A clever turn of phrase
From your vocabulary
Ingenuine desire
To know a little more
Leo
Sidran, na
música: The art of conversation
- Que espécie de tratamento eu vou receber?
- Injeções... Eu já disse antes.
- Mas... onde? No tumor mesmo?
- Não... via endovenosa.
- E... quantas...?
-Três vezes por semana.
- E uma... operação... seria possível ?
(“Por trás da pergunta estava um medo indisfarçável de se ver estendido numa mesa de operação. Como a maioria dos pacientes, ele [o personagem Pavel Nicolayevich] também preferia receber qualquer tipo de remédio por mais longo que fosse”).
O diálogo acima ocorre no jardim do
hospital-cenário em “Pavilhão dos cancerosos”, do escritor russo Alexandre
Soljenitze, Nobel de literatura. Revela os primórdios da quimioterapia na
esperança de frear o câncer e o caminho para a sala de operações.
O tecido social da obra é o Uzbequistão dos anos
1930 e 40, quando o mundo via nos tumores malignos um único destino: o
purgatório. A radioterapia, outra modalidade de esperança, ainda ensaiava os
primeiros raios no laboratório do casal Curie.
Eis ao hoje de ontem a beligerante jornada humana
em busca da cura do câncer.
A quimioterapia inicialmente foi utilizada como
complemento após ressecção cirúrgica de tumores. Por conta, passou a se chamar
adjuvante. Em seguida houve recombinação e se chegou à neoadjuvância (o
prefixo neo significa novo), forma de tratamento que precede a
operação exerética do tumor. O rearranjo obteve melhoras promissoras.
Não ficamos por aí...
Enquanto nós cirurgiões estivemos sentados no banco
de jardim, contemplando os ganhos da cirurgia minimamente invasiva, a
imunoterapia e outros grupos de fármacos começavam a ganhar raízes. Os
resultados promissores dos primeiros estudos com os programas Adaura e Pacific,
empregando novas drogas, enriqueceram o solo dessa nova oncologia, apesar do
alto custo.
Eis que a nova combinação entre imunoterápicos e
quimioterápicos ganha outra nova recombinação: o tratamento perioperatório. O novo morfema (modificação de uma palavra para
se transformar em outra) chega para representar esse salto clínico.
A trimodalidade (cirurgia, radioterapia e
quimioterapia), agora recheada pela imunoterapia, chega para reeditar o
tratamento do câncer pulmonar, e traz consigo, além da revitalização
linguística, a esperança de Pavel, o personagem. Basta acessar aos recentes
artigos Perioperative Pembrolizumab for
Early-Stage Non-Small-Cell Lung Cancer dos
investigadores Checkmate 671, assim como Perioperative
Durvalumab for Resectable Non–Small-Cell Lung Cancer dos investigadores AEGEAN, para comprovar o
dito. Aliás, AEGEAN poderia ser homenagem ao mar de Egeu, um apêndice do mar
Mediterrâneo localizado entre a Turquia e Grécia, onde nasceu Galeno, um dos
idealizadores de nossa profissão.
De volta ao tema, o tratamento perioperatório é
iniciado logo após o diagnóstico histológico e mutacional, em pacientes
ressecáveis (CNPC) em estádio II
ou III. Faz-se quimio e imunoterapia; vem a
pausa para tratamento cirúrgico e, após poucas semanas, reinicia-se a
imunoterapia, de forma isolada. O resultado foi melhora no intervalo livre de
doença e resposta patológica completa. Ou seja, melhora de resultados em longo
prazo.
Mas se um banco de jardim parece um artefato
completamente dispensável, contudo ele nos ajuda a reorganizar não só o
visível, mas também o modo de nos olharmos. À sua maneira, oferece-nos a
paisagem para a reconstrução de nosso cotidiano. Imagina, por exemplo, os
bancos de jardins da Provence, onde Van Gogh pintou a continuação da natureza,
salpicada de azul e amarelo.
Imagina, por exemplo, aquele banco de jardim, de Pavel,
no início do texto, que
sentiu queimar sua veia na insônia da
história, minuto a minuto, gota a gota. Reviveu-se a marca que hoje não se pode regredir. São ressignificações ganhando suspiros; são
palavras compostando-se no jardim da oncologia... e da expectativa da cura.
Razão, facho de luz que seduz a esperança.
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