Por vezes me pego pensando na morte. Na dos próximos, na minha, na de quem só conheço de ouvir falar, ou na de outro anônimo, como eu, que tenha morrido em circunstâncias terríveis.
Penso em como deve ser senti-la chegando, ou como é sequer saber de sua proximidade, como nas tragédias em que a morte colhe alguém de surpresa e de repente.
Não sei se isso vem da idade, da chegada da maturidade, ou de já ter visto o fim da vida de pessoas queridas. Pode ser que seja consequência inevitável da minha natureza melancólica. Talvez decorra de luto recente em família. Certeza tenho, contudo, que a recorrência destes pensamentos se deve em muito pela violência que está nas ruas, todos os dias, e que me faz viver sobressaltado dentro da minha própria casa, ou do meu trabalho.
Já tive a sorte de viver no Primeiro Mundo. Visitei-o outras vezes, depois de adulto. Lá, não tenho medo de andar na rua, seja de noite, de madrugada, ou em qualquer lugar. O temor da morte fica para a ida e para a volta, para o inevitável voo que demanda, apesar da tecnologia reconfortante, uma boa dose de sorte e esperança. Mas em terra permanece uma sensação de segurança que não sinto em minha cidade há muito tempo.
Quando mais jovem, sem ter carro, andava de noite a pé pela cidade. Ia da Batista Campos ao Umarizal caminhando, sozinho ou com amigos, em busca dos bares que frequentávamos. Quem sabe se por irresponsabilidade, não sentíamos medo. Mas o fato é que nunca fui abordado, assaltado ou ameaçado em minhas andanças noturnas. Sempre caminhei em paz e sempre chegava a meu destino sem qualquer temor.
Eram outros tempos... Hoje, quando lembro disso, imagino que nunca o faria novamente. Não há quem possa fazer sentir ao cidadão belenense a certeza de estar vivo, quando chegar a hora de ir para casa.
Evidentemente, há culpados por tal situação, e não são somente os que estão na rua, à espreita dos desavisados. Todos sabemos dos responsáveis de gabinete, quem são, o que fazem (ou deviam fazer). Se não há reação contra estes culpados, é porque além de amedrontados, tornamo-nos passivos. Hoje, para os que podem, é preferível sair daqui que ficar torcendo para não ser o próximo, ou exigir providências de quem pode melhorar nossa vida.
E a cada dia mais, a morte povoa o meus pensamentos. Mas não só os meus, infelizmente.
2 comentários:
E aí dr. que onda é essa, tá muito novo ainda. hahahahahah Eu por exemplo sempre fui destemido, nunca tive medo de morrer até 05 anos atrás quando perdi minha amada mãe. Depois disso tudo mudou, e eu apesar de ver e carregar muitos cadáveres no interior (sul do Pará), um insensível em potencial, quando se torna policial perde-se muito da sensibilidade, percebi e vi que a morte era real. A própria Bíblia, o livro eterno, aí fundamento o que eu digo, diz que não devemos nos preocupar com o amanhã, pois ele não nos pertence. Exemplo prático, as flores mais belas, reis queriam se vestir igual e não podiam, pois, só a Deus pertence as coisas importantes, incluindo nós. Um grande abraço!!!!
Meu caro Alan,
A morte não povoa meus pensamentos à toa. Fosse unicamente a morte natural, não haveria porque ter medo. Seria possível iniciar e terminar as coisas neste mundo.
O que me assusta é a morte violenta, a que nos pega na rua, nas mãos de um bandido ou no tráfego. Essa não há como evitar; ela não depende somente da própria pessoa, mas dos outros: daquele que pode nos matar e daquele que poderia fazer algo para evitar. E é nos outros que reside o meu medo.
Infelizmente, em Belém, a morte anda nas ruas, em busca dos desprevenidos. É a tal "sensação de insegurança", como debochadamente se falou na eleição passada.
Forte abraço.
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