terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Belém, 392 anos

Às vésperas de completar 392 anos, Belém recebe (mais) uma má notícia: a retração de sua rede de esgotos, que, em 2001 atendia 13% dos domicílios da capital e em 2006 só alcançava 9% dos lares belenenses.

Conforme informações do sítio das ORM, os dados constam do livro Belém Sustentável, a ser lançado no final deste mês por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON.

Evidentemente, a queda acentua-se nos bairros de periferia da grande Belém. Para se ter um exemplo do problema, basta percorrer alguns poucos quarteirões da Estrada Nova, da Praça do Arsenal à Rua Fernando Guilhon (antiga Conceição) – exatamente o trecho da primeira fase do chamado Portal da Amazônia, a obra maestra do nosso insidioso alcaide. O cenário é de total abandono, com canais transformados em esgoto a céu aberto, de águas turvas e fétidas, com muito lixo nas margens; algo realmente parecido com Nova Délhi (© Juvêncio de Arruda).

Por isso, não é de se entranhar que doenças praticamente erradicadas em cidades com um tratamento de esgoto decente, como a esquistossomose, ainda vicejem em nossa cidade. Da mesma forma, as doenças de pele e aquelas causadas por ingestão de alimentos e água contaminados (como hepatites) alastram-se pelo subúrbio de modo violento.

A pesquisa do IMAZON revela que houve aumento de fossas sépticas em Belém, no mesmo período estudado; é a cidade tentando se virar, da forma como é possível. No entanto, a mesma análise conclui que esta solução é feita sem a observância de critérios e métodos corretos, o que só faz aumentar os riscos de contaminação dos lençóis freáticos da cidade.

A par de tudo isso, a prefeitura planeja cobrir o canal da Avenida Visconde de Souza Franco, tapando-o e transformando a superfície ganha em pista de rolamento. Vários especialistas já se manifestaram contrários à iniciativa, por ser o plano tecnicamente inviável: a tapagem do canal não resistiria, com o tempo, à influência das marés e chuvas no leito do canal, que condenariam, cedo ou tarde, o solo ao afundamento.

A pretensão sobre a Doca de Souza Franco exemplifica a forma como o prefeito percebe a cidade: recheada de canais e igarapés e possuindo 3 bacias em sua área central, a vocação fluvial de Belém é abandonada, tapados seus cursos d'água, com as conseqüentes enchentes em épocas de chuva. Duciomar Costa parece querer aumentar o problema, em lugar de resolvê-lo.

O Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal prevê o investimento de quase 4 bilhões de reais em projetos de infra-estrutura urbana na região Norte, boa parte deles nas capitais dos Estados da federação. No entanto, é cedo para saber se tanto dinheiro será efetivamente bom para o desenvolvimento de Belém e, em conseqüência, para o aumento da rede de esgotos da cidade: boa dose depende das próximas eleições e de quem nossos concidadãos escolherão para administrar a cidade, nos 4 anos seguintes.

2 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Uma cidade com 9% de esgoto, em pleno século XXI! Você pensa que está na África! Mas é uma capital brasileira, por sinal candidata a subsede da Copa do Mundo de 2014. Não faz o menor sentido. É irracional.

Francisco Rocha Junior disse...

Verdade, Yúdice. Anoto que se tívessemos gestores públicos em quem confiar, até seria bom para a cidade ser subsede de um dos grupos da Copa. Mas do jeito que está, não dá.