quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lugar errado; hora errada

O assunto da manhã de hoje nos hospitais da nossa cidade é a prisão da médica Cíntia L., plantonista da Santa Casa, ocorrida ontem, acusada de omissão de socorro a uma parturiente de gêmeos, que vieram a falecer.
Todo o episódio, bastante lamentável e explorado exaustivamente pela mídia local e nacional, ilustra o estado de penúria crônica em que se encontra a nossa saúde.
Nós, médicos, sabemos que o estado do Pará tem provavelmente uma das piores condições de saúde pública do Brasil, e que tal fato remonta a tempos longínquos, tendo atravessado sem melhoria alguma por vários governos e prefeituras.
Eu não me sinto confortável para abordar o tema com a profundidade merecida, inclusive por não trabalhar no serviço público, mas também me sinto desconfortável com a vulnerabilidade da minha profissão.
Se, em tese, todos os hospitais da cidade e do estado estão trabalhando com falta de leitos e/ou de recursos técnicos, ser plantonista na urgência ou nas UTI's ou meramente trabalhar em qualquer Unidade de Saúde embute um risco de se defrontar com voz de prisão, diariamente.
Basta estar de plantão no lugar errado e na hora errada.

13 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Já fiz uma postagem inicial a respeito, em meu outro blog, onde abordo temas jurídicos. Minha constatação é a mesma: estar no lugar errado, na hora errada. Dê uma olhada lá.

Scylla Lage Neto disse...

Vou espiar, Yúdice.
Um abraço.

Pedro do Fusca disse...

Caro Scylla.
Todo mundo sabe que a saude esta na UTI de Hospital publico, mas não compreendo como alguem deixa morrer duas crianças indefezas por falta de atendimento. Quem atendeu esta pobre senhora foram os guardas de segurança que prestam serviço na Sta. Casa. No meu entendimento alguem que entedesse de saude era quem devia ter atendido esta senhora. Houve falta de humanidade das pessoas que fizeram este atendimento e certamente agora estão com dor na conciência pois somente o nascimento em ambulancia de uma criança é que a médica atendeu esta parturiente. A grande pergunta que fica é o porque ela não atendeu logo esta senhora? Scylla, se este fato tivesse ocorrido em um país sério certamente todos que fizeram este péssimo atendimento estariam presos e seriam julgados por falta de socorro.
Pedro do Fusca

Carlos Barretto  disse...

Pior, é quando nenhum médico, por conta destas imutáveis condições da saúde pública no Pará, quiser trabalhar na porta destes hospitais sobrecarregados. A quem vão prender mesmo?
Pior ainda, é a esperteza política de quem se elege prometendo investir em saúde e blá, blá, demitir uma honrada diretora de hospital, para tirar o seu "uc" da reta de cobranças que a sociedade com justeza clama.
Mas pior mesmo, é a cara de pau de quem opta por avaliar tudo de forma genérica, simplória e sensacionalista.
Aí, eu posso mesmo dizer: 2012 está mais próximo do que nunca.

Abs

Pedro do Fusca disse...

Certamente a culpa da morte destas crianças não foi a parturiente! Alguem foi culpado, o que não é correto é não prestar socorro a quem precisa e principalmente se tratado de saude, se tratando de eminente risco de vida. O caso da não prestaçao de socorro por parte de quem de direito é um fato que devemos lamentar e o povo atravez da imprensa mostra todo o seu descontentamento com quem faltou com a dignidade ao deixar morrer estas duas criancinhas. Gostaria de saber como este pessoal a esta hora dormirá? Acho que se tiverem dignidade certamente não dormirão em paz. Se este pessoal ganha pouco sabiam quando foram admitidos que seus vencimentos seriam estes e se aceitaram agora tem que trabalhar para justificar tal vencimento, do contratio é so pedir demissão e arranjar um emprego que pague melhor.
Pedro do Fusca
Pedro do Fusca

Silvina disse...

So uma pergunta ao Pedro do fusca: você estava lá? Presenciou o ocorrido? Se eu fosse medica do sistema publico, atendia todo mundo, mesmo c ordem contrária, dai, chamava a imprensa para ver o caos. Atender todo mundo , sem estrutura, é o mesmo que não atender ninguém! Ou pior... Se tem algum culpado nisso é o govrnador do Estado.

Silvina disse...

Ah! E concordo totawnte com o dr. Carlos Barreto.

Scylla Lage Neto disse...

Pedro, eu discordo do seu comentário em alguns pontos.
A ordem de não atender, de não entrar a paciente na Santa Casa, veio da direção e não foi gratuita. A superlotação absoluta e a total falta de recursos têm mais a ver com o planejamento (ou com a ausência dele) governamental do que com a humanidade de quem quer que seja.
Os médicos de plantão prestam assistência aos internados e não podem controlar o que ocorre no escalão acima deles e nem na portaria do hospital.
Eu acho que em breve chegaremos ao ponto mencionado pelo Barretto: não haverá candidatos a trabalhar como médico em hospitais de fachada, sucateados ou maquiados para fins eleitoreiros.
No tempo do finado prefeito Hélio Gueiros, o PSM ficou quase sem neurocirurgiões, depois que vários pediram demissão por baixos salários e condições aviltantes de trabalho.
O Ministério Público obrigou-os a retornar e nós aprendemos que, no serviço público, o especialista, ao ser contratado, corre o risco de não poder sequer pedir demissão.
Acho que se começarmos a trabalhar sob ameaça de prisão por incapacidade estatal de gerência, então estará oficializado o caos.
Abs.

Pedro do Fusca disse...

Caro Scylla.
Reconheço que é dificil trabalhar em Órgão publico principalmente por falta de estrutura para que se possa desempenhar um bom serviço e como voce e o Flanar são democraticos tambem tenho o direito de discordar dos comentários. Onde comem 5 certamente comem 6 e por ai vai. Não consigo entender o não socorro tanto na Santa Casa quanto no Hospital Gaspar Viana a esta pobre brasileira. Duvido se estas pessoas que negaram atendimento não estejam arrependidas pela morte prematura destas crianças. Todos sabem que o Governo paga mal seus servidores, mas isto jamais justifica o que aconteceu com estes brasileirinhos. No meu entedimento ninguem pode negar atendimento médico mesmo com o Hospital superlotado e isto foi negado a esta parturiente. Depois do caldo entornado houve o atendimento e já era tarde, as crianças já estavam mortas. Se tivesse sido feito o atendimento as crianças possivelmente estariam salvas e o Estado do Pará não estaria sendo noticia nacional sobre este grave e lastimavel fato. Será que esta gente que negou socorro a esta pobre mulher estão conseguindo dormir?
Pedro do Fusca

Scylla Lage Neto disse...

Pedro, se for feito um filme escondido por 24 horas em qualquer serviço de urgência da nossa capital, as imagens revelarão com clareza quem deve ser preso e quem deve permanecer em liberdade.
Ah, os gabinetes dos que decidem devem ser filmados, também...
Respeito a sua opinião e sei que existem médicos mais ou menos dedicados, assim como enfermeiros, admnistrativos e etc., mas o que eu gostaria mesmo é que as nossas duas facções de mídia, ambas sensacionalistas, se prestassem DIARIAMENTE ao registro do que passa a nossa população.
Concordo com a postagem do Arbítrio di Yúdice: a mídia pré-julgou mal, e saiu perdedora
Aliás, todos somos perdedores neste lamentável episódio.
Um abraço e saiba que suas opiniões são sempre bem-vindas por aqui.

Scylla Lage Neto disse...

Silvina, eu acho que a principal virtude de um médico deve ser o comprometimento dele com cada paciente, tentando realmente ajudá-lo na resolução dos problemas de saúde.
E você seria uma excelente médica, sem sombra de dúvidas.
Que tal a idéia?
Bjs.

Lafayette Nunes disse...

A retórica é a mesma, entra ano e sai ano. O governo atual (em qualquer tempo, diga-se), sempre piora o que estava bom, que pirou o que estava bom, que piorou o que estava bom, e por aí vai, até à época do descobrimento do Brasil.

Depois de um certo tempo retroagindo a sentença, observa-se que, tanto faz, como tanto fez, pode-se, até, elaborar o raciocínio ao contrário, de antes pra cá, não importa, o que importa é colocar o problema no passado ou até no futuro, para que, no presente, não se chegue à solução nenhuma, ou, quando sempre, a mais verbas, para mais reformas de reformas estas que não foi possível, a tempo e hora, serem realizadas na gestão passada e passada e passada e passada e passada...

Assim é tal "raciocínio politico-cínico" que, tanto faz a "cor" da gestão. Desgraçadamente, pode-se colocar no lugar do Serviço Público de Saúde quaisquer outros Serviços: Segurança, Educação, Transporte, etc... sempre haverá explicação e justificativa do que não foi feito, e sempre haverá promessa do que será realizado.

E a terceirização da terceirização da terceirização do serviço público?

Tá bom, paro por aqui.

Scylla Lage Neto disse...

Falou e disse, Lafayette!
Um abraço.