segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Máfia do Lixo 2

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A  questão do lixo é planetária, e não é de hoje, e movimenta, sem exageros, trilhões de dólares por ano. A dedução é fácil. São mais de sete bilhões de pessoas a produzir mais de sete bilhões de quilos de lixo por dia. A chamada Grande Belém produz duas mil toneladas por dia.  O lixo é, de qualquer maneira, um subproduto da atividade humana, residencial e industrial, que ninguém quer ver por perto, muito menos conviver. Não dá para varrer pra baixo do tapete. Há que haver uma solução e aí mora o busílis. O xis da questão. Historicamente sempre foi uma atividade secundária para o Poder Público. Como ainda hoje no Brasil é de responsabilidade exclusiva das prefeituras municipais. Quer São Paulo, Curitiba ou Bujaru e Cametá. Basta um terreno baldio, ermo, de preferência afastado do centro urbano e o problema está resolvido. Mesmo que a cidade cresça naquela direção, serão, pelo menos por um bom tempo, barracos de excluídos. A maioria a tirar seu sustento exatamente dali. Disputando com cachorros vadios, ratos e urubus. No caso específico de Belém, o lixo, em grande parte, teve uma função mais “nobre”: aterrou muitas ruas das favelas localizadas nas baixadas antes de se concentrar no Aurá. Pois bem, na maioria esmagadora dos municípios brasileiros, a realidade ainda é a mesma. No Estado do Pará, seguramente, a totalidade. Mais acima se falou que Belém era privilegiada (assim como toda cidade da Amazônia) por dispor de vastas áreas desflorestadas ou não, já que as instalações em si ocupam área relativamente pequena, e no restante seria até bom que houvesse bosque a servir de barreira de proteção e filtragem ao miasma que certamente se formará, das gentes circunvizinhas. Mas também é privilegiada por ter a oportunidade de barrar para estudar e corrigir, no início, a história de um crime anunciado. Este projeto, ou projetos, - não obstante ser altamente lucrativo o monopólio do lixo da Grande Belém-, trazem no seu bojo, de maneira oculta, qual um gigantesco Cavalo de Tróia, um perigo ainda maior. Muito maior. Verdadeiro negócio da China. Ao pé da letra:  A importação de lixo de outros países!  E é negócio lícito. Sujo, mas lícito. A legislação brasileira permite a importação de lixo do exterior. E já vem acontecendo amiúde principalmente no Sul do País, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, inclusive, e principalmente, com contêineres de lixo tóxico. É aí que entra a história da máfia. A Italiana. Ou as máfias, ou, ainda, a Ecomáfia. Travestidas de empresas regulares, com organograma, administração profissional e tudo, açambarcaram o negócio do lixo em várias cidades da Itália. Uma das empresas holding, chama-se Ecoverde (http://super.abril.com.br/cultura/mafia-616475.shtml ), quer singeleza maior? Com projetos técnicos e rigor europeu devem ter construído aterros sanitários modelares fiscalizados pelas autoridades italianas e, talvez, até pelo Ministério Público de lá. Os contratos eram os tais público-privados, ou, no popular, terceirizados. Isso, em pouco mais de dez anos produziu o maior escândalo/catástrofe que a Itália já viu desde a Segunda Guerra. O lixo industrial tóxico, local e importado de vários países da Europa, principalmente da Alemanha, misturado e camuflado com os tais resíduos sólidos urbanos, foram parar nos “seguros” aterros sanitários. E os efeitos daquela bomba-relógio de que se falou no início, não demoraram muito se fazer sentir. Segundo o escritor Roberto Saviano (que vive sob severa proteção policial, semelhante a outro escritor, Salman Rushdie), em seu livro Best seller mundial – Camomorra –  denuncia: “Ecomáfia”.  “O Triângulo da Morte está a poucos quilômetros de Nápoles. Lá, meninas menstruam aos 7 anos, ovelhas nascem com os olhos abaixo da boca e as taxas de câncer são as mais altas da Itália. Graças à indústria do lixo industrial dominada pela Camorra”. A produção do queijo mussarela, verdadeiro patrimônio nacional italiano, caiu 40%, desde que as búfalas pastaram em antigos aterros, diz-que, recuperados e passaram a produzir leite tóxico. Vários países europeus proibiram a entrada de mussarela da Itália, bem como o Japão e a Coréia do Sul. Milhares de búfalos foram mortos e incinerados. O presidente Berlusconi, pessoalmente, supervisionou a operação. Esta mesma máfia é acusada de afundar dezenas de navios carregados de lixo tóxico ao longo da costa italiana. Embora muito mais se pudesse falar sobre o assunto, quero finalizar dizendo que a solução para o lixo urbano no Brasil, talvez passe pelos tais aterros sanitários. Talvez, não, mas o que a mim me parece claro é que não passa pelo açodamento que está ocorrendo em Belém com a licitação do aterro do Aurá e a implantação do de Marituba, este, inclusive, sem sequer ser cogitada licitação por ser empreendimento dito particular. Nem o tal prazo de lei para que as prefeituras “dêem ao lixo o destino adequado” é motivo para que se negligencie com as cautelas para evitar um desastre para a atual e as futuras gerações. Esse prazo, verdadeira espada de Dâmocles parece até de caso pensado, já que pouquíssimas prefeituras têm condições técnicas e intelectuais, sequer para buscar recursos para tal empreitada. Assim, são presas fáceis para o primeiro Salvador da Pátria que se apresentar e, sem qualquer insinuação malévola, máxime às vésperas de um pleito eleitoral municipal em segundo turno.

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André Costa Nunes


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