quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Sujo do mal lavado

Resolvi furtar a idéia do Afonso Klautau – cujo blog, para nossa felicidade, voltou a funcionar – e pautar este post por uma revista semanal.

A última Veja apresenta artigo, assinado por Julia Dualibi, que relata que o Bradesco e o Itaú, os dois maiores bancos privados brasileiros, estão em pé de guerra com o Banco do Brasil.

A causa seria a incorporação pelo BB de três bancos estaduais (do Piauí, de Santa Catarina e de Brasília) e o fato de que passou à responsabilidade do banco estatal o manejo das folhas de pagamento dos estados de Minas Gerais, Bahia e Maranhão, antes sob a administração das instituições privadas paulistas.

Afirma a Veja que com a atuação agressiva do Banco do Brasil, o Bradesco e o Itaú perderam mais de 1.000.000 de clientes.

O presidente da República alegou que no processo de privatização de bancos estaduais do governo FFHH (© Elio Gaspari) “houve quase um processo de doação da coisa pública em nome de moralizar nosso país”.

Nestas privatizações, o Itaú adquiriu o BANERJ, o BEMGE, o BANESTADO do Paraná e o BEG, de Goiás, sendo os dois primeiros no período áureo do PROER. Alavancou sua carteira de ativos em milhões de reais e elevou-se rapidamente no grid dos bancos privados.

O Bradesco adquiriu, também neste período, o banco estatal baiano (BANEB) e o BEA, do Amazonas.

Já no governo Lula, os bancos estaduais do Maranhão e do Ceará também foram privatizados. Sob administração federal, ambos foram adquiridos pelo Bradesco: o primeiro em 2004 e o segundo no ano seguinte.

Algumas coisas me chamam atenção neste processo.

Primeiro, a mudança radical de posicionamento do governo em relação às privatizações. Apesar do PT historicamente sempre ter apoiado, em seu programa, a estatização de atividades econômicas ditas estratégicas, não foi esta a postura adotada no 1º mandato de Lula. Agora, volta à carga, reestatizando operações bancárias nos Estados. Alguém poderia me explicar esta mudança de postura?

Segundo: a atuação do BB, na forma como foi realizada, significa efetivamente uma quebra de contrato por parte da Administração, que licitou o pagamento das folhas de servidores públicos aos bancos privados. Afinal, se o Banco do Brasil tanto propaga que tem que apresentar resultados de mercado, não está ele se utilizando de sua condição de estatal para concorrer de modo desleal com as outras instituições?

Terceiro: não se pode esquecer (mas a grita dos bancos olvida) que o socorro governamental sempre esteve à porta dos participantes do Sistema Financeiro, com o PROER, a mudança pero no mucho dos modelos de liquidação e saneamento de instituições financeiras insolventes e a incorporação destas pelos grandes bancos, com financiamento camarada do Banco Central. Lula, atirando no próprio pé, bem lembrou, outro dia, que os arautos do movimento “Cansei” nunca tinham ganho tanto dinheiro na história deste país.

Esta conversa merece um novo ditado: é o fashionista falando do almofadinha. Nesta guerra de cachorros grandes, rotos e remendados só mesmo nós, meros contribuintes e consumidores.

2 comentários:

morenocris disse...

Boa noite, FRJ. Grande lance do AK e o seu.

Acabei de chegar do Palácio dos Despachos, onde estava representando a Regina e o Paulo Roberto, pela Funtelpa, na palestra do jornalista Francisco Viana, ex-Isto É, ex-jornal O Globo..e por aí vai.

O tema falava sobre as estratégias da comunicação. Mas, em determinado momento, ele chamou a atenção para este assunto. E deixou um alerta. Precisamos acompanhar com atenção essa mudança.

Beijos.

Francisco Rocha Junior disse...

Conte tudo a respeito da palestra, Cris, aqui ou no seu blog.
Sempre achei que o papo de "ombudsman" poderia ser por aí.
Obrigado pela visita e boa noite.