O Estado do Rio de Janeiro e sua capital, segundo conta a História, foram assim denominados porque a baía da Guanabara, às margens da qual a cidade cresceu, foi descoberta em 1o. de janeiro de 1502 pelo navegador português Gaspar de Lemos.
O mês de janeiro, por sua vez, tem sua origem no nome de Jano, deus da mitologia romana representado por um homem de duas caras. A ambiguidade que a figura evoca poucas vezes foi tão apropriada quanto neste episódio dos royalties do pré-sal (ou seria pressal?) e o choro de crocodilo do governador do Rio.
Sérgio Cabral chorou, a classe média carioca foi às ruas incentivada pelo governo, estendeu-se uma faixa no Cristo Redentor - enfim, as exibições de alegada indignação fluminense pela perda de receita proposta em projeto do deputado federal Ibsen Pinheiro mereceram destaque em horário nobre das maiores emissoras de TV do país.
Não quero ser simplista neste assunto, mas não posso deixar de pensar que a extração de petróleo não deixa buracos na superfície, não gera imigração desordenada (e suas consequências sociais), não dá ensejo a milhares de reclamações trabalhistas. Todas estas circunstâncias, em contrapartida, acontecem nas minas do Pará, em especial aquelas operadas ou usufruídas pela gigantesca multinacional brasileira Vale, a antiga Companhia Vale do Rio Doce.
No entanto, não lembro da mídia nacional ter se condoído tanto quando o Estado do Pará foi violentamente tungado pela Lei Kandir. Nem percebo essa mesma comiseração ou revolta, quando são apresentados os custos ambientais dos buracos cavados no solo paraoara. Também nunca ouvi dizer que Cabral tenha se recusado a receber a participação do Rio nos royalties da extração mineral que é feita no Pará.
É com reações como a do governador que se pinta o retrato do federalismo no Brasil. Um retrato de Dorian Gray, é bom que se diga.
7 comentários:
Prezado Francisco,
É impressionante, esse assunto nunca deixa de ser moda: a alienação, "o dominado pensando com a cabeça do dominador".
Tenho visto aqui no RJ pessoas humildes, donas de casa, até meu porteiro, indignado com essa história dos royaltes, como se na verdade isso afetasse a vida deles. Ora os royaltes nunca foram das pessoas mais fracas, eles são das empreiteiras, das empresas privadas que espoliam juntas a grande cadeia de produção petrolífera. Mas, os poderosos mostra que simples fato de habitarmos o mesmo estado da federação é suficiente para haver homogeneidade de interesses quanto ao assunto.
E se somos uma federação, é justo sim que as riquezas naturais sejam repartidas.
abs,
NIlson
Concordo contigo, Nilson. O governador Cabral poderia chorar, mas por outros e justos motivos, que, aliás, não lhe faltam.
O que mais me espanta é dizer que sem os royalties não vai dar pra fazer a Copa e a Olimpíada...
Quer dizer então que contaram com o ovo no rabo da galinha?
Que diabo de governador é esse que primeiro compra e depois pensa em como vai pagar?
Excelente postagem! Eu e meu marido conversamos sobre esse mesmo assunto ainda hoje durante o café da manhã. É impressionante o quanto a mídia do sul maravilha, aí incluído o sudeste, tem uma visão deturpada da realidade.
Quando se fala em retirar a fatia do bolo de lá, todos gritam dizendo que isso será extremamente danoso, mas quando querem retirar fatia do bolo d outras regiões do país, aí lembram que vivemos em uma federação e todos devem ser tratados de forma igual.
Impressionante...
Francisco ,
Acho que o desastre finaceiro , ecologico perpetrado no Pará via uma lei mal intencionada que isenta de impostos produtos primários fazendo do estado extrator uma barriga de aluguel de interesses espúrios e hj privados (aliás muito mal privado) , uma das maiores violências da história economica recente no Brasil , aliás todo país minimamente decente isenta de impostos da exportação , produtos que tenham avalor agregado ; agora oleo , minérios todos taxam pra ter uma reversão donde vai ficar o buraco.Com relação ao Rio acho que o Rio deixou de ser capital federal sem ter uma contra-partida do que perdeu , assumiu o estado na fusão imposta pela ditacuja sem a contra-partida da repartição dos impostos estaduais que teve que fazer pra bancar o estado , na época, completamente falido e estas são as razões da degradação do estado nas últimas décadas e não o Brizola , como a direita quer fazer crer; portanto acho justo que briguem pelo estado dessa vez.
O interessante Francisco é saber como funciona legalmente a questão de lavras em relação a federação.
Abraços
Tadeu
Não gera crescimento desordenado? Você só provou estar falando de um assunto que não sabe, em uma região que não conhece a realidade e provavelmente nunca pôs os pés.
Se a exploração do petróleo em alto mar não gera esse crescimento demográfico todo, a presença de empresas satélites, órgãos e braços da Petrobrás que se instalaram no litoral norte fluminense, principalmente Macaé, gerou sim um crescimento desordenado.
Só por curiosidade, Macaé triplicou a população em um período de pouco mais de 20 anos. TRIPLICOU.
Rio das Ostras cresceu cerca de 10% ao ano entre 2000 e 2007. Em 7 anos ela dobrou de população.
Muitos dizem que os royaltes são mal empregados. Em Macaé e Campos dos Goytacazes são sim - essas cidades são quase sinônimo de corrupção.
Mas em outras três, no mínimo, que citaria (a saber: Rio das Ostras, Carapebus e Cabo Frio), os royaltes são sim bem empregados e são sim essenciais tanto para a população quanto para as finanças municipais.
Henrique,
Seu argumento merece reproche.
Leia um post que fiz, alguns acima deste, citando estudo de um economista sobre a melhoria da qualidade de vida das cidades que recebem royalties do petróleo. Não sou eu que digo: há estudos sobre o tema que contradizem sua afirmação a respeito da melhoria de cidades interioranas do Rio.
Mas a discussão não é essa: é evidente que os royalties farão falta ao Rio de Janeiro. Mas eles também fazem falta ao Pará, e nosso Estado é a maior província mineral do planeta. Repito: do planeta.
Pois bem: inobstante isto, temos um dos piores IDHs do Brasil, um dos piores índices de distribuição de renda, os maiores problemas ambientais e agrários do país, e vemos a verticalização da produção acontecer a quilômetros daqui, em outros Estados da Federação. As decisões a respeito destes e outros aspectos decorrentes da mineração são tomados, pasme!, no Rio de Janeiro, onde fica a sede mundial da Vale. A Vale, cuja menina dos olhos são as minas do Pará. A Vale, contra a qual ninguém por aqui reclama, ninguém promove campanhas, amparadas pela mídia, como esta que está ocorrendo no RJ.
Fora isso - e você certamente também não conhece a região -, a imigração no sul do Pará, de gente desesperada que vem nos trens da Vale dos rincões do Maranhão, do Piauí e de outros Estados, atrás de um sonhado Eldorado que nunca alcançam, é algo que não existe igual no resto do país. Não compare este fator com o que acontece no Rio de Janeiro. Não há comparação.
Disso, infelizmente, ninguém fala.
Apesar do mau humor inicial, obrigado por sua leitura e comentário. Venha sempre.
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