Immediately after [1967], a number of other crucial discoveries
that would set the stage for the advent of cancer
immunotherapy
were made in rapid-fire succession
William K Decker e cols, 2017.
Cada vez mais operamos casos pós-imunoterapia. É o novo normal do câncer avançado. Já com varios-alguns casos de lobectomias e uma única segmentectomia anatômica (reserva funcional limitada), juntadas aos relatos de vários cirurgiões brasileiros, penso ser hora de descansar o bisturi por uma noite, armar a caneta e ideias, e pedir uma folha em branco para expor essa nova faceta da cirurgia torácica - alcunhada de cirurgia de resgate.
Comecemos pelo Atlas de cirurgia pós-imunoterapia em câncer, coordenado por Paula Ugalde (Harvard) e Ricardo Terra (USP). O livro anima e nos catapulta para uma mina repleta de novos fármacos e vastos ensaios. Sim, são desafios... e não são mirrados, tampouco obstáculos. O título poderia ser “Provocações da cirurgia pós-imunoterapia...”
Os resultados têm sido animadores, principalmente pela exequibilidade da cirurgia minimamente invasiva, que teve grande na evolução da técnica operatória, além da convivência com a
cirurgia da tuberculose - sem querer fazer comparações, pois as tisiocirurgias são
bem piores.
Esse avanço dá maior perspectiva de vida a cada paciente com câncer localmente avançado, como é a maioria.
Mas não é só isso. Também dá respiro à própria medicina em seu aperto de mão com a oncologia, cujo tratamento de outrora nos escalpelou por conta de sua alquimia excruciante.
Quem já leu Pavilhão dos Cancerosos, do premiado russo Aleksandr Solzhenitsyn viveu bem o assunto durante a leitura. Tempo que a quimioterapia resumia-se à mostarda e alguns aditivos rascantes. Naquela pós-virada de século, o campo emergente da oncologia optou por uma abordagem citotóxica ao negar os veios vivos da imunologia.
Hoje, quase
120 anos depois, estabelece-se que, mesmo os melhores regimes citotóxicos, raramente curam a malignidade em estágio avançado. Há de haver um dia que tudo isso passará para a prateleira de museus.
O jogo está virando graças a estratégias modernas que suplementam e aumentam as respostas imunes antitumorais
existentes e oferecem maiores oportunidades para potencializar a remissão
duradoura do câncer. Isso passou a ser desanuviamento no peito dos desesperançosos cirurgiões.
Com a ampla
aceitação desses novos paradigmas, a capacidade do sistema imunológico de
reconhecer e combater o câncer, que foi tópico altamente controverso durante grande
parte do século XX, hoje pede revanche, não só para se vingar, mas dar fôlego à humanidade.
A coisa não veio a pari passu com a quimioterapia. Foi um trovão. Qualquer cirurgião que tenha montado no seu pégasus, ou mesmo na SpaceX, e viajado para outro planeta para passar menos de dez anos por lá, ao tentar retornar para seu campo de atuação, certamente tomará um susto ao tentar entender essa sopa de letrinhas que transita pelo novo léxico oncológico. Algo como uma epifania.
Esse pilar paradigmático moderno permaneceu duvidoso e controverso por longo período. Por quê? É merecendente de discussão franca, mas nada que uma releitura mais otimista faça-nos entender que a genética, trancafiada no núcleo celular, teve que se
converter em genômica para romper o grilhões e alcançar o meio médico e nos encantar. Foi o pó do pirlimpimpim que a biologia molecular nos proporcionou!
A literatura médica todos os dias tem espasmos e parteja novidades com eventos decisivos que nos levam à aceitação da imunoterapia e outras terapias como regime viável para o tratamento das neoplasias. A última boa-nova é o tratamento peri-operatório (imunoterapia-cirurgia-imunoterapia) que acaba de ser aprovado pela nossa ANVISA. É o Durva novamente. E aqui tomo emprestado a intimidade dos oncologista com o Durvalumabe.
São marcos de ensaios randomizados e o desenvolvimento
de sistemas de modelos críticos de laboratórios. O conjunto da obra amplia nossa
compreensão da biologia do câncer e da imunologia tumoral ao permitir avaliação
mais rápida da eficácia e segurança de novas abordagens e, em última análise,
fornecer banco de dados mais rápido para a transição, cuja cirurgia é parte
dessa virada, assim como ocorre com a tuberculose multirresistente (TBMR).
Aliás, vale
ressaltar que parte do tratamento da TBMR, assim como
da falência do tratamento das micobacterioses não tuberculosas valem-se do que se outorgou hoje como tratamento peri-operatório usado no câncer.
Então continuemos
enfrentando essa nova cirurgia como "resgate" da velha tísica. Só assim
olhamos para esse presente sem desaquecer o passado.
Bibliografia
Van Breussegem A., Hendriks J. M., Lauwers
P., and Van Schil P. E., “Salvage Surgery After High‐Dose Radiotherapy,” Journal of Thoracic Disease 9, no. S3 (2017):
S193–S200
Beatrice
Leonardi , Gaetana
Messina , Giuseppe
Vicario, et al. Rescue Surgery
for Advanced Stage Lung Cancer: A Systematic Review. Thorac Cancer. 2025
Aug;16(16):e70151.
William K
Decker, Rodrigo F da
Silva, Mayra H
Sanabria. Cancer Immunotherapy:
Historical Perspective of a Clinical Revolution and Emerging Preclinical Animal
Models. Front Immunol. 2017 Aug 2;8:829.
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