Senhores (as) leitores (as), que tal a idéia de uma linha imaginária em que o objetivo principal é costurar uma teia sonora, a partir de um tema musical qualquer e sustentá-lo com apurado bom gosto, técnica impecável, variar o tema dentro de ambiente em que observa-se a clara intenção de fuga: isso mesmo! Uma fuga angustiante e ao mesmo tempo recorrente ao objetivo principal do tema; tudo isso sem descaracterizar a idéia inspiradora sonora, ou seja, sem macular a base dos acordes ao qual se imaginou no princípio da composição?!
Parece difícil imaginar tal tese?
-- Eu mesmo respondo:
Além de difícil, isso é tarefa que poucos arriscaram-se a fazê-la.
Hummm! Alguns certamente dirão. Que texto prolixo Val-André! Ocorre que é isso mesmo.
A técnica da fuga, quando falamos em música clássica é algo estupendo, dificílimo de executar; absolutamente compensador para os músicos que a dominam, algo como um êxtase supremo que abraça os sentidos, atingindo certeiramente o âmago da alma, fazendo aqueles que têm o privilégio da atenção; o gosto pelas belas coisas dessa vida; a busca pela realização completa de um termo passageiro, porém, nunca fugás.
Assim, descrevo Johan Sebastian Bach ao acumular um inigualável portfólio de Tocatas & Fugas, só comparável a outro gênio musical, em seus momentos mais inspirados ao piano e na arte da composição para Orquestra: Mozart.
Em música, a fuga é um estilo de composição contrapontista, polifônica e imitativa, de um tema principal, com sua origem na música barroca. Na composição musical o tema é repetido por outras vozes que entram sucessivamente e continuam de maneira entrelaçada.
Começa com um tema, declarado por uma das vozes (instrumento condutor) isoladamente. Uma segunda voz entra, então, "cantando" o mesmo tema mas noutra tonalidade, enquanto a primeira voz continua desenvolvendo com um acompanhamento contrapontista. As vozes restantes entram, uma a uma, cada uma iniciando com o mesmo tema. O restante da fuga desenvolve o material posterior utilizando todas as vozes e, usualmente, múltiplas declarações do tema.
Estas técnicas estilísticas todas, típicas de várias músicas de J. S. Bach, das suas invenções, das aberturas, nas partitas, tocatas, e especialmente usada nas fugas, deram-se origem primeiramente na forma musical chamada de cânone, mas que Bach elabora mais ainda, explorando a fuga com a forma de variações sobre o tema, variando o tom, o ritmo e especialmente a voz, com uso de imitação, assim como com uso de tema retrógrado, de inversão do tema, ou espelhando-o, modulando-o, expandindo-o, sintetizando-o, ou transpondo-o, em fim, utilizando ao máximo exaustivo das demais técnicas da forma de tema e variação na fuga, que o próprio nome já indica, como se o compositor estivesse fugindo e perseguindo o tema (perseguindo todas as pequenas partes do tema espalhados pela música) com cada uma de suas diversas variações.
A fuga evoluiu durante o Século XVIII, a partir de várias composições contrapontistas: ricercares, caprichos, canzonas, fantasias. Compositores do barroco intermediário e final, tais como Dieterich Buxtehude (1637–1707) e Johann Pachelbel (1653–1706) fizeram grandes contribuições para o desenvolvimento da fuga e o gênero atingiu o ápice de sua maturidade nas obras de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Com o declínio de estilos sofisticados do contraponto no fim do Período Barroco, a popularidade da fuga como um estilo de composição enfraqueceu-se, eventualmente abrindo o caminho para a forma-sonata, a qual aprecio de paixão. Contudo, compositores de 1750 até o dia de hoje continuam a escrever e estudar a fuga com vários propósitos; elas aparecem no trabalhos de Wolfgang Amadeus Mozart na dupla fuga barroca, que já fora usada antes por Bach e Haendel (ie. no "Kyrie Eleison" do Réquiem em Ré menor-1791), e Beethoven (i.e. no fim do "Credo" da Missa Solemnis-1822), e muitos outros compositores como, Anton Reicha (1770–1836), Dmitri Shostakovich (1906–1975) escreveram ciclos completos de fugas. Felix Mendelssohn (1809–1847) também foi um compositor prolífico de fugas que mantêm um forte vínculo com o estilo de Bach e ainda assim soam novas e originais. As fugas de Mozart também são tão, ou mesmo mais, aderentes ao estilo barroco quanto as de Mendelssohn.
A palavra fuga vem do latim fugare (perseguir) e fugere (fugir). As variações incluem: fughetta (uma pequena fuga) e fugato, uma obra ou seção parecendo uma fuga sem, necessariamente, aderir às regras de formação de uma fuga. A forma adjetiva de fuga é fugal.
Acompanhem comigo, uma aula magistral de tocata & fuga de J.S. Bach e que encerro com uma bela Cantata pois, será o gancho para o próximo post em que discursaremos sobre esse outro pilar da técnica clássica.
Acredito que gostem tanto como eu aprecio selecionar o melhor de meu material. Quase todos fora de catálago.
Set List
1. Toccata and Fugue, for organ in D minor, BWV 565 (BC J37) |
2. Cantata No. 51, 'Jauchzet Gott in allen Landen,' BWV 51 (BC A134): Jauchzet Gott in allen Landen |
3. Cantata No. 140, 'Wachet auf, ruft uns die Stimme,' BWV 140 (BC A166): Wachet auf |
4. Brandenburg Concerto No. 4 in G major, BWV 1049: Allegro |
5. Orchestral Suite No. 3 in D major, BWV 1068: Air on the G String |
6. Concerto for harpsichord, strings & continuo No. 1 in D minor, BWV 1052: Allegro |
7. Cantata No. 208, 'Was mir behagt,' (Hunt Cantata), BWV 208 (BC G1, G3): Sheep May Safely Graze |
8. Orchestral Suite No. 2 in B minor, BWV 1067: Polonaise |
9. Orchestral Suite No. 2 in B minor, BWV 1067: Menuet |
10. Orchestral Suite No. 2 in B minor, BWV 1067: Badinerie |
11. Cantata No. 147, 'Herz und Mund und Tat und Leben,' BWV 147 (BC A174): Jesu, joy of man's desiring |
12. Brandenburg Concerto No. 2 in F major, BWV 1047: Allegro assai |
* Fotografia de Val-André de quadro em que J.S. Bach atua na corte de Frederico, O Grande: tocando órgão diante do rei, em 7 de agosto de 1747, na cidade de Postdam, Alemanha.
5 comentários:
Tu sabes que, nessas horas, eu aplaudo de pé as tuas seleções, não?
Sim, claro amigo.
Além da beleza inigualável de tais peças. A música é extremamente relaxante, antídoto contra esses dias agitados do cotidiano moderno e anti-stress.
Me esforçarei para que a série não pare. Ocorre que meu tempo está realmente apertado em ano eleitoral.
Mas, avante.
Prezado Val,
Excelente texto e boa seleção.
Já tive o prazer de assistir a uma apresentação do mestre Sivuca, onde no dia ele tocou em nome de Deus (só assim posso qualificar tamanha foi emoção que contagiou a sala Cecília Meireles)"Quando eu me Lembro, de Luperce Miranda" e "tocata e fuga em Ré Menor, do Santo Padroeiro da Música Moderna.
Só agora entendi que lá naquela "barrinha" de suas postagens onde se lê "divshare" pode se ouvir as músicas.
Prezado, outro dia escutei um cd que para mim se tornou obrigatório, é uma transposição das Variações de Goldenber de Bach para o acordeon, no link abaixo é possível fazer o download:
http://pqpbach.opensadorselvagem.org/j-s-bach-1685-1750-variacoes-goldberg-transcricao-para-acordeao/
abs,
NIlson
Prefiro música de Bar, para devaneios.
E quem disse que eu não as aprecio também, anônimo?!
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