A morte deixou de matar por três vezes, na história da literatura universal.
Na época em que Zeus mandava sobre a Terra, o rei grego Sísifo, tido como o mais esperto dos mortais de seu tempo, enganou a morte por duas vezes e dela conseguiu se safar. Atraiu a ira dos deuses do Olimpo. Após Tânatos, a deusa ceifadora, finalmente fazer seu serviço, Zeus impingiu ao grego um castigo eterno, depois que ele atravessou o Styx: Sísifo rolaria eternamente uma pedra montanha acima; quando estivesse chegando ao cume do monte, a pedra se soltaria e ele teria que recomeçar seu trabalho.
Na literatura contemporânea, a morte parou de matar por vontade própria. Resolvida a mostrar sua utilidade aos mortais, a morte, na pena do português José Saramago, humanizou-se e chegou inclusive a se apaixonar. Tudo para ao final retomar sua eterna lida, um fardo para ela e o terror de todo e qualquer ser humano, mas um instrumento útil para as políticas de Estado, para a Igreja e para outros que sem a morte – incoerência possível – não vivem.
Na vida real, parece que a morte deixará de matar pela primeira vez. O arquiteto Oscar Niemeyer saiu esta manhã do hospital, com alta, após doze dias de internação por conta de uma infecção urinária.
Não creio que a vida eterna reservará ao notável brasileiro um castigo, como o de Sísifo, ou uma constatação, como no caso do livro do nobelizado lusitano. Até porque, como notório comunista, é ele ateu; vida eterna não lhe apetece, por nela não acreditar. Talvez por isso Niemeyer continue a viver a única vida que acredita que terá: ele certamente sabe que ainda tem muito a contribuir para o embelezamento das paisagens urbanas do nosso mundo.
Vida longa, Niemeyer.
Um comentário:
Rapaz
Gosto destas suas participações. Mesmo eventuais.
E as geladas? Quando vamos tomá-las novamente. Tenho algumas novidades aqui em casa.
Abs
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