sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Circuito Mineiro - Bichinho, Congonhas e BH


Bichinho (MG) - Minha cunhada brinca com o artesanato local.

Após um excelente café-da-manhã na Pousada Mãe D'Água, saímos de Tiradentes por volta de 9 horas. Destino final: Belo Horizonte. Paradas em Bichinho e Congonhas do Campo.
De Tiradentes até Bichinho, pegamos o trecho mais difícil da Estrada Real, literalmente comendo poeira. Quebramos uma parte do pára-brisa dianteiro, e decidimos então aumentar o espaço entre os 2 carros. Assim evitávamos ficar comendo a poeira e as pedras liberadas pelo veículo líder.
Mas afinal, qual a razão para ir até o desconhecido lugarejo de Bichinho (é exatamente isso que ele é)? Primeira razão: percorrer este trecho virgem e demarcado da velha Estrada Real, com belas paisagens campestres entre montanhas e declives.
Segunda razão: Bichinho é onde é fabricada uma das cachaças mais especiais do país. A Tabaroa.
Terceira razão: o melhor e mais barato artesanato mineiro está distribuído ao longo da Estrada Real até Bichinho.
Quarta razão: comer no restaurante caseiro Tempero da Ângela.

De fato a estrada até Bichinho é ora de pedras assentadas toscamente ou de puro chão batido e poeira. Muito cuidado é aconselhável no trecho. Baixa velocidade e nunca ir no período chuvoso.
Fica tudo muito escorregadio. Existem também inúmeros "mata-burros" ao longo da Estrada Real, instalados por fazendeiros. Tratam-se de grandes valas no caminho dos carros, com apenas improvisadas pontes com espaço para cada um dos pneus.
O Tempero da Ângela merece uma descrição toda especial. Trata-se de um casebre, onde você pode chegar pedindo informações aos moradores. Por um módico preço fixo, você pega seu prato, vai até a cozinha da Ângela e se serve à vontade. Lá você encontra além de uma boa variedade de saladas, o tradicional tutu à mineira com leitão, feijão tropeiro, frango cozido com ora-pro-nobis (tempero silvestre, típico da região) e pode finalizar tudo com geléias e doce-de-leite.
As verduras utilizadas na cozinha são cultivadas no quintal da Ângela, à vista de todos no pátio do restaurante. Vi pessoas de todo o Brasil por lá. Inclusive alguns estrangeiros.
Altamente recomendável após sair de Tiradentes, sendo indicado mesmo como a parada perfeita para o almoço, rumo a BR 040, com destino a Belo Horizonte (BH).


Bichinho (MG) - Igreja simples da localidade.

Em Bichinho - que na verdade se chama Vitoriano Veloso - ainda perguntando aos nativos, você chega facilmente a uma digna casinha localizada bem em frente a igreja matriz da localidade (foto acima), onde uma bela mineira vai lhe vender um litro da cachaça Tabaroa (30 reais).
Posso dizer que é uma excelente cachaça e vale parte do passeio até Bichinho. Consulte o Google sobre a Tabaroa e você verá a boa reputação dela.
Na igreja matriz, a curiosidade é despertada pelos símbolos afixados no cruzeiro que fica bem em frente à Igreja Matriz. A foto aí está para quem desejar decifrá-los. Estes símbolos se repetiam em cruzeiros de várias igrejas mineiras: há o martelo, os pregos, o serrote, as mãos, ossos cruzados, enfim, uma grande variedade de símbolos afixados na cruz.
Pergunte a vendedora da cachaça que ela, de tanto perguntarem, já tem a resposta na ponta da língua.
Deixamos então, com o coração e o estômago apertados, o lugarejo de Bichinho, pegando os últimos trechos inteiramente virgens da Estrada Real, rumo novamente à perigosa BR 040, com destino a Congonhas do Campo. Neste trecho, a BR 040 é verdadeiramente muito perigosa, com intenso tráfego pesado e curvas acentuadas em declive. Cuidado!


Congonhas (MG) - Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

Por volta de 16:30 h, chegamos então à Congonhas do Campo, sede do maior conjunto de arte barroca do Brasil, obra mais significativa do mestre Aleijadinho.
A cidade em si não tem nada que justifique seu pernoite lá. Neste ponto, melhor é pernoitar em BH, a poucos quilômetros de distância.
Chegando a Congonhas, fomos direto ao conjunto arquitetônico do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Uma esplêndida construção barroca no ponto mais elevado da cidade, com os famosos Profetas de Aleijadinho.
O conjunto se constitui pela Igreja, o adro com os profetas e abaixo, as capelas com as estações da paixão de Cristo, contendo maravilhosas esculturas em cedro do Líbano, feitas por Aleijadinho.
Difícil dizer o que é mais bonito. Mas as esculturas em madeira, são realmente impressionantes.
Alguma decepção ao constatar o vandalismo nas estátuas de pedra sabão dos profetas, um deles com 2 dedos decepados, e todos com inscrições feitas maldosamente.
A pedra sabão tem esta particularidade. É resistente a uma gota de água pingando-lhe por anos a fio. Mas não resiste a ponta de um estilete, ou mesmo de uma unha de dedo. É maleável e boa de esculpir. Mas não resiste a impactos ou marcações.


Congonhas (MG) - Jeremias aponta os céus.

Um belo final de tarde de inverno nos recebeu. Como tínhamos pouquíssimo tempo nesta parada, contratamos o guia local (sempre presentes e credenciados nos principais pontos turísticos do interior de Minas) que nos fez a descrição ponto-a-ponto de cada uma das obras do conjunto. Contrate-o sem pestanejar. Vai fazer muita diferença. São jovens bem formados, cumprindo um trabalho digno e honesto com maestria.


Congonhas (MG) - Capelas dos Passos da Paixão de Cristo.

As capelas da Paixão de Cristo estão dispostas simetricamente na descida da Igreja dos profetas.
Desça até a última e venha subindo com o guia em direção a apoteose do roteiro, que devem ser os profetas no adro da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos.


Congonhas (MG) - Esculturas em cedro do Líbano.

É permitido fotografar as esculturas em madeira do interior das capelas e a luz é favorável exatamente neste horário, quando então, alguns personagens são iluminados diretamente.
Não se sabe se propositalmente.


Congonhas (MG) - Detalhes incríveis realçados com a luz natural.


Congonhas (MG) - Perfeição anatômica do sistema venoso.


Congonhas (MG) - A fantástica concepção da última ceia.

Na última ceia de Aleijadinho, podemos perceber algumas características que se repetem em suas esculturas: olhos esbugalhados, queixo afilado, costeletas saindo de trás das orelhas e os dedos médio e indicador unidos. Além disto, os apóstolos teriam sido feitos à imagem e semelhança dos inconfidentes. O Cristo e os dois apóstolos do centro da mesa (que é redonda na representação de Aleijadinho), são imagens que foram feitas apenas da cintura para cima. Aleijadinho teria optado por esta solução, por ter pouco tempo para concluir o conjunto todo.
Ele parecia ser um artista muito requisitado, com vários projetos paralelos na região.


Congonhas (MG) - Entardecer no adro de Bom Jesus de Matosinhos.

Ao final do passeio pelo santuário, uma última foto para registrar a beleza daquele fantástico santuário barroco.


Estrada Real (MG) - Muita Poeira...

Aqui se pode ter uma idéia de um dos trechos bons da Estrada Real de Tiradentes a Bichinho. No mais, são curvas acentuadas em declive com muita poeira. Mas as paisagens são indescritíveis.


Estrada Real (Bichinho) - ...com imagens surpreendentes...

Os latões de leite, dispostos aos pares ao longo da Estrada Real, fazem sobressair velhos costumes do povo daquela região e geram boas fotografias.


Estrada Real - ...de simplicidade interiorana (Foto: Adriana Barretto).

Alguma dia, eles já foram azuis e vistosos.


Estrada Real - Marcos distribuídos ao longo do trecho.



Estrada Real - Detalhe do Marco, com a localização de nosso trecho.

8 comentários:

morenocris disse...

Que lugar, heim...?

Obrigada pela dica.

Beijos.

Obs. Não vou nem falar das fotos porque já é covardia!

Anônimo disse...

Estou extremamente admirada com a opinião que não se deve pernoitar em Congonhas... Qdo vc veio até a cidade voce visitou a Igreja do Rosário construida por escravos? A Matriz de Nossa Senhora da Conceição? A Igreja de São José? O museu da imagem que fica na ladeira? Visitou e fez uma belissima caminhada até o parque da Cachoeira? Então repense e mude de idéia qdo vier visitar em Congonhas... Vc conheceu SOMENTE o Santuário de Bom Jesus? Nem experimentou a culinária local;... Seu passeio foi incompleto. Não divulge esta mensagem de NÃO PERNOITAR EM CONGONHAS, vc não conhece nada.
Se informe antes de visitar alguma cidade.

Carlos Barretto  disse...

Cara senhora. Boa noite!
Em primeiro lugar, obrigado pela sua visita ao Flanar.
A sra. obviamente é uma cidadã Congonhense e deve estar algo aborrecida com minha opinião.
Compreendo e publico a SUA opinião e seu protesto.
Mas como viajante e, em meio a tantas belezas do interior de Minas, não poderia estar provando e aproveitando absolutamente tudo de todas as cidades onde passei no caminho até Ouro Preto, nosso destino final, passando por BH. Assim definimos nosso roteiro e assim o cumprimos.
E é precisamente onde Congonhas está. Um pouco fora do caminho até BH e Ouro Preto. Em meio a tantos atrativos e com o orçamento reduzido, algo deve ser sacrificado. Com mais orçamento, teria enorme prazer em cumprir o roteiro sugerido pela sra. Ou então deixando de ver Ouro Preto ou Tiradentes em favor de Congonhas, o que convenhamos, seria inconcebível. Não foi por outra razão que deixamos inclusive de conhecer Mariana e nem por isso desaconselhei a passagem de ninguém por lá. Mas Minas nos dá carradas de motivos para o retorno.
Por ora e por enquanto, a única opinião que posso e devo dar para a pessoa que pretenda fazer o mesmo roteiro que nós, sacrificando algumas cidades certamente cheias de atrativos e boa culinária como acontece no interior mineiro, é precisamente esta.
Mas é preciso que os mineiros e especialmente os Congonhenses como a sra. entendam que precisam respeitar as opções dos visitantes.
Divulgarei aquilo que for de minha experiência pessoal, bem no intuito deste blog, um blog pessoal. Outros poderão existir com opiniões diversas e até mais detalhadas que o meu. Com certeza serão bem vindos à todos os que não mereceram uma visita mais detalhada.
Acato portanto as suas sugestões mas no contexto da "minha" Minas, é só o que posso afirmar. Esta foi a MINHA Minas Gerais. E neste aspecto absolutamente pessoal, que espero que a sra. compreenda, é tudo o que posso dizer. Naquele perfil de viagem, com o roteiro definido por nós, não era mesmo aconselhável pernoitar em Congonhas, e sim em BH, um pouco mais à frente. Para um visitante não mineiro e não Congonhense pode ser mais interessante pernoitar na capital do que em Congonhas. Perceba que podem certamente haver opniões divergentes, da sua e da minha. Mas não foi e não é nossa opinião até prova em contrário, que como afirmei anteriormente, terei prazer enorme em conferir. E já tendo conhecido um pouco de BH, fica mais provável que eu faça a opção por pernoitar em Congonhas, ao invés de BH.
Em outra oportunidade, que louvo a Deus que me permita, visitarei sua Congonhas mais detidamente, anotando suas sugestões.
Quanto a culinária mineira, em nada discordo da sra. É boa em todo lugar. Inclusive em Bichinho, bem menor e menos "cidade" do que Congonhas.
De antemão, suplico que me perdôem então os Congonhenses, Marianenses, Juiz de Forenses, e tantos outros, certamente merecedores de uma calorosa visita a tão acolhedora região deste imenso Brasil.
Injustiçados por tantos sem recursos para atingir seu acolhimento. Desde já, a sra. e todos os demais estão convidados a fazer um texto com sugestões aos leitores deste blog sobre os roteiros de suas cidades.
Abraços do Norte.

Nilson disse...

Faço viagens de moto, há pouco fiz uma interessante está no meu blog baiaodeideias.blogspot.com. Nessas viagens fotografo e no mais faço como você dou dicas e reflito sobre a experiência da viagem. Estou interessado em ir a Congonhas, você não pernoitou pelo que vi, mas sabe dizer se o camping que parece existir lá no Parque da Cidade é seguro? abs,

NIlson

Carlos Barretto  disse...

Boa sugestão de blog, Nilson.
Mas sobre a informação que vc solicita, lamento informar que não tenho como ajudá-lo. Não passei em Congonhas tempo suficiente sequer para "descer" até a cidade. Só visitei o complexo do Aleijadinho em Matosinhos e nada mais.
Desde já, agradeço sua visita e me desculpo.

Abs

Anônimo disse...

É,verdade tirando as obras do mestre Aleijadinho e o povo dessa tao sofrida terra, a cidade esta um lixo!
Visite Ouro Preto,TIradentes,Mariana,Sabara,
Caete,S,Joao del rei,Bichinho,Carrancas,Itabirito e
voces vao ver a diferença,CONGONHAS
é cidade passagem,
Em tempo o parque da cachoeira esta fechado a quase 05 anos.

Carlos Barretto  disse...

Obrigado amigo.
Da lista que vc sugere, ainda não conheci Mariana, Caeté, Carrancas e Itabirito.
Um bom motivo para retornar, não?
Abs

Anônimo disse...

É isso, quem só conhece Congonhas a defende com unhas e dentes. Mas quem a defende com unhas e dentes nunca saiu daquele buraco, não consegue ver nada além, mesmo porque a poeira parece entrar por todos os poros e encobrir tudo. Você, meu amigo da Flanar, conseguiu fotos belíssimas, que acho eu, não conseguirá nunca mais: a poluição, o lixo e os atuais desgoverno trarão danos irreversíveis àquela cidade. É uma lastimosa verdade.