quinta-feira, 24 de julho de 2014

Caminhando

Imagem: Scylla Lage Neto

Envelhecer

"Antes, todos os caminhos iam
Agora todos os caminhos vêm
A casa é acolhedora, os livros poucos
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas"

Mario Quintana

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Brasil, decime qué se siente?

Provocada pela postagem do querido Ângelo Cavalcante e do comentário da também muito querida Ana Prado, dou cá meus pitacos. E não são respostas, digo convicta. Apresento minhas impressões sobre esse tema que vai e vem especialmente no campo do futebol, que seria a chamada rivalidade entre brasileiros e argentinos.

Pra começo de conversa, deixo claro que entendo a Copa do Mundo como uma tacada de mestre no nosso sistema mercantilista e modelo de sociedade, quando o futebol é absorvido como uma competição entre nações e não como um esporte que poderia ser simplesmente lindo por ser o que é e vir a ser um espaço de convivência pacífica, lúdica e de compartilhamento entre as pessoas. A Copa, nestes termos, incentiva o que todos os dias tratamos de alimentar. Acho uma pena para o futebol e para um possível novo mundo que alguns tratam de dissecar. Daí, em diferentes níveis, alguns de nós, como nós, ficamos embasbacados com o nível de hostilidade a que o ser humano pode alcançar durante os campeonatos que prometem mundos e fundos ao melhor que vença.

Curioso pra mim, que moro em Buenos Aires há pouco mais de dois anos, é que nunca senti nenhum tipo de rechaço. Tá bem: sou mulher e o futebol é papo para homens. Argumentaria um bom punhado de gente. Sim, é uma característica que me diferencia nas rodas de conversa entre pessoas de diferentes nacionalidades com quem tenho oportunidade de conviver, ainda que os argentinos sejam a maioria. Mesmo assim, tenho oportunidade de perceber nessas e outras ocasiões como se dá um pouco dessa relação com o futebol entre os vizinhos. E o grau de rivalidade varia como em muitos assuntos.

Concordo com Ângelo quando diz que existe essa divinização do Brasil e de brasileiros entre os hermanos: um país de praias paradisíacas; mulheres incríveis; povo alegre. Escuto tudo isso mesmo. E sinto, nas entrelinhas dos meus miolos, que é também o que eles gostariam de ter. Ou seja, é o não-dito. Fica a emoção, menos que a informação. Mas um bom sentimento deles para conosco. E essa dicotomia entre a informação que se vai e a emoção que fica me faz lembrar que, entre as nações que eles manifestam raiva, está o Chile, um dos dois únicos países latinos com o qual o Brasil não faz fronteira. Aqui e ali, pesquei que pode ter a ver com a ideia de traição que os argentinos vêem nos chilenos, que tiveram sua cota de participação na guerra das Malvinas, apoiando a arqui-inimiga Inglaterra. Muitos nem devem lembrar das razões de tanta raiva contra os chilenos, mas creio que este é um dos sentimentos que se naturalizou em razão da disputa pelo território.

Algo semelhante deve passar quando o tema é futebol. Eles não têm cinco estrelas, como a seleção canarinho. Ainda que tenham muitos jogadores que fizeram e fazem história. Imaginem a dor de cotovelo que isso pode ser? Já chegaram na Copa 2014 com música de guerra contra o país sede e ainda acham ruim não torcermos pra eles! Diria uma coleguinha: tão deselegante...

E pra agregar mais pimenta nesse angu, as palavras atuais que proferem a respeito do Brasil têm muito a ver com uma economia estável, uma melhora na qualidade de vida entre os mais pobres... Temos dinheiro pra levar pra eles! E o país que demorou 24 anos pra chegar de novo a uma semi-final de Copa e que já foi visto como a Europa latina fica chupando o dedo.

Por onde já passei na Argentina, posso dizer que, sim, somos bem recebidos. Mas isso também não quer dizer que não exista raiva da gente quando o tema é, por exemplo, futebol. Giovanna Raniere e a pequena Bia que o digam! Os garotos do colégio não perdoaram e cantaram até a Bia decorar “Brasil, decime qué se siente...”.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cesta: "Apneia inspiratoria II"

(Por conta de envovimento com a ciência que me domina, esta cesta, entrecortada pela apneia inspiratória, segue, em apelo. Tomo emprestado do dileto poeta e amigo Abel Sidney)

"Perdeste a inspiração?! - perguntaram-lhe à queima-roupa. 

- não! ela está apenas entrecortada, dilacerada, por conta dos últimos acontecimentos.

- como tu bem sabes o pulmão exige este constante "inspira, expira", mesmo que o ar entre cortante, rasgando as entranhas...

- nestas horas quem manda é o coração e com ele a exigência dos automatismos se cala.

- felizmente, mesmo em silêncio o coração sabe dizer o que sente!

- se você diz...

- digo e hei de esperar o teu se pronunciar, na próxima sexta ou em edição extraordinária. estarei na escuta, estetoscópio d'alma na mão.

eu, por minha vez, aguardarei, Roger (Corisco, do bando de Lampião)."



Abel Sidney, escritor, educador e sociólogo

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Outras emoções chegando

A tal de copa está acabando. Quando a obsessão em torno desse assunto passar, a imprensa ficará dominada pelo noticiário político. E este é um ano eleitoral importante, não apenas pelo motivo óbvio de termos eleições nacionais, mas também por ser o primeiro pleito pós julgamento do caso "mensalão", que com certeza trouxe mudanças psicológicas para os envolvidos com política partidária.

No plano federal, um teste está para ser feito: o PT continua no comando se o candidato não é Lula, com seu fenomenal carisma junto às massas mais humildes? No plano estadual, também uma disputa polarizada, mas com coalizões antes impensáveis.

Nessas horas, a saudade do Juvêncio de Arruda ganha o componente adicional de saudade do blogueiro político bem informado, crítico e de escrita envolvente. Seria um ano para muitas pautas. De lá onde se encontra, espero que ele esteja intercedendo por nós junto aos Mais Altos. Porque aqui, ao nível da superfície, a coisa tá feia. De mal a pior.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quase sombras



Não mais inquieto fico
ao mirar teu rosto nas sombras,
pois nelas amor e poesia se fundem
em inquietante e denso pensamento.

Apenas te olhando e te respirando,
o êxtase e a tranquilidade atinjo,
sem um nome e sem enigmas.

Pensar em ti quase me basta.
Quase…