quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tirando o véu

A Bélgica pode ser o primeiro país europeu a proibir, através de uma lei, o uso de burca em espaço público. A comissão de assuntos interiores do Parlamento belga já aprovou o projeto de lei que será votado logo depois do recesso de Páscoa. O principal motivo da proposta de lei é a questão de segurança: a versão radical do chador não permite a identificação de quem a veste. A vice-presidente da Comissão Executiva dos Mulçumanos na Bélgica, Isabelle Praille, diz que as mulheres que usam burca ficarão excluídas da vida social e do mercado de trabalho belga. Para os parlamentares, é mais um passo para "libertar" as mulheres que se submetem às interpretações mais rigorosas do Alcorão. E vale lembrar, que esse primeiro passo foi dado por unanimidade de todos os partidos na Comissão parlamentar. O tema conseguiu unir os políticos flamengos (que falam néerlandês) e os políticos valões (que falam francês) - um fato raro no país completamente dividido entre as comunidades linguísticas.

3 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Edvan, qual seria a punição para um flagrante do uso da burca?
Você vê no dia-a-dia em Bruges ou Bruxelas muitas mulheres usando-a?
Eu imagino que a discussão continue acirrada, mesmo após a promulgação da lei.
Abs.

Edvan Feitosa Coutinho disse...

Scylla, o projeto de lei prevê multa de até 100 euros e mais sete dias de prisão. Mulheres de burca se vê poucas, e elas estão mais em Bruxelas e Antuérpia, que são metrópoles com grande número de imigrantes do norte da África e de outras regiões mulçumanas. Agora, é comum ver mulheres de chador (o véu sobre a cabeça, que não esconde o rosto). Há escolas, principalmente na região flamenga, que proibiram o uso do véu por alunas e professoras. Já houve protesto e o caso está para ser julgado na Corte Suprema ainda neste semestre. Foi criada até uma associação pelo uso do chador que se chama BOEH (Baas over eigen hoofd) ou, em livre tradução, dono da própria cabeça. É uma questão delicada na Europa: como manter as liberdades individuais com tanta imigração de pessoas vindasde culturas tão diversas? Aqui há movimentos também contra o casamento forçado pelos pais, uma "tradição" mantida já pela segunda ou terceira geração de imigrantes mulçumanos na Europa, que às vezes acaba em crime de honra. O movimento surgiu depois do assassinato de Sadia Sheik, uma jovem belga de origem marroquina que, aos 20 anos de idade, foi morta porque não quis se casar com quem os pais escolheram. Detalhe: o assassino foi o próprio irmão da vítima.

Scylla Lage Neto disse...

Deu para sentir a complexidade deste multifacetado tema e da simultânea fragilidade deste imbricado mosaico religioso/cultural que constitui a "nova" Europa.
Valeu!