“Tem que ter pulmão, resistência física. E isso está acabando.
Já escrever não requer tanto esforço físico”
Luis Fernado Veríssimo, músico e escritor.
Preservation Hall, New Orleans-LA, EUA |
Sempre que posso, aos sábados acordo cedo, cumpro
com as obrigações e rasgo para o Igarapé das Almas, não em busca de alma
penada, ou de reminiscências da cabanagem e dos cabanos que por lá teriam escondido
suas armas (ou alma?), mas em busca da alma da música, ou a música da alma: o jazz.
Disfarçando, e como se fosse comprar parafuso pro meu hardware, sento e dou ouvido à blue
note em formato HD em 3D, no epicentro do blues, quando o sol do meio-dia beira
a linha do equador a ponto de derreter meu toutiço.
Para escrever sobre jazz, precisaria vestir-me de
Eric Hobsbawn e ter neurônios alongados para analisar o entorno da historiologia. Sem deixar
de falar do Luis Fernando Veríssimo, que escreve com frequência, paixão e profundidade sobre sua maior inclinação
musical, retratando grandes nomes como Miles Davis, Charlie Parker,
Chet Baker e Gerry Mulligan, entre outros. Veríssimo trata o jazz
como se fosse seu prato predileto, antes de começar a escrever seus textos
vibrantes, sonorizado em grandes idéias - longe, estou longe disso. Escrevo
como um reles cabano, a procurar vestígios de conhecimento entre uma prosa e
outra diluída no meio de tanta gente bamba.
A começar pelo Paulinho Assumpção, que
sempre me percute de informação; também preciso ouvir Nego Nelson e a sua forma
de se comunicar com o Violão e os próprios sentidos. Tem ainda muito mais gente:
o Bob Freitas, por exemplo, que toca como se tivesse degustando um Malbec argentino. E por aí vai, estes me dão a liberdade do abraço e a prisão
de meu respeito. Nego Nelson quando me encontra sempre tem uma piada encaixotada
para contar, certamente para disfarçar aquele pedaço de pulmão que dele tirei e joguei
no laboratório para dar crédito à vida... e deu!
Quando todos esses jazzistas de alma se reúnem
assim quando o sol do meio-dia nos tempera, a gente sente que New Orleans está
mais perto, e que a Bourbon e a Perdidos Street saem da sombra da memória, vestem-se
de personalidades e vêm bater aqui no Igarapé das Almas, armadas do sentimento
de Grandpa Elliot e Kzan Gama. Sim, Elliot deu à rua alma e deu ao jazz rua.
Foi quando as ruas começaram a ter consonância com a sonoridade e passaram a andar despidas do sossego.
Yes, nós temos
jazz, nós temos alma, "invés" de só osso. Apenas falta-me tutano para escrever sobre tantos talentos
e fôlego para respirar tanta musicalidade. Por enquanto fico com as palavras de
Hobsbawn: “o fã do jazz, portanto, raramente é músico”. Aqui estou, então, entre
palavras, disfarçando minhas palmas.
9 comentários:
Lindo, adorei meu amigo Dr. Poeta Roger Normando!!! Tenha certeza que você nunca precisará tocar um instrumento pra conseguir transmitir tanta almalidade musical, sua percepção e feeling estão contidos em seu DNA poético. Grande abraço, sou seu fã meu querido!!!
Notas exatas, sem exagero de virtuosismo, a harmonia do texto, sola suave e emocionante. Parabens pela jam.
Sensacional o texto Roger! Arranho umas percussões, e sempre tive o desejo de acompanhar uma banda de Jazz! E só esperar o "Onça" soltar sua clássica e profunda frase: "Roger é som doido"! Hehehehehehe
Fineias, aquela tua escaleta me inebria... Que a Amapá guarde-a como tesouro e a sua sonoridade como pedra de toque.
Dudu, Jam session literária? Soou bem, hein!
O nosso querido Onça é uma página viva de nossa profunda amizade. Um dia tal história pode virar crônica, quem sabe (?).
Rico comentário amigo.Acrescente Ao Jazz ,Tb a bossa nova e a nata da MPB executadas com maestria pela galera!
Perfeito Dr.Poeta!
Obrigado, Carla. Volte sempre. Terás cadeira da frente à tua espera.
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