De fato, não é desprezível comemorar o fim de um regime ditatorial e o início de um estado democrático, como faz Argentina agora. Lá se foram 30 anos do que também chamam de terrorismo de estado. E os reflexos nefastos desse período perduram até hoje, literalmente, e não à toa projetos como os da lei de meios e de democratização da justiça mobilizam tanto a população do país. Por outro lado, nada mal lembrar que se repetem muitos dos crimes e violações que à época até legítimos eram.
Sempre louvo a Argentina quando se trata de recuperar suas verdades e memórias, mas principalmente por fazer justiça ao que passou a ser vergonha mundial, um modelo que o Brasil preferiu não adotar, aliás, nem a África do Sul, que optou pela reconciliação. Mas é nessa mesma Argentina que ainda se tem de proteger pessoas que buscam seus familiares e denunciam violações e que ocorrem “em plena democracia”, quando se supõe que nada disso deveria mais fazer parte do cotidiano social. Para citar dois casos, aí estão os do estudante Miguel Bru e, mais recentemente, de Marita Verón.
Ainda que nada se pareça com o que bem escreveu o genial jornalista Rodolfo Walsh em sua carta à Junta Militar, a democracia não se demonstrou a panacéia para os males de uma sociedade que se pretende justa, sem exclusões ou violações, ainda que possa ser um mal menor. São mantidas ou criadas estruturas que têm sua existência justificada no bem estar social. A policial é um exemplo, que no Brasil e na Argentina seguem feito marcha fúnebre. Elas são necessárias dentro de um estádio de futebol? Qualquer resposta é estranha e incômoda. A matéria que vi em um canal televisivo, em Buenos Aires, sobre a tragédia em Santa Catarina, uma a mais das tantas que ocorrem com algum nível de freqüência em estádios do Brasil, foi bem amena. No entanto, nenhum canal foi ameno com a greve de policiais argentinos, que, por coincidência ou não, começou junto a saques dramáticos em pelo menos 15 províncias, tendo sido desencadeados em Córdoba.
Os festejos por aqui se alinham ao Dia Internacional dos Direitos Humanos. Há um bom bocado para se refletir. Celebremos.
2 comentários:
Buenisimo Erika, pero no se olvide de Julio López, desaparecido en democracia por las manos oscuras...
No, Pablo, para nada! Mariano Moreyra es otro, mas recien aún. La lista es larga. Los dos citados son para ejemplificar, sencillamente. LO que tento poner en discusion es si la democrácia, de hecho, es el mejor regimen para la sociedad. No hay otro mejor? O: podemos arreglar lo que tenemos?
Todavia, muchas gracias por su lectura generosa y su contribuicion preciosa.
Saludos, compa!
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