domingo, 24 de março de 2013

37 anos do golpe na Argentina


- Vou levar um “Página|12” e um “Clarín”, por favor.

Com leve sorriso nos lábios, o senhor grisalho e de olhos sábios me consentiu detrás da banca de revistas, num verde arranhado pelo tempo e com restos dos belos fileteados tipicamente argentinos:

- Muito bem, assim você põe as informações na balança.

Ele me arrebatou uma breve gargalhada e palavras de cumplicidade.

Sim, os dois jornais são diamentralmente opostos. É mais que notório. Então o melhor mesmo é poder ler pelo menos dois, um de cada linha editorial, para se tirar uma média.

A manchete do Clarín deste domingo? “Cristina bloqueia outros seis milhões a Scioli”. Mais do mesmo. O jornal que resiste à Ley de Medios e bate forte diariamente na presidenta abriu uma foto do abraço entre o papa que sai e o papa que entra. Entre as outras chamadas, a saída da Vale da mina de potássio em Mendonza e a dupla de goleadores Messi e Higuaín.

Já o Página|12 dedicou sua capa ao golpe de estado que aqui chamam de cívico-militar – e não apenas militar, como é mais comum no Brasil – e que completa hoje 37 anos. A data já era aguardada e mobilizava boa parte da sociedade, que tomou vários espaços portenhos, num encontro de repúdio ao golpe e homenagem aos que padeceram e ainda padecem seus reflexos.

Particularmente, acharia lindo que todos os jornais disputassem a melhor capa e o melhor conteúdo sobre um tema absolutamente essencial para a sociedade. Afinal, 30 mil mortos e desaparecidos políticos não é pouca coisa, pra não falar das outras violações. Mas os jornais não preferiram assim.

Desta vez, segui o dia sem me dedicar às manifestações de rua como eu pretendia. Estaria isolada do tema, não fossem os jornais e o movimento nas ruas, que começou desde a manhã, com pequenos grupos de pessoas empunhando faixas, bandeiras e trajando roupas alusivas à resistência. Final do dia, os metrôs carregavam muitos jovens ainda a plenos pulmões regressando das marchas e atos públicos. Uma energia de arrepiar.

Alguns grupos, organizados ou não, demonstravam suas diferenças políticas, mas estavam todos juntos no dia hoje.

Sugiro a página da antiga Escola Armada, transformada em espaço de memória e defesa dos difreitos humanos: http://www.espaciomemoria.ar/

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