Sempre leio os escritos dos articulistas com quem não simpatizo, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo dentre eles. Meu intuito primeiro – de pouca nobreza, confesso – é poder criticá-los com conhecimento de causa. Quando percebo meu deslize, procuro despir-me da antipatia que sinto do escriba para tentar ler somente o texto e compreender a mensagem, sem o ranço da má-vontade.
Tem horas, no entanto, que é impossível fazê-lo, pois a fedentina que exala da cabeça destas figuras é demasiada. Exemplo clássico do pensamento azevediano é esta pérola, postada ontem no blog do dito-cujo:
São Paulo como seqüestrador do Brasil pujante...
A Folha de hoje traz uma reportagem de Clóvis Rossi sobre as conversas que os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) tiveram com jornalistas
Uma aliança em que cabe até mesmo o PT, ainda que tangencialmente: "Acho que ainda é possível -e não em tempo distante- a consolidação de uma aliança que possa trazer para perto PT e PSDB". O problema é que essa aproximação esbarra no fato de que os dois partidos são "um pouco reféns da força dos nomes de São Paulo". Implicação óbvia, mas não explicitada na conversa: um nome de Minas resgataria os "reféns" (...).
Então tá. Fica parecendo que “a força dos nomes de São Paulo” é uma construção ilegítima, que atrapalha o resto do Brasil. Como paulista, não saberia exatamente o que fazer. Mas, se pudesse, juro que libertaria o resto do Brasil... Não vejo a hora deste trem disparar sem o peso de São Paulo para atrapalhar.
Conheci o texto de Reinaldo Azevedo quando ele era o responsável pela revista Primeira Leitura. A finada revista dos Mendonça de Barros era declaradamente neo-liberal e mantinha um nível editorial de alta linha, quer se concordasse, quer não, com o pensamento norteador das matérias.
A primeira vez que vi seu rosto foi no programa Roda Viva, da TV Cultura. Convidado como debatedor, Azevedo desancou – com estrionismo e uma certa neurastenia, mas usando argumentos fortes – o entrevistado (cujo nome não recordo), que acabara de lançar um livro defendendo o uso de políticas afirmativas nos concursos de ingresso ao ensino superior. O convidado não foi páreo para Azevedo, que citava trechos da obra em causa para expor seus pensamentos e fazia prova, assim, que fora ao programa com o dever de casa na ponta da língua.
A Primeira Leitura acabou e Reinaldo foi contratado pela Veja para ser seu articulista especial. Também passou a manter um blog no sítio da revista. E aí começou sua derrocada rumo à prepotência e ao autoritarismo. Veja subiu à cabeça de Azevedo.
O texto acima é um primor de arrogância e de desconhecimento histórico – para não dizer que se trata de lassidão moral e desonestidade intelectual.
São Paulo é, certamente, a força motriz do país. Detém o maior PIB, o maior orçamento e a maior receita tributária dentre todos os estados-membros da federação. Entretanto, não ostenta esta condição pura e simplesmente pela capacidade intelectual, laboral e criativa de sua população, acima da média do resto do país. Isto é evidente, e todos com um pouco mais de conhecimento dos fatos sabemos disso. A Reinaldo, se não tem conhecimento, sugiro que procure saber um pouco mais, dentre outras coisas, sobre as farras especulativas de boa parte do empresariado paulistano na época da extinta SUDAM – isto para ficarmos nos fatos mais recentes. Se quiser ir aos antigos, que lembre de Formação Histórica do Brasil, de Nelson Werneck Sodré (minha edição é da Brasiliense, mas o livro foi reeditado pela Graphia) e de Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Junior (no catálogo da Brasiliense).
Ah, esqueci: Reinaldo certamente diria que estes autores são sínteses do pensamento petralha (mesmo que ambos tenham morrido antes de Lula chegar ao poder) e por isso seus livros não valem nada. E eu responderia: mas Caio Prado, ao menos, é paulista...
6 comentários:
Com todo o respeito: prefiro a autenticidade de Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, com muita corência na maioria das vezes, do que o embaçamento e logro de Alberto Dines, Mino Carta e espécies...
Anônimo, nem precisa pedir respeito. Seu direito à opinião é sagrado, assim como os dos articulistas em questão.
O que é inadmissível é a arrogância, a prepotência e a intolerância destes sujeitos, travestidos do que você chama de autenticidade. Este é o objeto da crítica do post.
Obrigado por prestigiar o blog. Volte sempre.
Acredite, FRJ. Seu sacrifício foi enorme. Eu não consigo mais ler esta duplinha.
Por isso, que tenho esse blog como um dos melhores de Belém. O direito à opinião, mesmo as mais esdrúxulas. Democracia também é isso, aliás uns dos pilares para tanto.
Espero poder sempre colaborar de forma tranqüila, deliberando minhas idéias. Nem sempre iremos concordar, mas respeitaremos as divergências.
No caso em tela, continuo com a mesma forma de pensar, embora não concorde com isso ou aquilo dos referidos articulistas. Pelo que pude perceber no artigo e tirando como paradigma para nossa região, me preocupa mais a forma como se discute a divisão de nosso Estado, aí sim, vejo muita arrogância, prepotência, intolerância e benesses pessoais.
Reinaldo na realidade em um rompante comum a muitos jornalistas e articulistas soltou a pérola. Na qual foi prontamente contestado por inúmeros comentaristas, dentre os quais a minha pessoa.
Finalmente continuo com a mesma opinião, vejo muito mais arrogância em articulistas e/ou intelectuais como Caio Prado Júnior, defensor de uma das maiores e mais sangrentas ditaduras do século passado, quando foram ceifadas mais de 26 milhões pessoas, a de Stálin, conforme se observa por sua publicação, URSS - um novo mundo.
Abraço e bom feriado.
Vou continuar me sacrificando, Barretto. Só pra não dizerem quem eu não sei do que estou falando.
Anônimo, o problema de Reinaldo Azevedo é que ele sempre tem esses rompantes. Ademais, você pode ter criticado a posição de Azevedo no blog, mas se for ler os demais comentários, há muita gente defendendo um suposto separatismo de São Paulo do resto do país, com os argumentos mais prepotentes do mundo.
Não se pode negar a importância e a lucidez de Caio Prado. A defesa da URSS, naquele momento histórico, poderia ser uma bandeira importante para o momento. Obviamente, nada que se justifique hoje em dia, como também não há o que justifique, no meu entender, o regime cubano - em que pesem algumas vitórias importantes da revolução de 26 de julho.
Obrigado pela deferência ao blog. Volte sempre, as portas estarão abertas - principalmente para a boa polêmica.
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