Belém completa 392 anos, tempo igual do início da conquista da Amazônia. De fortificação a vila acanhada, depois promovida a entreposto comercial e finalmente a metrópole afrancesada no ciclo econômico da borracha, nesses tempos desalinhavados, a cidade transitória foi se modificando, seguiu a lógica da expansão econômica e dos sonhos culturais de uma elite com a cabeça no modelo urbano europeu, que disciplinava o solo com base em modelos para a garantia do lazer, a salubridade e de responder aos desafios sociais do capitalismo em plena revolução industrial. Pretendíamos garantir o previsto por Jules Verne... l' avenir, como registrou Coudreau em um de seus livros clássicos sobre a região amazônica.
Claro, nos trópicos, como em Paris e Rio de Janeiro, os pobres e seus direitos não importavam, aliás os últimos sequer existiam. O Brasil precisa se modernizar... diziam as autoridades, inspirados numa ética pública referenciada aos próprios umbigos e ... às oportunidades de negócios e negociatas.
Fomos os primeiros em termos de urbanismo. É famosa a frase de Pereira Passos a Antonio Lemos: principio aqui, no Rio de Janeiro, o que V. Excia já faz em Belém. Bota abaixo! a história registrou. E expulsos das áreas centrais da cidade o povo, tocado como boi, foi morar em favelas e baixadas, nos morros do então Distrito Federal, ou nos covões da Santa Maria de Belém do Grão Pará para vantagem dos endinheirados em seus palacetes, firmas e escritórios construídos na região nobre da cidade. Quase igual a hoje, igualzinho às rapinas que vereadores fazem oportunamente no atual código que disciplina a ocupação de Belém em nome de interesses imobiliários inimigos da história e do bem estar da cidade.
Assim chegamos aonde estamos, esquálidos de cidadania, parasitados pela malta política a que desinteressa uma Belém urbanamente saudável e comunitária e que represente para o Pará a sua jóia de capital, enquanto fator integrador de um Estado e símbolo histórico de uma região. Um Estado é rico não quando o governador ou outra autoridade afirma, mas principalmente quando o povo que nele habita assim o considera, e como cidadão assim se reconhce: Bomba de Hidrogênio, luxo para todos, como nos disse Caetano Veloso. O que obriga reconhecer que falta um projeto que a nós integre e eleve-nos ao primeiro plano do atual cenário da história brasileira, pois razão, sensibilidade e riqueza próprias as temos.
Então quem nos redimirá de nós mesmos - eleitores de Sodrés... Bentes... Baratas... Passarinhos... Nunes.... Barbalhos... Almires.... de seus clones dourados de pirita ... de quem destroi o legado de seriedade e luta das esquerdas paraenses -, senão nós, que usufruímos desta terrível tragédia periférica ?
Certamente alguém tem prestado a atenção em como nos avaliam na federação , mais ainda desigual quando, ao modo dos imbecis, conduzimos nossos negócios de governo para registro de escândalo no noticiário nacional e internacional. Por isso, quem sabe, a lanterna de Diógenes, no limite, faça-nos encontrar o caminho e nele quem de fato faça História maúscula - não essa comezinha de picotes partidários e narcísicos, mas aquela que dê transcedência a uma civilização paraense moralmente aceitável.
Pois ao contrário do que ensina a Lei de Lavoisier, a História nos permite a tudo criar, a tudo transformar; sobretudo quando a alma pública - povo e lideranças do executivo, legislativo, judiciário e comunitárias -, não forem envergadas e pequenas, não forem anões subscritores de um projeto que, em não respondendo aos desafios do presente, reserva um futuro egoísta e medíocre a todos nós.
A foto é do álbum Vistas do Pará, editado em Manaus, pelo notável fotógrafo George Huebner, em 1909. Nesse momento, estamos distantes do registro fotográfico praticamente 100 anos. A vista imortalizada não mais existe. Dela resta apenas a obra máxima de Landi no Pará, a Igreja de Santanna.
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