Talvez por
estar revendo a série ANOS INCRÍVEIS, ando meio saudosista dos tempos
“inocentes” da faculdade de medicina.
Houve uma
fase, creio que por volta do segundo para o terceiro ano, em que a programação
de sábado passava obrigatoriamente por
uma ida à então aprazível ilha de Outeiro (apelidada em disfarce de Waikiki),
ainda de balsa, regada a rock, vodca ou gim e, é claro, paqueras e babados.
Íamos em 2,
3 e até 4 carros, numa tropa heterogênea formada por calouros e veteranos da
farra light.
Após algumas
idas, muitas histórias e um punhado de estórias, acabou acontecendo o
inusitado: alguns de nós, burgueses iniciantes, adquirimos namoradas fixas
oriundas de Icoaraci (carinhosamente
chamada de Icoarabeach).
Os meses
subseqüentes transformaram-se em uma maratona pela Rodovia Augusto Montenegro.
Como eu e uns 3 amigos tínhamos namorada “oficial” em Belém, zarpávamos após o
expediente do namoro para umas horas extras na Vila Sorriso. E sempre ouvindo
Iron Maiden, AC/DC, Judas Priest,
Motorhead e bandas afins.
E o curioso
é que eu acabei gostando até mais da namorada icoracience, que estudava no
Colégio Nossa Senhora de Lourdes, freqüentava a pipoca dançante do Santa Rosa e
era bonitinha como a boneca Barbie, em detrimento da voluntariosa e mimada
namorada belenense.
Meu pai, meu
confidente desde então, dava risadas com os meus relatos, sem se aprofundar nos
seus comentários.
Mas, num
chuvoso domingo, um acontecimento totalmente imprevisto (por mim), mudou o
curso da minha história pessoal.
A minha
Barbie sorridente se atrasou muito para a pipoca do Saint Rose (codinome usado
por nós em Belém), e ao chegar, esbaforida, me puxou para um canto e disse,
sussurrante, algo assim como: “Scylla, me escuta sem falar nada. Eu não posso
ficar mais contigo, pois estou com uma outra pessoa que está para chegar aqui
na tertúlia. Mas não fica triste não, que eu já arrumei uma namorada pra ti. É minha
grande amiga, tá? E cuida bem dela, viu?”
Tudo
aconteceu tão rápido, na velocidade dos neutrinos, e em poucos minutos a minha
ex-Barbie, cuja foto eu ainda levava escondida na carteira, estava nos braços
de outro, que chegou em poderosa bike Monark Barra Forte, e eu tinha ao meu lado uma
delicada criatura, de cheirosos cabelos castanhos, uma verdadeira réplica da
boneca Suzi.
Posso
resumir dizendo que eu e a minha Suzi seguimos juntos por meses a fio, num amor
louco que apenas a mortal Rodovia Augusto Montenegro podia destruir.
E eu não sei
exatamente como o namoro acabou, talvez apenas se diluindo no tempo, no espaço
e nos propósitos.
E ainda
hoje, posso ouvir as gargalhadas de meu finado pai quando lhe contei sobre a
troca de namoradas.
Desta vez
ele fez um único comentário: “filho, a vida é muito, mas muito engraçada mesmo.
E um dia tu vais lembrar com carinho das meninas de Icoaraci”.
Hoje,
anos-luz depois e monogâmico assumido, eu lembro.
11 comentários:
Sensacional, Dr.
Abraço e boa noite.
Muito bom. Houve uma época em que eu e meus amigos íamos a essas festas juninas que aconteciam e ainda acontecem no meio das ruas. Uma, ali na Duque, bem distante dos toques Duduzeiros dados atualmente, era bem famosa. Arrumei namoradinha, uma Suzi. Houve vários encontros e depois não lembro mais. Teu relato é muito bem escrito, legal de ler. Também fiquei nostálgico. Ponto. Muito legal.
Abs
Scylla, meu querido... É por isso que eu te amooooo... E ainda dizem que homens mão brincam de boneca!!!!!
Hahahahahahahahahahahaha... Morremdo de rir em plena manha de segunda feira.
Queria eu ter ouvido as gargalhadas de teu pai, que já soube de uma comadre de minha mãe, que era paciente dele, que ele era "o máximo". Bem, tal pai, tal filho!
Monogamia é tudo de bom. Eu bem sei.
Quanto a Icoarabeach, tenho história incríveis do tempo de minha primeira faculdade, de Enga Elétrica, na UFPA (1987). Que turma! Many boys, few girls, a lot of vodka and orange juice (lanjal) and, much flirting and kissing. Nirvana, Scorpions and Guns n´Roses!!!!!
Hoje: monogâmica por convicção, suco de laranja puro, pouco pressa e sempre Nirvana, Scorpions, Guns n´Roses e Aerosmith.
Depois quando eu digo que sou um "padre" comparado a alguns parceiros de blog, ninguém acredita. E olha que essa história já tem algum tempo, hein?
Quer dizer então que temos aqui um fogoso "corcel da vila sorriso", é?
Rsssss
Valeu, Lucas!
Um abraço.
Edyr, estamos todos ficando nostálgicos, não é mesmo?
Acho que as Suzis foram como as goiabas que colhemos do quintal do vizinho na nossa juventude...
E obrigado pelos elogios.
Abraços.
Silvina, em vez do clássico "sex, drugs and rock'n'roll", veio a versão "monogamy, orange juice and rock'n'roll".
Ainda bem que ficou o rock'n'roll...
Kss.
Reverendo Charlie Barretto, suas bênçãos!!!???
Rssss.
Quando você vai contar aquelas histórias passadas no Vadião?
Ahahahahahah!
Sei nada disso não, eu.
Kkkkkkk
O Reverendo Charlie sabe uma minha do "líquido sinovial". A história se mistura com as nossas vidas no PSM da 14, quando estava ainda no terceiro ano. É tão engraçada quanto a história do Da Silva, só que não tinha o terceiro personagem, meu pai Geraldo Roger Normando.
Roger, não pode contar só o trailer - tem que contar a história toda. O reverendo, digo, o santo, pode emitir...
Rsssssss.
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