Os críticos de cinema, pelo menos na Europa, malharam o filme W./E. (no Brasil W./E - O Romance do século), dirigido pela pop star Madonna. O filme chegou mesmo a ser vaiado no Festival de Veneza em 2011. Assistimos o filme ontem, e a impressão que ficou é que a crítica torceu o nariz não pela obra em si, mas pela diretora. Se Madonna tivesse feito filme e deixasse outro diretor assinar a obra, por exemplo James Ivory (diretor entre outros de The Bostonians, Maurice e A room with a view) , talvez chovessem elogios.
W./E conta a história do rei Edward VIII que, em dezembro de 1936, abdicou o trono britânico, que tinha assumido em janeiro do mesmo ano, para viver com a americana divorciada Wallis Simpson. Assim, o casal protagonizou um dos maiores escândalos da realeza britânica e mundial.
Madonna optou por contar essa história verídica através de uma ficção paralela: em Nova York, em 1998, a jovem Wally Wintrhop vive um casamento falido com um egocêntrico médico psiquiatra. Ela é obcecada pela história de Edward e Wallis, e visita várias vezes a exposição de objetos do casal que vai à leilão na Sotheby's. Lá conhece um segurança, o imigrante russo Evgeni. A contemporânea Wally pensa que o romance de W./E. é a história de amor perfeita, mas à medida que se aprofunda, vê que falta contar essa história a partir da visão de Wallis Simpson. O filme chega a mostrar alguns momentos do final de vida do casal, que recebeu o título de Duque e Duquesa de Windsor, mas que viveu no exílio até o fim. O tratamento do governo britânico seria reação a uma suposta simpatia de Edward por Hitler.
O filme de Madonna consegue, no roteiro, o justo equilíbrio entre as histórias paralelas. É um filme romântico sem ser mel com acúcar. Na parte de produção, W./E. chega a ser impecável nos figurinos ( mereceu a indicação ao Oscar nessa categoria). A fotografia é bem cuidada e tem momentos que se vê que uma diretora está por trás de opções de ângulo, velocidade e edição. Também é interessante ver que Madonna tem um olho nouvelle vague: é clara a influência nela de algumas opções estéticas e narrativas do melhor cinema francês.
A trilha sonora é boa e a canção Masterpiece ganhou o Globo de Ouro de canção original. Enfim, W./E. merece ser visto.Um dos pontos positivos foi a escolha que Madonna fez dos atores. Não há caras famosas, nem badaladas, mas atores talentosos e que conseguem nos transportar para o clima do filme.
2 comentários:
Bela reflexão! Me parece que este tipo de reação se repete, e em uma série de campos artísticos. Se repete mesmo no nosso cotidiano...
Erika, eu acho que a Madonna, ao escolher contar a historia da Wallis Simpson, faz um pararelo com a historia pessoal dela, Madonna. Guardadas as devidas proporções, pois Wallis Simpson viveu num tempo que as estratégias de marketing ainda não faziam parte das preocupações das celebridades. Alias, Wallis pagou um preço alto demais por viver de maneira emancipada - era duas vezes divorciada antes de casar om Eduard VIII. Madonna sempre se serviu da midia e conscientemente paga o preço disso...
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