sexta-feira, 3 de maio de 2013

Ronaldo de Moraes Rego na Elf Galeria


Paraense de Belém, Ronaldo Moraes Rêgo é arquiteto formado pela UFPA, e faz parte do quadro docente da Faculdade de Artes Visuais, na mesma Instituição. Estudou gravura com Valdir Sarubbi e Evandro Carlos Jardim. Em seus trabalhos utiliza da gravura, pintura e colagem, com o mesmo perfeccionismo. Participa de exposições desde 1977, tendo recebido vários prêmios nacionais em sua carreira. 
Na Elf, a primeira exposição de Ronaldo Moraes Rêgo aconteceu em 1982. A mais recente, em 2012, foi a exposição pop-up coletiva denominada “Cozinha de Artista”, quando criou, em edição especial, objetos de arte a partir de elementos de descarte num atelier de arte: vidro, madeira, recipientes de tinta e pincel. Agora, Ronaldo volta a ocupar individualmente as paredes da Elf com uma mostra de pinturas resultantes das pesquisas que vem
desenvolvendo, ancoradas, sobretudo, na experiência possibilitada pela docência.
A elegância no traço e estética pessoal imprimem às obras a assinatura de um artista que tem sua percepção voltada para elementos da natureza, de onde abastece a sua inspiração e para onde dirige o olhar do apreciador.
A exposição inaugura neste sábado, dia 4 de maio, das 10 às 14h, e poderá ser visitada até 1 de junho - de segunda a sexta-feira, de 10 às 13h e de 15h às 19h, aos sábados de 10 às 14h, excetuando feriados.
Elf Galeria fica na Passagem Bolonha, 60. Nazaré. Belém – Pará

Leia o comentário a seguir, de Jorge Eiró:

Pós-modernidade é tudo o que se tem quando a natureza se foi embora para sempre. [Fredric Jameson]. Então, o que resta ao pintor? A representação de um mundo perdido? Não, o mundo enquanto representação a modernidade liquidificou faz tempo... O que nos resta nestes tempos pós-tudo, póstumos, oh, habitantes do deserto do real, é apenas o auxílio luxuoso do simulacro. Pois, há muito, meu caro amigo Ronaldo Moraes Rêgo, o atelier do pintor já não se encontra mais lá no meio do mato, à beira de um regato e de um bosque em flor. Projeto em parceria com o saudoso Henrique Penna e construído no sítio da família situado na Estrada do Mosqueiro, a cabana, refúgio idílico do Ronald, foi sitiada pela barbárie da nossa Idade Mídia e afugentou o pintor, um de nossos últimos românticos. O atelier, melhor dizendo estúdio, aloja-se num flat duplex situado nos altos do Umarizal, no coração do circuito treme-treme da Bell-Hell-City... De lá, por sobre as copas da densa floresta de concreto, aço e vidro, o artista mira suas velhas referências estéticas. Olha longe a linha do horizonte quebrada entre as torres da urbe e, a bordo de uma nave pinkfloydiana e jazzística, transporta-se numa trilha sonora viajando Miles and Miles away para outro espaço-tempo. Sonha com as reminiscências de um quintal do tempo, chuvoso, de um Porto Arthur nostálgico, bucólica ilha, de onde ainda detém registros das folhas, sementes, líquens, fungos, humos que por lá proliferavam naquele inverno amazônico eterno. Entre lapsos e relâmpagos de memória (nosso brain damage, meu caro...), o que soçobra da ressaca, dos escombros da modernidade sobre nossos ombros, são apenas lascas, cascas, sobras, sombras, vestígios de uma estranha civilização, diz o Chico. Um oráculo já alertou que o que vemos, vivemos, são apenas imagens-simulacro de um mundo há muito destruído. Ronald e nosso amigo Harold vezenquando relatam suas experiências de abdução, entre viagens siderais e almas penadas, narrativas hilariantes, mas que funcionam como fontes revigorantes das energias utópicas de suas pinturas. Ocorre que, no caso de Ronald, ao retornar do White side of the moon, os resíduos de elementos da natureza oriundos da velha Gaia que o pintor porta de volta à Terra, ao atravessarem o Cinturão de Van Allen, convertem-se em imagens digitais, as quais o pintor apropria em suas pinturas. Mestre do ofício, o pintor Ronald incorpora no atelier o alquimista das cores que é, atiçado por suas inúmeras referências, tantos pessoais como da pintura moderna, dentre as quais se destacam Bacon e Sarubbi, e elabora sóbrias e elegantes investigações cromáticas. Em suas expedições pictóricas o que mais o motiva, ele diz, “é que não sei o que vai dar” e, então, atira-se à surpresa, expresso na gestualidade do traço, no gosto táctil das propriedades matéricas da tinta e da tela, nos espasmos das cores que se consagram e no gozo, suculento, sexual, do ato criativo. Eis o que observamos nesta mostra, um ensaio pictórico acústico com um refinado colorido jazzístico de delicadas sonoridades cromáticas. Nessa transposição do natural para o virtual pictórico, entre acrílicas, aquarelas, gravuras e objetos, eis que emerge a recriação do mundo operada pelas mãos do artista, a velha mãe natureza revigorada em manchas de uma memória desmanchada. 
Jorge Eiró
Belém do Pará, maio de 2013.

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