sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Chove nos campos de Cachoeira

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente publicou no final do ano um álbum comemorativo, entitulado Paisagens Literárias. A idéia é fazer o cruzamento entre as regiões brasileiras, os parques nacionais e, como voz de suas regiões, trechos da obra de autores nacionais. A Amazônia é distinguido com a escolha de Milton Hatoum, Thiago de Mello, Djalma Batista e Dalcídio Jurandir, de que transcrevo a seguir o texto publicado:
Irene, por que não atravessar a chuva, não vem correndo pelo aterro e pelos campos para embalar esta rede parda, acender um candieiro na sala, e ficar em silêncio, como um anjo da guarda? As mãos de Eutanázio gelam com a chuva, com a falta de sono de Irene...
Irene não virá trazes a madrugada e o sereno já deve estar branqueando os campos, cobrindo a vila...
Irene estava bela com a sua gravidez de terra inundada.
Mas outras chuvas caíram, os campos encheram, os gogozeiros carregaram-se de frutos, o Ararí transbordou, os jacarés vinham roncar debaixo das casas e Felícia pela primeira vez sorriu com certa intenção pra o Teodoro que, na cabeça da ponte do Delfimn, pescava piranha.
Os campos inundados fervem ao sol da janela seleta. Sobe um calor das águas paradas que subiram meio metro. Os peixes bóiam n'água transparente comendo o resto de comida que Inocência sacode da toalha.
O negrito é meu, para destacar a beleza poética do texto. Jurandir em 2009 completará centenário de nascimento. Aguarda-se que o Estado do Pará comemore a efeméride na altura da importância de um dos maiores regionalistas brasileiros, de porte ombreado com José Lins do Rego, Raquel de Queirós e Jorge Amado.

Nenhum comentário: