Com pesar li no Diário do Pará a notícia do falecimento do Professor Clodoaldo Beckmann, ontem, aos oitenta anos. Professor Emérito de Introdução à Cirurgia, fundador do Curso de Biblioteconomia da UFPA, Pro-reitor de Planejamento dessa Universidade, membro do Conselho Estadual de Cultura e do Colégio Brasileiro de Cirurgia, Beckmann era dono de uma personalidade especial, exercitada às vezes com inesperada irreverência conservadora. Os alunos a que ensinou e orientou certamente possuem elenco de episódios que comporiam uma crónica da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará.
Por exemplo, estávamos no quinto ano de medicina, quando eu e mais uns quatro ex-alunos do professor o procuramos na Pro-reitoria para pedir-lhe orientação sobre internato (estágio de sexto-ano) em centros do sudeste. Rapidamente ele fez os contatos e providenciou cartas que nos garantiram internato nos hospitais do hoje extinto INAMPS em São Paulo e da Santa Casa de Misericórdia do RJ.
Já estávamos quase de saída, quando lembramos de pedir por um colega que militava no movimento estudantil e ex-vizinho dele no Edifício Gualo. Incontinenti Beckmann redarguiu com veemência: NÃO, ele é do PT! O PT que providencie estágio para ele! Iniciou-se um debate em que explicamos que o professor estava enganado, o colega não era do PT (na verdade simpatizante do PCB). Ao final, Beckmann aquiesceu, fez os telefonemas, redigiu a recomendação com igual alegria e satisfação que antes fizera para nós.
Passaram-se dezesseis anos e aquele colega agora dirigia a SESMA, representando o PPS no segundo governo Edmilson. Eis que encontro o Professor Beckmann no lançamento de um livro sobre medicina, que não guardei o nome. Cumprimentamo-nos e lá pelas tantas ele se sai com essa: Viu como ele era do PT!? É secretário de saúde do Edmilson!!! De nada adiantaria eu explicar que o Amaury nunca foi do PT, fora do PCB e agora militava do PPS. Se o fizesse, ele daria aquele tapinha no meu ombro e diria: Menino, é tudo a mesma coisa... não tem diferença.
Com tristeza e carinho sou obrigado a escrever-lhe essa última linha: Descanse em paz, Mestre.
Por exemplo, estávamos no quinto ano de medicina, quando eu e mais uns quatro ex-alunos do professor o procuramos na Pro-reitoria para pedir-lhe orientação sobre internato (estágio de sexto-ano) em centros do sudeste. Rapidamente ele fez os contatos e providenciou cartas que nos garantiram internato nos hospitais do hoje extinto INAMPS em São Paulo e da Santa Casa de Misericórdia do RJ.
Já estávamos quase de saída, quando lembramos de pedir por um colega que militava no movimento estudantil e ex-vizinho dele no Edifício Gualo. Incontinenti Beckmann redarguiu com veemência: NÃO, ele é do PT! O PT que providencie estágio para ele! Iniciou-se um debate em que explicamos que o professor estava enganado, o colega não era do PT (na verdade simpatizante do PCB). Ao final, Beckmann aquiesceu, fez os telefonemas, redigiu a recomendação com igual alegria e satisfação que antes fizera para nós.
Passaram-se dezesseis anos e aquele colega agora dirigia a SESMA, representando o PPS no segundo governo Edmilson. Eis que encontro o Professor Beckmann no lançamento de um livro sobre medicina, que não guardei o nome. Cumprimentamo-nos e lá pelas tantas ele se sai com essa: Viu como ele era do PT!? É secretário de saúde do Edmilson!!! De nada adiantaria eu explicar que o Amaury nunca foi do PT, fora do PCB e agora militava do PPS. Se o fizesse, ele daria aquele tapinha no meu ombro e diria: Menino, é tudo a mesma coisa... não tem diferença.
Com tristeza e carinho sou obrigado a escrever-lhe essa última linha: Descanse em paz, Mestre.
5 comentários:
Realmente um perda irreparável. Todo ser humano é único. Mas alguns, são raridade. E vc fez uma ótima homenagem, relembrando o episódio do "mano" Amaury.
Abs
Esta é a grande vantegem da morte: há sempre algo de bom para ser lembrado, ainda que episódios menos "engraçados" possam ser maioria.
A tua observação me fez lembrar um caso. Um grupo de antropólogos resolveu filmar um cruzamento de uma metrópole. Depois, reuniram um grupo de aborígenes e passaram o filme para eles. Depois perguntaram o que mais havia lhes chamado a atenção na projeção. E a resposta foi desconcertante:
Uma galinha.
Como?!
Uma galinha! Estava lá... no filme!
Os antropólogos não acreditaram. Impossível haver o registro de uma galinha naquele cruzamento infernal! Mais ainda na hora do rush.
Repassaram o filme e para surpresa de todos lá estava a tal galinha, calmamente andando na calçada.
Conto isso, porque acho que todos nós vemos no outro mais o lado que de perto todos temos, não raras vezes casmurrento.
Mas, junto com ele, sempre existe o bom, ainda que obscuro e notado por pessoas não poucas vezes alheias ao nosso convívio pessoal e profissional.
Trata-se de encontrar o 1% que permite que trabalhes e convivas com uma pessoa, ainda que desagrades dela em 99%. Ainda assim é possível interagir e conviver com ela de forma cavalheiresca. Depois, quem está nos enta, meu amigo, não deve fazer inimigos. Bastam aqueles que arrumamos nos arroubos da juventude.
Visitem
http://xinguvivo.blogspot.com/
Embaixador Oliver, o Clodoaldo era assim mesmo.
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