segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Discurso cansado

O outro lado, o da política, é o lugar do discurso cansado, repetitivo, cuja silabação mantém o mesmo tom melódico das ladainhas, franciscanas ou beneditinas, em que o passado fica jogado na sarjeta, a céu aberto e o futuro parece tão fácil e simples quanto beber um copo d'água.
Como sempre fui eterno amante rosiano e fatalmente entregue a sua maior obra, "Grande Sertão: veredas", achei entre meus papiros esta do jagunço Zé Bebelo, que muito bem cai para esse dia de ressaca pós-eleição municipal de tanto discurso cansado. Diz assim:
"Dizendo que, depois, estável que abolisse o jaguncismo, e deputado fosse, então reluzia perfeito o Norte, botando pontes, baseando fábricas, remediando a saúde de todos, preenchendo a pobreza, estreando mil escolas. Começava por ai, durava um tempo, crescendo voz na fraseação o muito instruído no jornal. Ia me enjoando. Porque completava sempre a mesma coisa.”
Muito atual, não?

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