Nomear os filhos como Júnior, Filho ou mesmo Neto infere uma deferência especial, uma espécie de homenagem vitalícia.
Quando os antepassados foram ou são boas pessoas, gente digna e respeitável, bom para os homenageados, que já levam uma carga positiva e, ao mesmo tempo, ruim para eles, pois com a carga vem uma certa responsabilidade embutida.
E quando não foram tão exemplares assim, bem, aí não há muito o que ser feito. Talvez se esconder em apelidos seja a melhor solução...
Eu tenho o nome do meu avô, Scylla Lage da Silva, que já havia sido homenageado no nome do meu pai, Scylla Filho.
Paradoxalmente tive pouca convivência com ele, que faleceu em pleno jogo Brasil X Peru, na Copa de 1970 e as poucas lembranças que tenho podem ter sido (pelo menos parcialmente) induzidas por relatos posteriores.
Recentemente encontrei a foto que ilustra esta postagem e resolvi adotá-la no meu perfil por um tempo, entendendo que trata-se de “outro” Scylla, mas, em termos genéticos e psicoevolutivos (neologismo criado neste segundo) também é, ao menos um pouquinho, o “mesmo” Scylla.
Como ele foi médico, muito escutei e escuto falar de pacientes e principalmente de parentes (filhos e netos) de pessoas que ele tratou de tuberculose, operou a vesícula ou mesmo fez o parto. Isto sempre fez dele um herói para mim, pois trabalhando numa era de especializações e sub-especializações médicas, eu jamais tive a capacidade de resolver uma gama tão grande de problemas de saúde, como o meu avô fazia.
Outro lado dele que me fascina é o da poesia. O Vovô Scylla escrevia ótimos poemas com extrema facilidade e parece que conquistava as moças assim, aliando poesia com generosidade e um jeito muito, muito suave. Mas sobre isso me censuro de comentar...
É muito curioso como sinto saudades de um Vovô Scylla que pouco conheci. Saudades do seus passos largos, calçados por enormes sapatos, dos animais que conservava na casa da Tv. Dom Pedro (garças, macacos, papagaios, galinhas, muitas galinhas!), dos tiros de espingarda que dava para espantar as mucuras que vinham atacar o galinheiro à noite (hoje me pergunto se não eram mucuras de duas pernas?!) e, principalmente, do que poderíamos ter vivido juntos por mais um punhado de anos.
Shakespeare escreveu em Sonhos de Uma Noite de Verão, algo assim como “o que há num nome? O que chamamos de rosa, não teria, com outro nome, igual perfume?”.
No nome, no DNA e nos neurônios das áreas da memória afetiva, certamente há muito o que se entender.
Ou tentar entender.
6 comentários:
Tal vô, tal neto! Que lindo o vô Scylla! Ao que parece, o Neto herdou certas habilidades do vô. Inclusive a de escrever tão bonito.
Puxa, obrigado, Silvina.
De fato eu adoro poesia, como o meu avô, mas sem a habilidade de escrever. Apenas ler boa poesia já me fascina.
Kss.
Égua do post bacana, Scylla. Gostei muito.
Abs.
Obrigado, Francisco.
E por curiosidade, você nomeou algum filho como Neto?
Abs.
Scylla, Bela postagem. Eu faço parte desta poesia genética. Um certo dia meu filho João (aquele que é amigo do Enzo) me questionou sobre seu nome, que não continha NETO, já que eu era JUNIOR. Não foi fácil tentar explicar. Eu tinha vontade de colocar o meu nome nele, mas tinha passado por experiência frustrante que muito me traumatizou. Porém não posso negar que meu pai, Geraldo Roger Normando, tinha uma queda pelas letras e, além de ler, escrevia muito bem. Hoje João tem exatamente o mesmo perfil literário do avô, que o viu pela última vez quando tinha 8 anos.
Roger, gostei do termo "poesia genética"!
E pelo que percebi, mesmo sem ser Neto, Filho ou Júnior, o João é definitivamente um Normando.
Um abraço.
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