sábado, 4 de junho de 2016

Sobre lutas universais e a gratidão à Marga Rothe

#NiUnaMenos Foto: Erika Morhy

"Ao calabouço não voltamos nunca mais", diziam as travestis Foto: Erika Morhy

"Vivas nos queremos" Foto: Erika Morhy 

Organizações sindicais e político-partidárias maracram presença Foto: Erika Morhy

Recado era o mesmo em diferentes linguagens Foto: Erika Morhy

Eu mesma não tenho fotos com Rosa Marga Rothe. Mas imagens não me faltam desta mulher que tem sua trajetória definitivamente gravada na luta por justiça na Amazônia paraense. Imagens que construí ao longo de minha carreira como jornalista, ela já referência para dores compartilhadas entre tantos rincões do estado. Imagens que manuseei durante minha passagem pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e que ela mesma chegou a rever durante os saraus da Memória, em mais alguns de seus gestos de generosidade com quem aspira contribuir com as causas populares. Imagens dela com amigos em comum... Mas, neste dia de seu adeus a esta etapa de sua vida, eu me misturava a um sem fim de outras imagens. Dessas imagens que também dizem muito de Marga e de batalhas universais, como as que são travadas por quem não engole uma cultura atávica, machista, assassina.

Neste 03 de junho de 2016, Marga deixava transcorrer, em Belém, seus últimos instantes de enfretamento a um câncer. Já eu estava de braços dados à minha filha, em Buenos Aires, na segunda marcha que ficou mais conhecida por seu grito de guerra: Ni Una Menos. Nenhuma a menos! Tantos os casos de abusos perpetrados pelas mãos do machismo que a Argentina se insurgiu e mostrou ao mundo a força da organização de quem quer mudar o curso da vida. Lá estava eu, eu e Helena instigadas pela causa e irmanadas com o Coletivo Passarinho, de brasileiros que vivem na capital do país.

Enquanto me emocionava com as manifestações de repúdio às violações comuns em tantas partes do planeta; enquanto lembrava das escolhas feitas entre dias de dedicação acadêmica, de debate político e de parcerias domésticas; enquanto eu me misturava a tudo isso, Marga cumpria com dignidade seus mais de 70 anos de idade.

Convivi tão pouco com este primor de ser da natureza que chega a parecer duvidosa para mim sua influência sobre minhas reflexões existenciais. Mas cada memória que me ocorre dela me faz ter certeza de que ela me inspira, sim. Os últimos contatos que tive com Rosa foram na própria entidade que ela ajudou a criar e que dirigiu por anos e que a tinha como conselheira até hoje. Ali no auditório da SDDH e eu quem pode ir até lá ouviu dela uma fartura de detalhes sobre a história que ela ajudou a construir no Pará diante da luta pela terra, da luta pela democracia, da luta pela sobrevivência, da luta por justiça. Não duvidou diante de nossos convites para os saraus da Memória; dava trabalho à doença fazia anos; não se dobrava a ela; ultrapassava seus limites. Que mulher bonita! Que mulher emocionante! Sou grata a ela por isso. Sou grata à SDDH também, que presta sua homenagem indispensável.

Quando tomo conhecimento de que Marga faleceu nesta manhã do dia 4, penso que cada pessoa que teve a oportunidade de conviver com ela, tenha sido em qualquer proporção e intensidade, deve estar bastante triste com sua partida. As separações em si me parecem um momento de dor, com mais ou menos sofrimento. Espero que saibamos fazer nossos lutos e não nos neguemos jamais a nenhuma luta por justiça. Onde quer que estejamos.

2 comentários:

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Bela e justa homenagem, Erika!

Erika Morhy disse...

Que bom que teus olhos acolhem, amigo. Para homens justos. Obrigada, Roger!