“Não sabemos como medir a velocidade da
ciência, mas o que sabemos é que os cortes nos investimentos científicos
equivalem a cortes na nossa capacidade cerebral e beneficiam apenas os
políticos que ascendem com a ignorância”.
Mario Bunge,
filósofo argentino.
Entre Lausanne (Suíça), Rio e São Paulo, três
médicos pesquisadores discutem em rede social o uso da Cloroquina. Como epidemia vara fronteira com passaporte alheio, aqui do meu
recanto da floresta amazônica fico a ler os amigos que tanto admiro e a interpretar Mario
Bunge, filósofo cientificista da linha de Karl Popper (1902-94).
- “Todo político quer levar os comprimidos da cura”. Segue: “Este vírus deve voltar no ano que vem. Se continuarmos sem as respostas, a confusão no próximo ano será igual”.
- “Essa questão da Cloroquina virou uma coisa insana. É uma questão de metodologia científica e não política.”
- “Todo político quer levar os comprimidos da cura”. Segue: “Este vírus deve voltar no ano que vem. Se continuarmos sem as respostas, a confusão no próximo ano será igual”.
- “Essa questão da Cloroquina virou uma coisa insana. É uma questão de metodologia científica e não política.”
- “l’émotionnel va dans les deux sens: vers ce qui terrifie et vers ce qui
rassure. Le narcissisme rôde partout”
Percebe-se
claramente que todos estão abraçados na questão científica, ou
seja, vê-se preocupação com os rumos da politização da
Cloroquina. Conclui-se: fora dos valores da ciência a pandemia vira
pandemônio; impera o empirismo.
Para meu poeta preferido, o tempo perdeu a linha e parece que ficamos a ermo, como
se Teseu cegasse, a ponto de perder a luz e viver só, perdido nesse mundo
tão cheio de razões voláteis, que nem a lucidez tem vez, mesmo recebendo sinal
da estrela guia. É a alucinação que vem iluminando o caminho e o Minotauro se
refaz do mito grego e vem à tona vestido de ninharia política, a brandir
verdades que só cabem nos bolsos dos desesperados.
Se
Mario Bunge, autor da epígrafe, ainda fosse vivo, teria convidado Karl Popper e
convocado a banda do Super-Trump para uma “laive” em plena Manhattan, vestido de Teseu – ou de toureiro - para
enfrentar o touro de Wall Street.
Morando
no Canadá, Bunge morreu aos cem anos (fevereiro de 2020), mas entrou
esperneando no esquife. Duas semanas depois, a OMS declarou a pandemia. O azar
foi nosso. O filósofo era um defensor do método científico por meio do realismo
científico, em que se descreve a ciência a partir do seu objetivo e de
suas conquistas para produzir descrições verdadeiras (ou aproximadamente
verdadeiras) do mundo. Tal como Popper, ele era avesso à pseudociência; sendo mais claro, avesso a balelas vitaminadas de ciência, o qual cognominou
de “risco de falseamento”. Diante dos desafios à terapêutica antiviral com
cloroquina, certamente teria como contribuir à polêmica que ora vivemos.
Se contarmos pelas páginas da epidemiologia, Bunge
nasceu em meio a outra pandemia, a Gripe Espanhola, e coincide morrer em
outra. Declarou, de mãos limpas e sem máscara:
“Negar a ciência é muito mais fácil que aprendê-la”. Com este diapazão,
provavelmente ele condenaria os atuais ensaios sobre a Cloroquina e
ficaria com o seu olhar de lince à espreita de resultados clínicos robustos, só para
abrandar a ferocidade dos alucinados - inclusive a minha. Juntamente com o
brasileiro André Kalil (Nebraska Medical Center-EUA), estudioso no assunto,
entenderia perfeitamente que no ar viciado, que ora a peste empesta, o vírus
vaga à vontade. Estamos “tratando as emoções”, segundo ele. E completa:
"Muitas drogas que acreditamos serem fantásticas acabaram matando
pessoas... como é difícil continuar explicando isso."
Não
obstante, o editorial da renomada British Journal of Medicine foi
categórica em definir que: “neste momento, exceto pelas medidas de suporte, a
doença não tem remédio.” Os fatos são sonoros, mas houve grunhidos. Aliás,
ouve-se grunhido por todos os cantos do planeta. É o grunhido que impressiona
e cala a filosofia científica e deixa a população de olhos esbugalhados
na TV, participando ativamente do sepultamento dos novaiorquinos ao ver o vírus nocauteá-los como se fosse um jab na bolsa escrotal do touro de Wall Street, apesar do uso liberado da Cloroquina nos EUA.
Roger Normando - Professor do departamento de Clínica Cirúrgica II, disciplina de Cirurgia Torácica - Universidade Federal do Pará.
Roger Normando - Professor do departamento de Clínica Cirúrgica II, disciplina de Cirurgia Torácica - Universidade Federal do Pará.
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