terça-feira, 21 de outubro de 2014

Porque o pulso ainda pulsa. Ainda

Como era de se esperar, os olhos do Brasil e de boa parte do mundo estão voltados para as eleições presidenciais no país canarinho. Não, não é pouca coisa. Mas acredito que fazer política vai além de eleições. E por isso faço questão de lembrar alguns temas que também são importantes para a construção de uma sociedade melhor pra todo mundo e que, aliás, têm muito a ver inclusive com quem postula cargos públicos, além de serem pautas caras a uma série de movimentos organizados.

O Desarquivando BR , por exemplo, presta um belo serviço com seu ativismo por verdade, memória e justiça nos casos relativos às violações dos direitos humanos no Brasil durante a ditadura. Já que a Comissão Nacional da Verdade se encaminha para o encerramento de seus trabalhos, estão todos convocados a contribuir com sugestões para o relatório final. E participar da blogagem pode ser uma importante gota no oceano. Basta lembrar que as avós da Praça de Maio, na Argentina, estão há décadas lutando e resistindo em nome de causa tão nobre. A partir do trabalho inicialmente frágil que faziam, surgiram organizações de mães e de filhos. Além de levar à justiça e punição de violadores, já conseguiram encontrar 114 dos mais de 300 bebês sequestrados pela ditadura vizinha. Aliás, uma questão que ainda gostaria de me dedicar acadêmica ou jornalisticamente, porque nunca escutei algo tão forte a esse respeito como escuto aqui em Buenos Aires desde que cheguei - sequestro de bebês, hoje obviamente, adultos.

Com todas as críticas feitas à Comissão Nacional da Verdade no Brasil desde sua fundação até os dias atuais, é fundamental não nos satisfazermos com a entrega do relatório final. Não por birra, mas por coerência, por saber que existe uma bizarra Lei de Anistia que ainda agora protege criminosos, estivessem eles crentes de que era um bem para a humanidade ou não. Posso rever meus conceitos, mas ainda adoto a perspectiva do modelo “Juicio y Castigo”, e não o da reconciliação, como preferiu África do Sul e alguns estudiosos do tema. Que o relatório sirva como uma parte da munição que a sociedade civil organizada precisa para seguir em sua luta.

E por falar em blogagem, significativo ressaltar que a Semana de Luta pela Democratização da Comunicação que ocorre por comprometimento mundial não teve muita adesão no Pará, como se nota na agenda da Enecos, por exemplo. O que é uma lástima, porque o que não faltam são motivos, seja onde for neste Brasil varonil. Que o diga o MPF! Nem mesmo o Sindicato de Jornalistas do Pará aproveitou para mobilizar e difundir a agenda. Aliás, optou por fazer “carta compromisso”, à revelia da classe, e entregar o conteúdo misterioso aos dois candidatos do segundo turno, Simão Jatene (PSDB) e Helder Barbalho (PMDB). Ou seja, o tiro saiu pela culatra, porque a iniciativa é ótima! A ONG Repórter Brasil faz isso com candidatos há alguns anos com o tema do trabalho escravo. Mas pra isso não basta que os diretores de nenhuma entidade sindical se deitem em berço esplêndido sobre os votos que receberam: têm que chamar sua base para pactuar e referendar. Depois de muito custo, muitas críticas, online e presenciais, a oposição no Pará começou a colher algumas informações, porque afinal elas só estavam como agenda dos candidatos!

Em suma, ainda que relativamente distante em termos geográficos da minha terra natal, estou de olhos bem abertos para o que passa e no que posso contribuir. O pulso ainda pulsa.

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