito ao realismo do filme. Nós acreditamos nos atores exatamente porque não são stars. Eles se tornam os soldados retratados no filme. E já que não são stars, a nossa sensação é que qualquer um deles pode morrer a qualquer minuto.

"The Hurt Locker" foi merecidamente indicado a 9 Oscars, empatando com "Avatar" como os dois filmes com mais indicações.

"Avatar" merece todas as indicações que teve, e deve levar alguns Oscars no dia 7 de março. Talvez até o de melhor filme.

Outra indicação merecidíssima: Meryl Streep no papel de Julia Child em "Julie & Julia". Child, já falecida, é um ícone da culinária e da TV americana, e Streep conseguiu dar vida a ela de uma maneira incrível. Imitando sem cair na caricatura. Um filme literalmente delicioso e um papel fantástico para esta que já é um tesouro da cultura cinematográfica.

Outras indicações que me deixaram particularmente feliz: "A Serious Man", dos irmãos Coen; e "District 9", ficção cientificia brilhante da Africa do Sul, foram ambos indicados ao Oscar de melhor filme. Merecidissimos.

Filmes que eu estava resistindo ver e que agora serei obrigado a ver: "Crazy Heart" (a atuação do Jeff Bridges é supostamente brilhante, mas o tema não me atrai); "The Blind Side" (idem para a atuação de Sandra Bullock, mas parece muito agua com açúcar pro meu gosto).

Vou ficando por aqui porque já devo estar esgotando a paciência de todos, mas prometo que ainda tenho muito o que falar amanhã...

15 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Raul.
Não me leve a mal. Os indicados são péssimos.
Na minha opinião, o Oscar acabaou!

Scylla Lage Neto disse...

Como eu gosto de ficção científica, as 2 indicações (District 9 e Avatar) me agradaram.
Curiosamente os filmes são totalmente antagônicos, até no orçamento gasto.
Mas ambos estão fora da minha lista de favoritos, absolutely.
Abs.

Raul Reis  disse...

Gostei muito tanto de Avatar quanto Distrito 9. Meu gosto deve estar ficando muito "mainstream" :-) Tb adorei "An Education", "A Serious Man" e "Up in the Air", alem do "Hurt Locker" que ja mencionei no post...

Scylla Lage Neto disse...

Raul, tenho difuldade em assistir filmes com essa câmera "manual", tipo "free-hand".
Se District 9 fosse um filme feito com um tripezinho, tenho certeza de que apreciaria mais.
Quanto a Avatar, achei-o perfeito demais. A idéia é boa, gostei do roteiro, mas creio que com outro diretor menos perfeccionista do que James Cameron, eu teria adorado.
O problema é que o filme seria talvez um fracasso de bilheteria...
Abs.

Val-André Mutran  disse...

Peralá Scylla.
O roteiro de Avatar é dose.
Cameron, foi apenas, Cameron, nesse filme ridículo.

Carlos Barretto  disse...

Gostei de Avatar. Pena que fui levar os filhos pra ver, num dia em que estava particularmente mal dormido. E com 3 h de duração, não resisti a algumas cochiladas. Mas ao final, acabei gostando. Embora no fundo, acho que ele poderia ter sido enxugado para no máximo umas 2 h e 15 minutos.

Carlos Barretto  disse...

PS. "Mainstream" é ótimo, Raul. Anotei o termo que gostaria de usar em outro post qualquer de tecnologia que venha a fazer.

Yúdice Andrade disse...

Rapazes, ainda não vi "Avatar", mas quero fazer minha defesa de "Distrito 9". Muito bom: o roteiro, a direção, a atuação dos desconhecidos atores e, sobretudo, a reflexão social que permite. Não acredito que o nosso querido Val não vá livrar nada desse filme!

Carlos Barretto  disse...

Me desculpe o Yúdice. Mas Distrito 9
fez me abandonar o cinema antes do final. Aaaarrrrgghh!

Val-André Mutran  disse...

Professor,
Meu plano era assistí-lo em casa.
Não me dei ao trabalho de vê-lo até o fim.
Arranquei o DVD do aparelho e o despedacei no chão.

Raul Reis  disse...

Adorei Distrito 9. Alem de ficção cientifica de primeira, uma parábola inteligentissima sobre o apartheid.

Raul Reis  disse...

Acabei de me dar conta que "The Hurt Locker" recebeu um nome patético no Brasil: "Guerra ao Terror".

A ironia é inacreditável, já que o filme é muito crítico da insanidade das guerras em geral e da guerra do Iraque em particular.

"Guerra ao terror" é um termo absolutamente execrado pelos liberais e pela intelligentsia americana, devido a suas associações com o governo Bush...

Scylla Lage Neto disse...

Vejo que o gênero ficção científica continua gerando polêmicas, não só no cinema como na literatura e mesmo no Flanar.
Há mais contexto sociológico em District 9 do que em todos os filmes do "mainstream" projetados em 2009.
Há forte mensagem ambiental em Avatar, mesmo que sub-liminar. O metal "unobtainium", o que não pode ser obtido, é a chave disso.
Se não houvesse tantos bichos exóticos, coloridos e voadores, se o visual fosse mais clean, eu gostaria muito mais do filme.
Abs.

Yúdice Andrade disse...

Raul, vou me chegando para o teu lado, pois acho que só nós dois gostamos de "Distrito 9". Realmente, gostaria de saber o que, nele, incomodou tanto os nossos confrades. Afinal, ele é menos ficção científica que uma chamada à reflexão sobre os preconceitos humanos, que escolheu um pretexto fácil de chamar a atenção do grande público, usualmente avesso a pensar. O fato de ele ser obra de um cineasta estreante, usar atores desconhecidos, ser ambientado na África do Sul e não no previsível território americano e fugir dos subterfúgios da comicidade e dos finais felizes diz muito sobre essa grande obra. Mas como os nossos amigos não o viram até o final, não será possível dialogar sobre isso.
Ei, estamos em plena diversidade de opinião!!!

Raul Reis  disse...

Pois é, concordo plenamente contigo, Yúdice. Quase não se pode chamar o filme de ficção científica, sendo ele tão imerso na realidade, ou pelo menos em uma realidade paralela. Vale ressaltar que a nave espacial chega em Johannesburg em fins dos anos 80, em pleno apartheid...

Quando vi o filme pela primeira vez, as favelas do Rio não saiam da minha cabeça.

Quantos `a polêmica: e viva a democracia!