quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Mar e rio bem além de nossas expectativas


                Mergulhando profundamente em “Blue Mind”, do estadunidense Wallace Nichols (sem tradução para a língua camoniana), resolvi dedicar alguns excertos aos Eskizitos, grupo de motonautas que aos sábados se encontram para se enveredarem por rios e furos que circundam parte de Belém. É liderado pelo navegador Aluisio Meira, um cartógrafo da Amazônia que nas horas vagas exerce a advocacia.

No livro, a Outdoor Industry Association cita que 1,24 milhão de pessoas experimentaram o stand-up paddle (SUP). As vendas de pranchas de SUP logo dobraram entre 2010 e 2011, quando explodiu a prática. Embora o SUP tenha se tornado uma febre fitness apenas na última década, na verdade, é a forma mais antiga e básica de embarcação. Nossos ancestrais usavam barcos pouco mais sofisticados para viajar de ilha em ilha no sudeste asiático e depois para a Austrália, há mais de 50.000 anos. É claro que, hoje em dia, a maioria das atividades náuticas, desde embarcações autopropulsionadas, jet skis, lanchas e iates motorizados que exigem tripulações, têm menos a ver com transporte e mais com o prazer de aproveitar a água. 

Se conversarmos com praticantes sobre os motivos que os levaram a escolher esse esporte, ouvirá algumas das mesmas razões que pescadores e surfistas: a oportunidade de estar na água de forma muito íntima. Os que usam embarcações sem motor também exaltam os benefícios para a saúde, como o exercício cardiovascular, o fortalecimento da parte superior do corpo ao remar por horas, o estado meditativo que surge com as remadas rítmicas na água.

Nichols reforça que, motorizado ou não, os praticantes têm a chance de se desligar de tudo, mergulhar nas paisagens, sons, nas sensações da água em que se encontra, e desfrutar do ar fresco.

Com veleiros maiores e outras embarcações que exigem mais de uma pessoa, ouve-se falar sobre trabalho em equipe, confiança e aventura compartilhada. A combinação de ganhar autoconfiança enquanto se trabalha em equipe é valiosa para jovens com problemas de saúde mental e coordenação motora. 

Hoje, programas em todo o mundo utilizam embarcações como terapia de reabilitação para pessoas com deficiências físicas (incluindo paralisia, cegueira, surdez e amputação); deficiências de desenvolvimento como TDAH, autismo e síndrome de Down; pessoas com lesão cerebral traumática (LCT) e outras lesões; bem como pessoas que sofreram traumas emocionais. Em Newport, Rhode Island, e Nantucket, Massachusetts, a Sail to Prevail possui uma frota de veleiros adaptados, nos quais mais de 1.500 pessoas com deficiência aprendem o básico da vela. As embarcações incluem um barco de regata da America's Cup acessível para pessoas com deficiência.

A Sail to Prevail relata melhorias significativas: 91% têm mais confiança, 90% sentem que aumentaram suas habilidades de trabalho em equipe e incríveis 99% dizem ter uma perspectiva mais positiva da vida. Sem dúvida, o super-hormônio neuroestimulante ocitocina está em ação durante essas experiências novas, agradáveis.  Tais vivências refinam os instintos sociais do cérebro, preparando os participantes para o contato social, aprimorando a empatia e aumentando a disposição para ajudar e apoiar.

Claro, existem muitas outras maneiras de desenvolver o trabalho em equipe, mas o fator água adiciona uma potência notável ao esforço, uma espécie de "plus-a-mais" - esse neologismo poliglota para reforçar a ideia. O mesmo acontece com a qualidade que você ouve com frequência de velejadores de todos os tipos, quando descrevem sua razão para se aventurarem na água: a liberdade.

Em barco, ou mesmo no Jet ski, você se sente como se fosse o mestre do seu destino, o capitão da sua alma, como se percebe nas entrelinhas de “No mar... veremos”, de Aluisio Meira, o líder dos Eskizitos... e doutor nas horas vagas.