domingo, 24 de setembro de 2006

Como acontecem os golpes

Em no mínimo Weblog, o jornalista Pedro Doria comenta a quartelada na Tailândia.

Golpistas como golpistas são

Os golpistas militares tailandeses agiram como golpistas militares fazem: insatisfeitos com o governo, aproveitaram que o premiê Thaksin Shinawatra tinha viajado para Nova York para discursar na abertura dos trabalhos da ONU e tomaram de assalto o palácio.

Declararam lei marcial, a Constituição de 1997 foi anulada, o Congresso fechado. Todos os tribunais estão submetidos ao comando golpista.

Thaksin foi reeleito no início de 2005 com uma votação estupenda e arrasadora e, ao completar o primeiro mandato, viu-se como o único na história do país a ser eleito e governar sem ser derrubado os quatro anos que lhe cabiam.

Enriqueceu levantando um império de telecomunicações, embora a oposição o acuse de ter sido favorecido pelo desmantelamento do monopólio público durante os anos 70. Os pobres gostavam de suas políticas de crédito e de atendimento médico facilitado. Os ricos gostavam do estilão executivo, um bocado diferente do que fazia a velha guarda. Era o que, por aqui, chamam neo-liberal.

Quando a família vendeu o controle das empresas para um grupo da Cingapura, ninguém gostou. Pipocaram reclamações que iam de corrupção a traição da pátria. Militar adora coisa do tipo: é quando vestem a carapuça de honestos patriotas.

Os golpistas garantem que entregam o governo tão logo venham eleições gerais. Mas golpe de Estado é só golpe de Estado, fechando Congresso, submetendo a Justiça e jogando fora a Constituição dá mostras da evidência.

Se houver clima, ficam. Sempre ficam.

(Os leitores do El País na Tailândia estão escrevendo enquanto podem sobre o que acontece nas ruas. Enquanto podem porque já faz algumas horas que os golpistas garantem que interromperão o fluxo de telefonia e Internet no país. Por enquanto, só conseguiram desligar as televisões.)

É sempre assim. Quem analisar a anatomia de um golpe, vai perceber sinais e sintomas semelhantes em todo o mundo. Quem tem as armas, sai pelas ruas com a roupa de bastiões da moralidade. Calam a imprensa e as instituições e dizem que vão devolver a democracia brevemente. Aproveitando que ninguém pode fiscalizar, acabam por reproduzir em pouco tempo, aquilo que diziam que iam combater: a corrupção.
Por aqui, a última durou 20 anos e a corrupção acontecia mas ninguém podia saber. Bem como uma epidemia de meningite irrompeu pelo sul do país e quase ninguém soube.
Cuidem da segurança nacional e deixem os povos resolverem seus problemas na legalidade. E quem é dono de clube, restrinja-se a atividade associativa. Deixem a política para os civis. Ou então publique nota mostrando a corrupção como um todo. E não só aquela que a ineficácia de blindagem permite.

Um comentário:

Citadino Kane disse...

Barretto,
Tens razão - golpista é golpista e pronto.
São contra as liberdades públicas, rsrsrs...
Nós sabemos o significado.
Abraços,
Pedro