Quem acompanha a trajetória da Apple, já deve ter uma razoável noção do comportamento habitual da empresa, em relação a produtos inovadores em fase de desenvolvimento. Apenas para fundamentar este post tentarei elencar algumas características importantes deste modus operandi:
- a empresa procura manter segredo absoluto de novos produtos em desenvolvimento em seus laboratórios;
- a despeito disso, alguns supostos detalhes parecem vazar na mídia especializada, com risível frequência;
- é perfeitamente factível que a empresa manipule hábilmente a mídia especializada, deixando vazar informações falsas. Assim, além de confundir a concorrência e proteger seu lançamento, mantém elevadas as expectativas (e, frequentemente, a criatividade de supostas fontes confiáveis);
- sendo assim, muitos vazamentos com assustadora frequência, não passam de um amontoado de bobagens, originados da poderosa equação que une a "cortina de fumaça" manejada pela empresa com o "sensacionalismo" da mídia faminta;
- Entretanto, em 2010, ao esquecer num bar uma versão experimental do iPhone 4, (possivelmente embalado num etílico happy hour) um descuidado funcionário feriu de morte todo esforço de sigilo da empresa. O protótipo foi então encontrado por alguém, que o vendeu por irrisórios 5000 dólares ao Gizmodo. Em seguida, agindo rápido, o blog mostraria ao mundo não só o novo design, mas também parte do hardware que mais tarde acabaria confirmado em seu lançamento oficial. Esta novela protagonizada por Gray Powell entraria para a história como iPhonegate.
Feita esta introdução, olhem bem o jeitão do cidadão abaixo.
Imagem: Wikipedia |
Quem trabalha na área de design, talvez já o conheça. Pessoalmente, como um diletante que acompanha a empresa de Cupertino, só ontem fui apresentado ao designer francês Philippe Starck. Por alguma razão, ontem ele acabou envolvido num efêmero (mas intenso) terremoto que tomou de assalto a mídia de tecnologia.
O fenômeno foi deflagrado no final da manhã com a uma matéria originalmente publicada no periódico francês Le Figaro. De teor inevitavelmente explosivo, ela informava que Stark estaria trabalhando num projeto revolucionário em parceria com a Apple que seria apresentado ao mundo até o final de 2012.
Foi o que bastou para que, em poucos segundos, toda a mídia especializada repercutisse exaustivamente o suposto fato. Blogs, redes sociais, newsletters, todos pareciam envolvidos em cega excitação. Contudo, este autentico frenesi receberia um balde de água fria com espantosa rapidez. Procurado para comentar o assunto pelo All Things Digital, um porta-voz da Apple afirmou que a empresa não possui nenhum projeto ou produto em parceria com o designer francês. Na verdade, talvez a manifestação do porta-voz tenha sido um pouco mais enfática. Tipo "não sabemos sobre o quê Philippe Stark está falando". Em resumo, o factóide que nasceu de manhã, foi aparentemente demolido em menos de 5 horas.
Meteórico não?
Desde o início - especialmente se considerarmos o histórico delirante de rumores envolvendo produtos de Cupertino - a história toda parecia muito esquisita. Com efeito, não fosse o (talvez questionável) renome do Le Figaro e o fato de Stark ser uma celebridade em sua área, a história nem teria chegado à ribalta.
Aos 63 anos, assinando uma extensa variedade de projetos que incluem discos rígidos, escovas de dente, móveis, veículos entre outros, o designer é inegavelmente bem sucedido. Além de um sofisticado website pessoal, uma carteira invejável de clientes (Adidas, Fossil, Microsoft, Lacie, Baccarat, Oregon Scientific, Puma, Sansonite, etc) Stark possui um verbete exclusivo na Wikipedia, que reforça ainda mais sua aura de ultrahipermega profissional.
Mas então, afinal de contas, qual a razão para um profissional já suficientemente contemplado pela fama, ver seu nome envolvido em um reles boato?
Nem queiram saber. Neste ponto, a impressão que tenho é que a coisa toda parece ainda mais distante de chegar ao fim. As especulações agora dão conta de que Philippe Stark estaria trabalhando junto com Steve Jobs no projeto de seu iate (citado na biografia autorizada de Walter Isaacson).
Enfim, parece razoável mudar de assunto. Porém, a mídia faminta precisa desta pauta eletrizante. Alguns, mesmo que (aparentemente) comprando a versão do porta-voz da Apple e elencando razões lógicas para a baixa probabilidade da estória ser verdadeira, finalizam seus textos deixando dúvidas no ar. Ou seja, é tudo mesmo improvável. Mas no passado, Cupertino já negou boatos que mais tarde seriam comprovados.
Péra lá, né? Quem está perdendo tempo agora sou eu.
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