domingo, 16 de março de 2008

Fumacê caro

Segundo tese de doutorado, defendida na Fundação Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, o tabaco provoca um prejuízo anual ao sistema público de saúde brasileiro na ordem de R$ 338 milhões de reais/ano. Para o cálculo foram considerados apenas os gastos com hospitalizações e terapias quimioterápicas em pacientes com 35 anos ou mais, padecentes de doenças comprovadamente relacionadas ao hábito de fumar. O estudo, portanto, não considera a dimensão completa do problema, que incluiria os prejuízos aos fumantes passivos, a influência do hábito inter-gerações e as despesas previdenciárias. Detalhes no Estadão.

6 comentários:

Yúdice Andrade disse...

E convenhamos: quem realmente interessa nessa história são os fumantes passivos. Sei que soa egoísta de minha parte, ainda mais considerando que escrevo para um médico. Mas o fumante passivo não escolheu sofrer os efeitos tétricos do tabagismo.
Sejamos francos: se duas pessoas dão entrada simultaneamente num hospital, sendo uma o assaltante (baleado pela polícia) e outra o assaltado (baleado pelo ladrão), quem a equipe médica atende primeiro? Se for preciso escolher, quem terá prioridade?
Entre o atropelador embriagado e a criança vitimizada?
Creio que profissionais da saúde negarão, para consumo público, haver distinções. E respeito isso. Mas duvido que seja verdade. Então fechemos o pacote: na luta contra os males do tabagismo, primeiro os fumantes passivos, depois os fumantes ativos. Se houver tempo.

Itajaí disse...

Deu-me arrepios teu comentário. Em Medicina só é autorizado distinguir com base em critérios clínicos/cirúrgicos bem fundamentados, com o objetivo de priorizar o atendimento aos em risco de vida ou aos padecentes de sofrimento intenso, físico ou moral, sem descuidar que outros em melhores condições evoluam para a piora.
Nunca, jamais, o médico deve fundamentar seu ato a partir de julgamento moral sobre a conduta do paciente. A sociedade vedou-lhe esse atributo. Se existe quem pratica o ato profissional à luz de pressuposto discriminatório, penso que, mais que uma vilania, isso representa a mais vergonhosa falência das nossas instituições, sejam elas de ensino ou de regulação do exercício profissional.
Mas, voltando a realidade do post, o mesmo governo que financia o tipo de estudo comentado; que gasta todos esses milhões anuais no tratamento de doenças relacionadas ao fumo; que disciplina a propaganda de cigarros; que afirma constitucionalmente ser a saúde direito de todos e dever do Estado, é o mesmo que veta o aumento de alíquota tributária para o tabaco, conforme medida publicada hoje pelo Ministério da Fazenda... Assim caminha a humanidade.

Yúdice Andrade disse...

Caro amigo, já li mais de uma reportagem sobre as opções que os médicos fazem, especialmente em hospitais públicos superlotados, com parca infraestrutura. Os critérios que mencionei advêm dessas leituras. Tua manifestação era a que eu esperava, pois assim deveria ser. Mas não é.
Até me pergunto: vocês, médicos, conmversam entre si sobre tão delicada questão?

PS - Há vários anos se discute o aumento das alíquotas dos impostos incidentes sobre os fumígeros, sem êxito. Mas não se trata exatamente de omissão do governo ou, pelo menos, não somente ou precipuamente isso. É que o aumento dos preços ao consumidor conduziria a um incremento da venda ilegal e da comercialização das marcas mais ordinárias, ainda mais nocivas à saúde. Ou seja, seria um tiro no pé, provocando efeitos opostos aos pretendidos. Não sei se seria assim, mas compreendo a prudência do governo. Trata-se de uma decisão a ser muito bem refletida. Mas que já deu tempo para isso, também é verdade.

Itajaí disse...

Caro,
Muito do que a imprensa escreve é folclore. Pessoalmente, com 23 anos de formado, nunca ví nenhum colega agir desse modo, pois mesmo nas situações mais adversas sempre há uma saída que não é a da desmoralização profissional.
A questão da indústria fumegeira é de fato complexa. Adiciono às tuas razões o fato de que uma intervenção governamental mais profunda obrigaria a modificações na base produtiva de alguns estados, regiões e até de países. É, por esse modo, um assunto complexo, em que a melhor estratégia é atuar prevenir o vício, disponibilizar tratamento aos que queiram abandoná-lo e, na medida do possível, sobretaxar o produto, com rigoroso combate ao contrabando e mercado negro, e estabelecendo uma política de rearranjos na cadeia produtiva nas cidades ou regiões em que a população depende da economia do tabaco.
Requer , portanto, vontade política para enfrentar com política de estado o poderoso lobby da indústria mundial do tabaco.

Yúdice Andrade disse...

Espero em Deus, caro Oliver, que de fato a conduta dos profissionais médicos seja como dizes. Desculpa o excesso de desconfiança, mas tenho lá minhas razões. Inclusive não sou de dar muita credibilidade à imprensa. Mencionei aqui porque as ditas reportagens me pareceram plausíveis, na época. Abraços.

Itajaí disse...

Boa Páscoa!