Entre as lembranças da ditadura na minha infância guardo algumas imagens de televisão, que assistia na casa de um tio já falecido. Naquela época existia a pena de morte no Brasil para aqueles considerados inimigos de Estado, pena que tinha correspondência com o conceito de segurança nacional que permeava de cabo a rabo a Constituição Federal de 1967. Nesse tempo também os EUA estabeleciam a estratégia de ganhar corações e mentes na Guerra do Vietnã, que terminou originando um documentário clássico hoje disponível em DVD. Pois foi nesse tempo que a televisão brasileira (teria sido o Jornal Nacional?), veiculou uma reportagem em que dois prisioneiros políticos, condenados à morte, faziam diante dos lares brasileiros a chamada autocrítica de seus atos políticos na guerrilha urbana, com as retrancas de chavões de que seus atos contra o governo militar resultavam de lavagem cerebral e torturas dos comunistas vermelhos. Ao final desses discursos de arrependimento, nós espectadores ficávamos então sabendo que a pena capital dos "terroristas" arrependidos tinha sido comutada pelo Estado.
Eu, que nos meus nove ou dez anos estava habituado a ler Manchete, Realidade e com curiosidade olhar os cartazes de inimigos públicos número 1, que abundavam no Aeroporto de Val-de-Cães, aqueles depoimentos que assisti na televisão nunca me convenceram por razões que até hoje não sei dizer. Claro, eu sei que no limiar da vida, ou no seu atroz aviltamento na tortura, qualquer ser humano pode vacilar e condescencer, entregando-se aos ditames do torturador naquela hora de singular gravidade, jamais compreensível por quem nunca a sofreu e, peço, Deus nos livre, jamais venha a sofrer.
Não julgo assim com falso moralismo as atitudes dos presos políticos no momento peculiar e limite em que as tenazes de seus algozes dilaceravam seus corpos e espíritos, especialmente por que alguns raros não condescenderam, foram martirizados, e esse peso torna maior a responsabilidade de emitir qualquer juízo de valor. E aqui fica uma advertência quanto a seriedade do assunto a todos anônimos que fazem revisionismo histórico por pecúnia, canalhice ou com a cegueira própria de quem entende eleições como campeonato de um inconsequente futebol de várzea: uma disputa entre xurupita futebó e regata contra cunsca esporte clube.
Por que esse assunto tão cacete? Decerto não é por afinidade por coisas tristes, pois posso ser o tipo que leva um escritório na cabeça, mas de modo algum sou um indivíduo soturno e melancólico. Faço-o preocupado com as conversas que tenho ouvido sobre uma chamada bala de prata que a candidatura do PSDB reservaria como tiro de misericórdia à candidata do presidente Lula nos momentos finais da campanha, "revelação" de última hora que pouco tempo daria de contra-argumento para a coligação dos partidos que apoiam a candidatura petista.
Inicialmente pensada como jugulamento de uma candidatura agonizante, mas que os efeitos práticos da malograda campanha do PSDB não comprovaram nesses termos, a medida agora seria reservado para abrir a oportunidade de um segundo turno por meio de uma rede de televisão de alcance nacional, onde em programa de circulação coast to coast, de sul a norte e de leste a oeste, levaria ao ar matéria com as famílias de pretensas "vítimas" da guerrilheira Dilma, em que a edição do programa arranjaria de forma conveniente para que o passado da presa política e atual candidata a presidente parecesse a morte do Brasil; como se a subjetividade de resisitir não fosse um direito reconhecido na Ciência do Direito; como essa mulher não tivesse sido vítima de torturas que a torturam até hoje e, além do mais, não tivesse cumprido pena nos porões horripilantes da didatura desde que fora apenada em tribunais militares onde antes de ir a julgamento corria o acusado o risco de morrer, e ser julgado a revelia inclusive, num drama kafkiano em que nunca na vida real a advertência do Inferno de Dante tenha parecido tão consequente: Vós que entrais, deixai na porta qualquer esperança.
A inspiração autoral dessa trupe de irresponsáveis estrategistas políticos, segundo os boatos em franca proliferação, trataria mais uma vez de repetir a receita do bolo, aplicada no Chile de Allende e recordada nos encontros recentes da candidatura Serra com os saudosistas da redentora, os derradeiros protagonistas da chamada ditamole, que a história recente da imprensa brasileira registra com nenhum constrangimento. A matéria que seria urdida como golpe fatal contra Dilma contaria com "depoimentos" de familiares de mortos que nunca existiram, e teria além da assessoria dos saudosistas a luxuosa contribuição de um certo cabo da Marinha brasileira, hoje residente na fronteira do Chile com a Argentina, tido na época como liderança de esquerda, mas que depois, confirmado pelo próprio em entrevista publicada na Veja anos atrás, fora ele comprovado como agente do serviço secreto da ditadura e da CIA com a missão de revelar os planos de resistência, identificar, prender ou cassar quem se opusesse ao golpe militar de 1964.
Para avaliarmos a periculosidade desse indivíduo dos anos de chumbo, nas entrevistas de anos passados, o marginal teria sugerido que entregara a própria amante grávida, militante política sincera, ao verdugo que tirou-lhe a vida. Corre em boca pequena que o cachê da atual participação desse fáustico e fantástico personagem fora avaliado pelo próprio em 5 milhões de dólares, depois ajustado com os contratantes em 1 milhão de reais. No mundo dos espíritos, Mário Covas deve estar envergonhado com essa história que tornou-se caricatura de si própria.
Eu, que nos meus nove ou dez anos estava habituado a ler Manchete, Realidade e com curiosidade olhar os cartazes de inimigos públicos número 1, que abundavam no Aeroporto de Val-de-Cães, aqueles depoimentos que assisti na televisão nunca me convenceram por razões que até hoje não sei dizer. Claro, eu sei que no limiar da vida, ou no seu atroz aviltamento na tortura, qualquer ser humano pode vacilar e condescencer, entregando-se aos ditames do torturador naquela hora de singular gravidade, jamais compreensível por quem nunca a sofreu e, peço, Deus nos livre, jamais venha a sofrer.
Não julgo assim com falso moralismo as atitudes dos presos políticos no momento peculiar e limite em que as tenazes de seus algozes dilaceravam seus corpos e espíritos, especialmente por que alguns raros não condescenderam, foram martirizados, e esse peso torna maior a responsabilidade de emitir qualquer juízo de valor. E aqui fica uma advertência quanto a seriedade do assunto a todos anônimos que fazem revisionismo histórico por pecúnia, canalhice ou com a cegueira própria de quem entende eleições como campeonato de um inconsequente futebol de várzea: uma disputa entre xurupita futebó e regata contra cunsca esporte clube.
Por que esse assunto tão cacete? Decerto não é por afinidade por coisas tristes, pois posso ser o tipo que leva um escritório na cabeça, mas de modo algum sou um indivíduo soturno e melancólico. Faço-o preocupado com as conversas que tenho ouvido sobre uma chamada bala de prata que a candidatura do PSDB reservaria como tiro de misericórdia à candidata do presidente Lula nos momentos finais da campanha, "revelação" de última hora que pouco tempo daria de contra-argumento para a coligação dos partidos que apoiam a candidatura petista.
Inicialmente pensada como jugulamento de uma candidatura agonizante, mas que os efeitos práticos da malograda campanha do PSDB não comprovaram nesses termos, a medida agora seria reservado para abrir a oportunidade de um segundo turno por meio de uma rede de televisão de alcance nacional, onde em programa de circulação coast to coast, de sul a norte e de leste a oeste, levaria ao ar matéria com as famílias de pretensas "vítimas" da guerrilheira Dilma, em que a edição do programa arranjaria de forma conveniente para que o passado da presa política e atual candidata a presidente parecesse a morte do Brasil; como se a subjetividade de resisitir não fosse um direito reconhecido na Ciência do Direito; como essa mulher não tivesse sido vítima de torturas que a torturam até hoje e, além do mais, não tivesse cumprido pena nos porões horripilantes da didatura desde que fora apenada em tribunais militares onde antes de ir a julgamento corria o acusado o risco de morrer, e ser julgado a revelia inclusive, num drama kafkiano em que nunca na vida real a advertência do Inferno de Dante tenha parecido tão consequente: Vós que entrais, deixai na porta qualquer esperança.
A inspiração autoral dessa trupe de irresponsáveis estrategistas políticos, segundo os boatos em franca proliferação, trataria mais uma vez de repetir a receita do bolo, aplicada no Chile de Allende e recordada nos encontros recentes da candidatura Serra com os saudosistas da redentora, os derradeiros protagonistas da chamada ditamole, que a história recente da imprensa brasileira registra com nenhum constrangimento. A matéria que seria urdida como golpe fatal contra Dilma contaria com "depoimentos" de familiares de mortos que nunca existiram, e teria além da assessoria dos saudosistas a luxuosa contribuição de um certo cabo da Marinha brasileira, hoje residente na fronteira do Chile com a Argentina, tido na época como liderança de esquerda, mas que depois, confirmado pelo próprio em entrevista publicada na Veja anos atrás, fora ele comprovado como agente do serviço secreto da ditadura e da CIA com a missão de revelar os planos de resistência, identificar, prender ou cassar quem se opusesse ao golpe militar de 1964.
Para avaliarmos a periculosidade desse indivíduo dos anos de chumbo, nas entrevistas de anos passados, o marginal teria sugerido que entregara a própria amante grávida, militante política sincera, ao verdugo que tirou-lhe a vida. Corre em boca pequena que o cachê da atual participação desse fáustico e fantástico personagem fora avaliado pelo próprio em 5 milhões de dólares, depois ajustado com os contratantes em 1 milhão de reais. No mundo dos espíritos, Mário Covas deve estar envergonhado com essa história que tornou-se caricatura de si própria.
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