terça-feira, 11 de setembro de 2012
Pré-preconceito
Ando meio on meio off por conta de um congresso, e quando me conecto de vez acabo por me deparar com notícias como esta, na Folha de São Paulo: o Supremo Tribunal Federal julga se o livro Caçadas de Pedrinho (1935), de Monteiro Lobato, pode ou não ser lido nas escolas brasileiras, por ter conteúdo de provável cunho racista.
Me declaro incapaz de opinar sobre a parte legal da questão, mas como leitor de Monteiro Lobato que fui na infância, me parece que a atitude do IARA (Instituto de Advocacia Racial e Ambiental) de levar o caso às últimas instâncias funciona pela culatra, despertando razoável curiosidade sobre o livro.
Que tal, em vez de proibir ou modificar os termos da época e as idéias do autor, usá-los justamente como exemplo negativo?!
Gerações leram a obra de Monteiro Lobato assim como a de Mark Twain (autor americano dos clássicos Tom Sawyer e Huckleberry Finn, que a partir de 2011 teve o termo nigger.retirado das edições norte-americanas), e sinceramente não creio que os referidos autores tenham semeado ou mesmo incrementado a hedionda ideia do racismo.
Enquanto isso, baixa-se gratuita- e livremente na internet Mein Kampf, de Adolf Hitler, em português ou em qualquer outra língua do planeta. E os direitos autorais da proibida obra, que pertencem ao estado alemão da Baviera, passarão a ser de domínio público a partir após 31 de dezembro de 2015. Adivinhem o que vai acontecer então!?!
Onde está o verdadeiro ninho da serpente a ser combatido?
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10 comentários:
O Brasil tem 3 Poderes. Mas apenas 1 insiste na ditadura.
Não há nada a ser combatido quando nos referimos a livros, apenas há o que ser elucidado, debatido e analisado.
É isso ou então que chamem logo os bombeiros!
Esta é uma reflexão necessária Scylla. Tenho acompanhado esta polêmica sobre o Monteiro Lobato. Fui leitora do Monteiro Lobato; meus filhos também. Considero perigosa a forma como se julga um texto como este.Parece que esqueceram o direito que temos a expressar nossas idéias e valores, e a capacidade que as crianças tem em abstrair sobre tudo. A capacidade que elas tem de imaginar...E isso Monteiro Lobato fez, como poucos autores fizeram em relação as crianças. Li este texto em diferentes épocas da minhas vida e não me lembro de ter desenvolvido qualquer pensamento racista por isso. A sua relação com Mark Twain foi ainda mais precisa. Não sei se você se lembra Scylla, mas há alguns anos, a polêmica se instalou nas escolas americanas em relação ao criacionismo e a teoria evolucionista? É lamentável que estes educadores se coloquem acima do bem e do mal. Sou favorável que este texto de Monteiro Lobato se mantenha no rol das leituras ofertadas nas escolas públicas: sou sim.
Daqui a pouco será a vez do Bulling. Esperem para ver...
Silvina, me parece que 2 dos poderes querem desestabilizar o estado e o terceiro quer oferecer algo como um "pino de segurança" ao sistema.
E olha que eu nem sou o pessimista de plantão!...
Falou, bonito, ASF!
Concordo integralmente.
Querem fritar logo Pedrinho e sua turma!?
Há tanta lenha disponível, não é verdade?
Marise, eu espero sinceramente que a obra seja mantida nas escolas, ou antevejo um enorme retrocesso, nos moldes criacionistas.
A propósito, quando o quadrinhista americano Robert Crumb lançou a bíblia em quadrinhos, o primeiro volume Gênesis, sofreu um razoável boicote pelos católicos em função da parte referente a Sodoma e Gomorra.
Curiosamente, 100% do texto do livro é original, do velho testamento.
Foi um caso inédito de quase auto-censura.
Vejo algo parecido com a censura do povo brasileiro a um escritor genuinamente nacional, como poucos o são.
Quem entende as criaturas que detêm o poder?!
Roger, a violência psicológica já impera entre nós!
Boa lembrança Scylla: Robert Crumb. Este é um belo exemplo de auto-censura. E isso torna evidente a incapacidade dos caras em lidarem com suas próprias crenças quando diante de "um outro olhar" sobre elas. Vá entender!
Quem entende os Homo sapiens sapiens, Marise?
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