sábado, 19 de maio de 2012

Sobre nós!

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Ismael Machado é jornalista, professor e autor do livro Sujando os sapatos - caminho diário da reportagem. Com bastante desenvoltura, ele publica um artigo no Observatório da Imprensa no qual aborda os textos literários que estão sendo produzidos na Amazônia pela nova geração de escritores que, segundo ele, se negam a repetir o discurso regionalista. São eles, o paraense Edyr Augusto Proença; e o amazonense Milton Hatoum. Concordo com o Ismael Machado quanto ao fato de que  a escrita de Edyr Augusto Proença ocupa um espaço importante, ao apresentar o mundo urbano e caótico de uma das grandes metrópoles da Amazônia. E diria mais: o estilo de Edyr Augusto Proença investe esta apresentação de um realismo bastante renovado, por ser sintético e vigoroso. Mas discordo da leitura que ele faz da obra de Dalcídio Jurandir, em relação ao demasiado regionalismo de Dalcídio. Não sou uma especialista em literatura, muito menos naquela que se rotulou regional. Estou longe disso. Mas não vejo em Dalcídio Jurandir a pretensão de revelar um homem amazônico na dimensão do universalismo de Guimarães Rosa. Primeiro, a ideia de Sertão que o Guimarães Rosa vai  desenvolver, ao longo de sua obra,  produz uma subjetividade nos personagens  que já está contida em imagens historicamente construídas sobre o Nordeste; ou melhor, sobre o Sertão. Estão muito além da obra de Guimarães Rosa. Segundo, a água, de fato, representa essa imersão do homem da Amazônia em uma subjetividade pouco conhecida do circulo literário brasileiro. Ele mesmo - Ismael Machado - incorre neste estranhamento, ao considerar que isto define a constituição de uma identidade amazônica; e que é negativa aos leitores de outras plagas do Brasil! E por quê? Nem ele consegue responder. Tanto não consegue, que coloca essa questão na dimensão de um enigma, e nos reporta à Esfinge: decifra-me ou te devoro! Não penso que uma literatura, que remeta os leitores aos cenários amazônicos urbanos e modernos, tenha que enfrentar semelhante desafio. Nem acredito que Dalcídio Jurandir quisesse ser lido a tal ponto de modificar a sua estrutura narrativa para fora do seu desejo de escritor. Se escreveu com excessivo uso de termos regionais, era porque assim desejava sua escrita e seu talento. Não é preciso, para louvar os novos talentos literários que vivem na Amazônia, negar a estrutura narrativa vigorosa de Dalcídio Jurandir. Mas valeu o artigo por levar ao Observatório da Imprensa os escritores amazônicos que nasceram dentro da realidade urbana, e que são capazes de expressá-la com talento e vigor.

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4 comentários:

Edyr Augusto Proença disse...

Obrigado pelos elogios.
Bj

Marise Rocha Morbach disse...

Gosto muito do seu texto; você é belíssimo escritor; fico feliz ao ver a sua escrita sendo apreciada e sendo alvo de críticas e argumentações.

ismael machado disse...

Bom, só houve um erro de entendimento. Não digo que o Dalcídio Jurandir buscou fazer essa aproximação com o Guimarães Rosa. O que digo é que aqui, o fã-clube acadêmico dele tenta a todo custo inseri-lo no mesmo patamar.

Marise Rocha Morbach disse...

Obrigado pelo comentário aqui Ismael; não é nenhuma divergência grave; apenas questões de entendimento. Continue comentando sobre os nossos escritores: é sempre uma emoção. Principalmente prá mim que gosto imensamente de literatura; e que gosto muito do texto de Edyr Augusto Proença. Um abração.