Edu tentava dormir no calor desesperador da tarde belenense, mas algo o impedia. Dorinha, sua esposa adorada e malhada, havia esquecido o celular na mesinha de cabeceira e o maldito tocava incessantemente o seu trim-trim eletrônico.
Vinte ou trinta ligações não atendidas depois, veio o golpe de misericórdia no merecido repouso do dedicado fisioterapeuta: o toque de mensagem recebida.
Aquilo já era demais, até mesmo para alguém muito paciente como Edu, e, ao levantar num salto atlético, resolveu ler o texto da mensagem.
Antes não tivesse lido, pensou Edu. “ÉEEEEEEEEEEEGUA”, gritou em sincero desespero.
“Por que? Por que li?”, pensou.
A telinha do iphone 4 mostrava: "Dora, gata, kd vc? Tua calcinha vermelha não sai da minha cabeça. Preciso te ver, tchotchosa!"
Edu chorou, gritou, urrou e sentiu que precisava tomar uma decisão séria. Foi aí então que resolveu ligar para Helga, a melhor amiga de Dorinha.
Helga o acalmou e aturou o choro do amigo por 30 ou 40 minutos, prometendo encontrar Dorinha e esclarecer o mistério da mensagem.
Enquanto esperava no seu pequeno e alugado apartamento no bairro da Pedreira, Edu viu a noite cair pela janela, e contou 4 aviões passando rumo à cabeceira 02 de Val de Cans.
Lá pras 20:30 h, bem no horário eleitoral gratuito, chegou Dorinha, de cabelo molhado e cara límpida.
A sua expressão cristalina deu previamente a Edu a certeza de que tudo acabaria bem, mas ele fez pose de bravo: “Dorinha, lê e me explica esta mensagem! Agora”.
Após ler e reler, com um misto de surpresa e certeza, Dorinha despejou o golpe final nas dúvidas do esposo: “Edu, só pode ser do advogado tarado que malha na minha academia. Ele me segue quando malho de manhã e também quando volto à tarde”.
“E a calcinha, me fala, me explica como ele sabe que tu usas calcinhas vermelhas, como?!”, disse Edu, já mais calmo por dentro (mas ainda com semblante fechado).
“Amor lindo e chatinho, deve ter aparecido um pedacinho pelo meu short. Você sabe que elas são tão pequichititas que só você, Eduzinho, pode vê-las”.
Edu, em franca pose de galo na rinha, fez então sua participação final na primeira parte desta história de amor bem paraense: “Olha, Dorinha, tu armaste essa confusão toda, então vais desfazer tudo sozinha. Fala pra esse cara que é pra ele não mais te mandar mensagens, OK?! Nenhumazinha, pois senão na próxima vez quem vai tomar as providências sou eu. Entendido?”
Dorinha, sem conseguir esconder a metade de um meio sorriso, o abraçou e disse: “amorzinho, eu trouxe o bolo de macaxeira que o meu Duduzinho tanto gosta...”.
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