Dilma Roussef, nos tempos de resistência armada à ditadura, foi especialista em luta com facas. Tal habilidade no corpo a corpo, reflete destemor, frieza e agilidade frente ao adversário. Não se tem notícias da hoje Ministra Chefe da Casa Civil ter praticado essa habilidade militar em campo, embora tenha sido militante valorosa no combate ao arbítrio. De qualquer modo, os tempos mudaram e requerem habilidades outras. Uma delas é a da competência comunicacional no discurso político, que, jamais, pode ser tão burocrático quanto àquele utilizado hoje, quando Dilma se defendeu das manobras desesperadas do PSDB para envolvê-la na publicização dos gastos sigilosos do governo FHC. Para disputar a Presidência da República, a Ministra Chefe da Casa Civil terá de repaginar-se rapidamente, abandonando a dicção do bureau, insossa para as massas. Por contraste, bem faria se atentasse como seus colegas encaminharam no discurso a questão que a está constrangendo: do Ministro Múcio (Relações Institucionais) ao Ministro Tasso Genro (Justiça).
9 comentários:
Bom dia, Oliver:
pensei em começar escrevendo "sem provocação", mas quem julga isso é você e não eu. Eu quero apenas comentar.
O passado de Dilma está soterrado num presente cujo melhor resultado foi a fragorosa derrota - dela, de Tarso, de Rosseti - nas prévias do Rio Grande do Sul.
O futuro está na base desse partido que parece discordar do "pragmatismo" com que o PT comanda o projeto de poder.
Marta Suplicy, cujo passado juvenil só tem a glória de ter lhe permitido casar com Eduardo, sobe nas pesquisas em São Paulo, não por sua simpatia mas pela excelente gestão, derrotada há três anos pela classe média cretina.
Vejo Dilma com um ranço azedo de uma imitação barata de um chavismo que até agora eu não consigo avaliar. É certo que a mídia trata Chaves como um bufão por não ser um Tony Blair latinoamericano, mas Evo Morales faz mais e melhor do que ele na Bolívia e todos silenciam.
Vou indistir, apesar da primeira frase. Não é provocação. É só vontade de conversar enquanto o café esfria.
Bom domingo.
Um abraço.
Belo domingo! E nada como o despertar, quando as idéias se formam juvenis e fluem.
Do que escreveste concordo com dois grandes pontos fundamentais. Primeiro, está claro que a base para o PT é a jóia da coroa. Mas qual base, a inscrita nos livros partidários, ou aquela social que se mantem discreta, mas ativa e contribuindo para os 58% de aprovação do governo Lula? Esse é um diferencial importante, que não muda muito o resultado final, pois a maioria da base inscrita nos arquivos partidários é base da tendência Articulação, a que pertence José Genoíno, José Dirceu, Marta Suplicy, o próprio presidente e outros. Nesse caso, com base no teu pensamento de oposição, concluo que estás te referindo às tendências minoritárias e suas áreas de influência na sociedade. Nesse sentido, vejo que a minoria política de fato possui um papel potencial relevante se decidir contribuir para o processo com inteligência e formulação, como elemento crítico para o fortalecimento de um partido estruturado para chegar ao poder, e , não, simplesmente, como partido agitador das massas, que se diz radical, mas é hesitante na forma como prediz sua radicalidade. Nesse último caso a história política do Brasil e da América Latina abunda de exemplos.
Depois, é inegável que as classes média e rica, e seus filtros de riqueza material, fazem de São Paulo a mais conservadora das capitais brasileiras. Martha Suplicy foi vítima de uma campanha rasteira, que trabalhou todo o tempo em cima de uma estratégia ordinária que lhe minava o folêgo nas ruas. Servia de tudo, de sua separação do Senador Suplicy à suposições de escândalos financeiros de contornos imprecisos. Essas estratégias de baixo calão político foram pensadas e conduzidas por gente que se pretende educada, fina e politicamente correta, mas que, fosse possível, é capaz de jogar urnas no Tietê para ganhar eleições, enquanto olha com desprezo a tristeza do jeca.
Quanto as tuas impressões sobre outros personagens citados, não farei comentários. Tratam-se de opiniões pessoais, que não convêm discutir. Seria uma discussão surda e improdutiva.
Um bom domingo.
O café esfriou, o micro deu "pau" e voltei hoje curiosa pra ler você e continuar a conversa.
A grande aprovação de Lula não é resultado dos seus acertos, infelizmente. Ela resulta da empáfia com que a elite - se bem que acho que nossos trogloditas não merecem esse elogio, se pensarmos que elite é avanço, é antevisão... - tratou a pobreza.
Mas, sobre isso, Cristovam Buarque falou neste sábado melhor do que eu. A ampliação da pobreza não é necessariamente a sua redenção. Incluir as classes D e E "puxando-as" para a C que foi rebaixada também não é o melhor caminho para construção de um país justo e democrático.
Um abraço.
Bia,
Nunca antes nesse país as classes D e
E foram tão rapidamente elevadas a C. Duvido que a C tenha sido rebaixada. Claro está que o país tem um caminho, não pronto, que precisa de muito mais políticas públicas para reverter nossos problemas de pobreza, especialmente, para quebrar o ciclo intergeracional que a mantem. Sem que tenhamos essa necessidade na cabeça estamos chovendo no molhado, ou enxugando gelo.
Sabemos qual é a chave para isso: emprego e renda, renda e emprego, o que significa juros baixos para manter a economia em dinâmica adequada, sem incorrer em riscos inflacionários. Não se combate miséria distribuindo óbulos, mas fazendo a economia girar a roda de olho nas necessidades sociais do país, para não ser um forte-fraco como temos sido até hoje (aquela conversa de Brasil Grande, Esse é um país que vai pra frente, 8o. economia do mundo, etc.)
Soa-me esquisito essa tua afirmação de que os resultados de aprovação de Lula não são pelos acertos dele. Acho que o são e ainda mais o são, pois foram complementados pelo que afirmaste na frase seguinte.
Abs.
Bom dia, Oliver
não sou anti-lulista. Fui eleitora dele até 2002. Sempre acreditando-o capaz de "refundar" a república. Apesar do PT e de suas idiossicrasias.
Mas, passados os primeiros quatro anos, não consegui confiar mais. É isso. Uma questão de confiança, que quem chega aos 60 anos pode priorizar, para economizar aborrecimentos futuros.
Quando escrevo que os acertos de Lula não são dele, isso é reforçado pelo que você afirma antes: " Claro está que o país tem um caminho, não pronto, que precisa de muito mais políticas públicas para reverter nossos problemas de pobreza, especialmente, para quebrar o ciclo intergeracional que a mantem."
É extamente isso que não enxergo, por mais que procure. E há indicativos graves no discurso de Lula de que ele se satisfaz com a ampliação do número de pobres. Isso é ruim? A médio prazo não. É justo e necessário que quem não comia decentemente, que quem não comprava uma televisão possa faze-lo. Mas é justo que enquanto isso a qualidade do ensino fundamental decaia assustadoramente? Que o salário médio seja inferior ao de 10 anos atrás? Será construído o "novo" caminho?
Para essas perguntas, minha desconfiança responde "não".
Também é muito ruim ouvir o discursos de loas a personagens como Severino Cavalcanti, péssimo exemplo que Lula foi buscar para alimentar seu discurso descabido. Parecido com o elogio rasgado feito ao Jader aqui no Pará na campanha. Aliança com o partido, tudo bem. Mas, é preciso elogiar bandidos?
Eu às vezes me divirto e noutras me aborreço quando nos blogs me rotulam de tucana. Compreendo isso como a necessidade que temos em rotular, enquadrar, para compreender, para concordar ou para contraditar.
Acho que gosto de conversar com você, até, quem sabe, para me convencer que o problema é a minha amargura. O desvanecer de uma expectativa que a idade madura vê cada vez mais frustrada.
Um abraço. Um bom dia pra você.
Bonita retórica, Oliver! Utópica, parcial e prestimosa, mas é sua. E você acredita nela, continue defendendo seus ideais. Belaz até.
Quais seriam esses indicativos, Bia, de que o presidente de que a ampliação do número de pobres o satisfaz?
Com respeito ao salário mínimo seu amigo do DIEESE - em outra conversa que tivemos - reconheceu que desde que iniciou os governos de Lula houve está em prática um processo de recomposição. Quanto ao ensino fundamental... vamos por alguns outros atores sociais importantes no quadro calamitoso que tú apontas: os governos municipais com quem está se desoneram da responsabilidade legal e os governos estaduais que por sua vez fazem cara de paisagem. Vamos também assinalar que o rolo começa em 90, quando o governo federal se desobriga do ensino federal, repassa a tarefa de garantir acesso universal aos municípios, sem compensá-los adequadamente financeiramente. Huum, um pouco de equidade na atribuição de responsabilidades torna melhor a apreciação do problema travado.
Penso que essa facilidade de elogiar em política no Brasil é um cacoete nosso, que teve exemplos até mais extremos que esses citados. Por exemplo: Prestes elogiando Vargas, depois deste ter mandado a mulher do líder comunista para os fornos nazistas, quase aniquilando junto a Profa. Anita Leocádia, recém-nascida. E mais recentemente, Gláuber Rocha elogiando o Gal. Geisel como gênio da raça. Seria um traço do homem cordial brasileiro, que Sérgio Buarque esboçou com rigor e originalidade sociológica? O que seja, não me agrada também, mesmo que seja por obrigação protocolar ou por educação ou sei lá o quê.
Anônimo, grato pelas palavras elogiosas. Andava sentindo sua falta por aqui.
Caro Oliver,
demorei tanto a retornar que já havíamos saído do ar...rsrsrs...
Não havia ironia na minha afirmação sobre a satisfação do presidente. Acredito que se ele considera que o país vai muito bem, ele se satisfaz.
Eu continuo descrente da sustentabilidade - pra usar a palavra em voga (voga? caramba! que coisa antiga!) de um aprojeto que aposta em programas de transferência de renda sem que paralelamente ocorram mudanças estruturantes que combatam as causas da pobreza e da desigualdade,
Gosto de trabalhar com os dados do IETS (http://www.iets.org.br/). Talvez eu tenha um vício de leitura. Mas gostaria que você também olhasse.
Um abraço
Desculpa, Bia, mas ando até aqui de trabalho e desse modo tenho lido o blogue, mas sem postar. E será assim até o final do mês, em razão de longas viajens de trabalho. Depois delas, prometo conhecer o sítio sugerido.
Abs
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