terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Live and let die

Segundo George Orwell todas as mortes são iguais, porém algumas são mais iguais que outras, iluminando a questão da desigualdade no viver e no morrer. Em termos epidemiológicos, temos a questão do risco, que em última ordem nos diz que se morre como se vive, ou de que se vive como se morre - arrisco - seja fisicamente, profissionalmente ou na intimidade das alcovas. Lógica universal aplicada aos descaminhos, que são os caminhos arriscados à sobrevivência das gentes. E aqui pediria paz - como escreveria Kurt Vonnegut no auge da contracultura norte-americana - pois se há um ponto de partida é exatamente este.
Com respeito ao registro de óbitos a situação é, arrisquemos, menos filosófica. Na vera mais de 50% das mortes ocorridas no mundo não têm causa definida. Detalhes dessa questão importantíssima estão no pequeno e esclarecedor Who needs cause-of-death data? , escrito por um sujeito com sobrenome assaz esquisito, Peter Byass, embora referendado pela Organização Mundial da Saúde.
Em termos públicos tal informação é preocupante, em razão de arriscar as estratégias de prevenção, tratamento e recuperação dos danos a que as populações estão expostas, especialmente quando se consideram cenários que não excluem deslocamentos populacionais intra e inter países, e a influência de seus diferentes fatores determinantes de saúde.
(O título do comentário refere-se à canção do ex-beatle Sir John Paul McCartney, trilha sonora de um dos títulos da série 007, de igual título e estrelado por Roger Moore nos idos 73.
Flanar, numa ocasião em N.Y. City, teve um prazer que poucos mortais brasileiros usufruíram. Enquanto flaneur, dividiu a sala de um pequeno museu privado com McCartney, que, anônimo, apreciava a mesma obra que o nosso blogger. Meu conterrâneo e amigo ficou em tal estado de choque diante ao inesperado que nem teve a iniciativa de pedir ao famoso roqueiro inglês um autógrafo).

5 comentários:

Carlos Barretto  disse...

De fato, foi tão inesperado, que mesmo cutucado ao desespero pela minha companheira, não consegui pedir o tal autógrafo. Estava mais ou menos descaracterizado, digamos. Entrou no museu de "blazer", óculos escuros e aquele típico chapéu estilo francês, com tecido de tweed, é claro. Ao entrar no museu, foi obrigado a retirar os óculos escuros para visualizar as obras. E quando percebeu que nós o havíamos reconhecido, deu um sorriso, e logo em seguida uma piscadela, como se a pedir que não alardeássemos nossa descoberta.
Assim o fizemos.
Com muito pesar, mas com o dia ganho, de alguma maneira.

Yúdice Andrade disse...

Caríssimo Oliver, se é verdade que morremos como vivemos, o fato de metade das mortes do mundo não ter causa conhecida não seria sintomático? Isso não expressaria que metade da humanidade, como disse o poeta, passou pela vida e não viveu?
Pobres humanos!

Anônimo disse...

Grande, Flanar
O bom, o ótimo, de quem tem a felicidade de poder flanar pelo mundo é exatamente isso: não ser deslumbrado, não dar ataque, respeitar a privacidade de Paul, Ringo, quem mais vier pelo caminho, ainda mais se for um cavalheiro britânico.
Claro, poderia ter ganho um autógrafo...
Mas não ganhou uma charmosa recordação e uma historinha duca pra contar?

Itajaí disse...

Yúdice,
Concordo. Parte dessas mortes sem causa são de países muito pobres, onde sequer existe sistema de saúde organizado e as pessoas dependem de organizações filantrópicas para acessarem os serviços sanitários.

Anônimo disse...

Pois acho que mandou foi muitíssimo bem , teve a fleugma de um paraense diante um tacacá.
Tá cert , mais valeu foi a piscadela e a história contada aqui além do que o cara(grande cara) ter pensado : bacana hoje os caras alí de BELÉM let me live not die.
Valeu o post
Tadeu