O Brasil que aparece na parte de baixo do mapa, o chamado Centro-Sul, é o de cima na distribuição das benesses de toda ordem. Sempre foi e são baixos os prognósticos de que a situação mude, até porque as distorções serão defendidas com unhas e dentes.
Quem me conhece ou já me leu por aqui ou em meu outro blog sabe que, até prova em contrário que ainda não me foi apresentada, sou contrário à divisão do Pará. Mas o corporativismo tem mexido com os meus brios. Na semana passada, o senador paulista Eduardo Suplicy invocou o parecer do jurista paulista Dalmo Dallari para defender que não apenas os paraenses, mas todos os brasileiros se manifestem acerca da criação de novos Estados, porque todos são "interessados" no resultado.
Agora, políticos do Sudeste querem criar regras limitando as bancadas parlamentares dos novos Estados. Eles temem uma "desproporção" na representação no Congresso Nacional, ou mais especificamente na Câmara dos Deputados, sempre repetindo a cantilena dos Estados mais e menos populosos. Mais gente, mais votos, mais direitos, mais recursos financeiro-orçamentários. A lógica da proteção às minorias, tão em voga hoje em dia, não chegou à Geografia do Brasil. Afinal, não interessa a nenhum canalha lá de baixo que os Estados menos populosos sejam historicamente discriminados e tenham os menores índices de desenvolvimento humano. Não lhes interessa, também, que essas adversidades, ao contrário do que eles pensam, não são determinadas por inferioridade intelectual ou preguiça, mas pela expoliação crônica desde a colonização da país. Afinal, há recursos florestais, hídricos, minerais e de outras espécies que só existem aqui. Portanto, o país possui um imenso débito com as regiões Norte e Nordeste. E com a eventual criação de novas unidades federativas, não ganharemos nenhum privilégio, apenas paridade.
Uma coisa que aprendi é que os maus são audaciosos e os bons, tímidos. Até passou pela minha cabeça votar pela criação dos novos Estados, só para mostrar aos canalhas que nós podemos, sim, sair debaixo de suas sandálias. Pena que, para isso, precisaríamos que o Pará tivesse bancadas parlamentares dignas e comprometidas mas, que me conste, isso ainda não foi registrado na História.
PS - Se tiver estômago, leia os comentários à matéria.
4 comentários:
Caríssimo amigo Yúdice.
Há 25 anos milito em prol da emancipação do futuro estado do Carajás.
Aqui você pode baixar um completo estudo sobre a viabilidade econômica, e social que nos motiva.
Sou um dos colaboradores do estudo.
Quem o coordenou já havia apresentado com êxito o estudo de viabilidade do Estado do Tocantins, naquela época, um sonho dos moradores do "corredor da miséria goiânia".
Acesse o estudo aqui, bastando clicar na foto na coluna superior direita http://www.deputadogiovanniqueiroz.com.br/portal/
Quanto sua idéia de paridade, ela é um tanto contraditória, uma vez que só será possível se emanciparmos os dois novos estados.
Debate aberto.
Esclareço, Val:
1. Minha posição pessoal é contra a divisão.
2. Mas se houvesse a divisão, eu exigiria a paridade de representação, e não a oportunista criação de novas regras.
Abraços.
Caro Amigo,
Não vamos generalizar, este é um erro que muitas pessoas cometem quando debatem um assunto, e sim, existe uma bancada que luta pelos direitos dos Nortistas e Nordestinos, não é pelo fato que uns não arregaçam as mangas para trabalhar em prol do bom e novo que todos se utilizam da mesma maneira. Quanto aos Canalhas Sulistas, nem todos são como parecem. Sou paulistano, nascido e criado em São Paulo, morei por um tempo no Pará e sou a favor da divisão do Estado, por que eu o conheço então não me encaixo como canalha, certo? Quanto ao débito com a Região Norte que todo o páis tem, é uma grande mentira, já que para nós, aqui do sudeste, 1 kg de carne de boi custa R$ 22,00 e 100 gm de castanha do Pará R$ 7,00. Acredito que o "débito" já está sendo pago.
Matheus, a expressão "canalhas", em meu texto, não designa as pessoas favoráveis à divisão do Estado, e sim os políticos que querem mudar as regras do jogo agora, somente agora, para restringir direitos do povo de cima. Talvez meu texto tenha sugerido tamanha generalidade, mas eu realmente não me referiria de modo tão desrespeitoso aos divisionistas, ainda mais sabendo que um dos mais aguerridos deles é nosso colega aqui do blog.
No mais, preciso lhe dizer que o débito mencionado está longe de ser pago. Não é porque alguns produtos de consumo são mais baratos aqui que a fatura já foi paga. O número de produtos mais baratos no Brasil de baixo é muito superior, sem falar na qualidade ou na própria capacidade de acesso.
No entanto, eu me refiro a coisas muito mais graves. Compare a lucratividade da exploração do petróleo, em favor do Rio de Janeiro, e os royalties de toda a exploração mineral no Pará. Responda se as nossas universidades, estradas, hospitais estão ao menos no mesmo nível de desenvolvimento? Quantos doutores existem no Estado de São Paulo? Quantos há na região Norte inteira?
Não, meu amigo, essa fatura ainda nem começou a ser paga!
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