Ainda que dispusesse da quantia, você desembolsaria mais de um milhão de dólares para comprar uma revista em quadrinhos? E se o gibi em apreço fosse um exemplar de maio de 1939, mostrando a primeiríssima aparição do Batman? Faria diferença?
Para alguém fez. Aí ao lado, a capa da revista, que acabou de ser arrematada em leilão, pela bagatela de US$ 1.075.500. Por nada neste mundo os editores ou o criador do personagem, Bob Kane, poderiam imaginar o sucesso que o personagem faria, nas décadas subsequentes. E ao falar em sucesso, não me refiro à exitosa e sempre lembrada série exibida entre os anos de 1967 e 1969, aquela cheia de pows, socs e tuns pululando na tela, com os atores Adam West e Burt Ward metidos numas malhas ridículas que, hoje, serviriam no máximo como fantasias em bailinhos de carnaval xumbregas. Refiro-me à linha de publicações que passou a ser conhecida como graphic novels, verdadeiras obras de arte, com altíssima qualidade de roteiro.
Para citar um único exemplo, temos a célebre Asilo Arkham (1990), com roteiro de Grant Morrison e arte de Dave McKean, que explora ao máximo a complexidade psicológica do sombrio anti-heroi, antes um perturbado que um idealista, que a certa altura da trama chega a atravessar a própria mão com um caco de vidro, para controlar a dor moral, muito mais aguda, que sentia.
Refiro-me, também, como seria inevitável, à franquia cinematográfica iniciada em 1989, sob a direção de Tim Burton, alvo de pesadas críticas dos fãs nerds, mas ainda assim um estrondoso sucesso, que infelizmente naufragou devido a péssimas iniciativas, tais como nos obrigar a aturar um Robin (Chris O'Donnell) e uma Batgirl (a patricinha Alicia Silverstone), no que chegou a ser apontado por alguns como "o pior filme da história". Um exagero, é claro. Quem afirmou isso nunca viu as comédias americanas ou "O guarani", de Norma Bengell (1996), estrelado pelos impagáveis Márcio Garcia e Tatiana Issa, perfeitos para interpretar um poste e um vaso de flor, respectivamente.
Mas Batman arrasou tanto no cinema que ressurgiu, em 2005, numa nova franquia, dirigida por Christopher Nolan - um triunfo absoluto para a história do cinema de ação, confirmado em 2008 com o não menos espetacular O Cavaleiro das Trevas, que imortalizou o já falecido Heath Ledger.
Nenhum heroi dos quadrinhos foi tão bem sucedido no cinema quanto Batman, movimentando muitos milhões de dólares e arrebatando gerações de fãs ardorosos, ao ponto de alguém pagar o valor supracitado por uma revista antiga relíquia.
Santa adoração, morcegão.
3 comentários:
Além de Asilo Arkham, cabe mencionar também as novels Batman Ano Um e O Cavaleiro das Trevas.
Houve uma época em que eu tinha de ler Ano Um todos os dias.
Qual vilão o senhor desejaria para o próximo filme, professor?
A série do Frank Miller de um Batman dark é demais!
Tim Burton não conseguiu convercer-me como Miller o fez.
Na verdade, o Batman do pensamento original desse gibi que citastes; é um marginal.
Um marginal bilionário que, por desvio de conduta e trauma ao ver os pais assassimnados friamente por um meliante desclassificado que pululam nos becos de qualquer cidade; resolveu fazer justiça pelas próprias mãos, iludindo-se qna ideéia de que o dinheiro poderia resguardar sua identidade de serial killher transvestido de SER do outro mundo.
Um vingador que não passa de um assassino com recursos tecnológicos.
Também li as duas obras que citas, Caio. Meu irmão fez questão de adquiri-las. Realmente, merecem rasgados elogios.
Val, decerto que as propostas eram completamente diferentes. Talvez o que mais surpreenda, no que tange a Tim Burton, é o caráter comercial da sua série, quando sabemos que ele é alternativo por natureza, audacioso, diferente. Mas o Batman que ele nos trouxe não seguia essas diretrizes. Certamente que suas maiores obras estão em outros campos. E os melhores filmes de Batman têm outras assinaturas.
Postar um comentário