quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Nós que nunca fomos tão felizes - II

Nosso filme indicado para disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro é o badalado " O ano em que os meus pais saíram de férias", dirigido por Cao Hamburger. Ainda não o assisti, mas está agendado como obrigatório tão logo eu possa,.
Pelo que tenho lido na imprensa o enredo se passa na atmosfera do arbítrio e da repressão vigentes no Brasil dos anos 70. O personagem central é um rapazola de seus 12 anos, mandado à casa do avô em razão dos pais, declarados inimigos de morte do regime militar, terem mergulhado na clandestinidade. É um filme sobre o olhar infantil - naquela época nessa idade ainda éramos infantis - sobre o mundo asfixiante e violento dos adultos. Ora, em cinema, é sempre atraente um argumento dessa natureza.
Não obstante, não é original enquanto argumento para obra cinematográfica. Lembro, por exemplo, de temática semelhante, abordada pelo iuguslavo Emir Kusturica (Quando papai saiu em viagem de negócios, 1985), que relata o drama de um menino frente a prisão do pai em decorrência das mudanças políticas na antiga Cortina de Ferro. Mas, senão aqui, mais ou menos por essa época, 1984, Murilo Salles filmou um dos mais claustrofóbicos filmes brasileiros sobre o período do regime militar e suas consequências sobre a vida de pessoas não necessariamente militantes políticas. Nunca fomos tão felizes é estrelado por Cláudio Marzo, Roberto Bataglin e Suzana Vieira. Bataglin é um rapaz que é retirado de um colégio interno pelo pai (Marzo), adversário peseguido do regime militar, que o esconde num apartamento vazio e ao mesmo tempo uma vitrine aberta para o mar espetacular de Copacabana: o claustro do internato não se assemelha ao clautro tensionado pelo inexplicado.
O rapaz pouco sabe sobre a vida secreta do pai, mas aos poucos busca encontrar a verdade que havia operado tão radical mudança em seu tranquilo estilo de vida, e sem ele o saber, na própria vida do país. É um filme extremamente estiloso, que lembra algo de nouvelle vague. Contudo, tal qual outros títulos da extinta Globo Vídeo, lastimo que esteja fora de catálogo. Melhor faria um produtor atento que programasse a exibição dessas antigas películas no Cinemax Cult e no Canal Brasil, para assim comparar as obras de Kusturica e Salles com o indicado ao Oscar. Desse modo poderíamos observar as diferenças de narrativa cinematográfica sobre drama humano único, embora descrito com as têmperas autorais que obrigatoriamente existem.

Um comentário:

morenocris disse...

Ele era o favorito mesmo.

" O ano em que os meus pais saíram de férias" !

De nada.