O economista Mário Pochmann tem 50 anos e dirige o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-Ipea desde 2007. Ele dá uma entrevista a UOL/Folha na qual discute sua pré-candidatura à Prefeitura de Campinas/SP, pelo Partido dos Trabalhadores. Entre os muitos assuntos discutidos por Pochmann está o custo de manutenção da capital da federação brasileira: Brasília. Vale a pena ler este trecho da entrevista, pensando no que nos ocorreu há poucos meses, quando do Plebiscito sobre a separação do Pará.
Folha/UOL: Brasília tem o Fundo Constitucional, dinheiro que todos os brasileiros dão para Brasília, que equivale a cerca de 40% do que se gasta no Distrito Federal. Esse Fundo Constitucional deve ser perene, eterno, ou é possível imaginar que, no futuro, essa região e a capital consiga sobreviver sozinha sem esse dinheiro?
Marcio Pochmann: Eu acredito que é possível reduzir o peso do orçamento federal no financiamento da capital do Brasil. Mas isso pressupõe na verdade um projeto de médio e longo prazo. Nós estamos tratando desse ano inclusive do Fundo de Participação dos Estados e municípios. Está em debate também o tema dos royalties do petróleo. Nós estamos sabendo cada vez mais que as cidades que recebem royalties ou que recebem mais recursos não são necessariamente as cidades que melhor aplicam recursos, que possuem resultados sociais melhores. Brasília, por exemplo, é uma cidade que depende quase 40% de seu orçamento de recursos federais. Mas, no entanto, é uma cidade que está convivendo com o maior grau de desigualdade.
Folha/UOL: Por que isso acontece? Por que há tanta desigualdade, de distância entre ricos e pobres, que em Brasília é a maior do Brasil?
Marcio Pochmann: Certamente há várias razões para explicar isso. Talvez os dois principais sejam, em primeiro lugar, pela forte migração que a cidade e a região aqui de Brasília vêm recebendo. Migração muitas vezes atraída por acesso à terra, mas desacompanhada de oportunidade de trabalho. Há um risco inclusive de, em função disso, nós gerarmos aqui rapidamente uma nova baixada carioca [referencia à Baixada Fluminense]. Quer dizer, na medida em que você tem uma segmentação tão grande em salários e rendas maiores com população de baixa renda, isso gera certamente um quadro de difícil coesão social. E a outra razão da desigualdade é justamente o peso do setor público. Aqui em Brasília nós temos o cume da administração pública. É onde estão os ministros de maneira geral, o Poder Judiciário... Onde os salários são maiores. De forma que essa desigualdade provém então da forma com que hoje se montam os salários da administração pública em relação ao setor privado. E ao mesmo tempo pela forte atração de brasileiros que vêm para cá e, infelizmente, desconstituídos de empregos decentes.
Folha/UOL: Esse cinturão de miséria que vai se formando no entorno de Brasília, o sr. acha que se assemelha então a outros cinturões de miséria em grandes metrópoles brasileira?
Marcio Pochmann: Infelizmente nós não aprendemos com os erros ocorridos em outras regiões. E, ao meu modo de ver, nós estamos vivendo com um quadro acelerado de aumento da desigualdade na cidade, justamente por essa condição de atração de brasileiros que não têm, infelizmente, acesso a uma renda, a um emprego decente. Portanto aumenta a desigualdade, e esse fosso certamente leva a problemas cada vez maiores do ponto de vista da coesão social.
Folha/UOL: O sr. falou que o governo militar, a ditadura militar, 21 anos, de 1964 a 1985, desviou o foco e não trouxe indústria. Priorizou agricultura nessa região do país, inclusive aqui próximo a Brasília. Só que a ditadura militar acabou em 1985. De lá para cá os governos democráticos também não fizeram nada para mudar esse eixo de desenvolvimento na região?
Marcio Pochmann: O discurso dos governos democráticos nesses últimos 27 anos administrando Brasília, de maneira geral, são diferentes do discurso do regime militar.[...]
Um comentário:
Marise, um viés desse assunto, visto com os olhos de quem mora no DF, está no nosso Blogosfera:
O Distrito Federal acabou!
http://blogosfera2.blogspot.com.br/2012/03/o-distrito-federal-acabou.html
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